Mirando bolha bolsonarista, Malafaia vai se queixar para Trump
Malafaia elege Trump como símbolo para blindar a direita bolsonarista em meio a investigações do STF.

Publicado em: 19/08/2025 às 17:40 | Atualizado em: 19/08/2025 às 17:47
A mais recente declaração do pastor Silas Malafaia expõe uma tentativa evidente da direita bolsonarista de transformar Donald Trump em um mito de legitimação internacional para seus próprios embates com as instituições brasileiras.
Ao comentar sua inclusão no inquérito do STF que investiga a atuação de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos da América (EUA), investigação que trata da trama golpista de 8 de janeiro, Malafaia afirmou que líderes religiosos próximos ao presidente americano já foram informados e que a notícia chegará ao próprio Trump.
O discurso de Malafaia não é apenas uma defesa pessoal, mas um movimento político calculado. Ao acionar o nome de Trump como referência de poder e influência, ele tenta internacionalizar um conflito que é estritamente brasileiro, deslocando para o campo da política dos EUA uma investigação que envolve ataques à democracia nacional.
O subtexto é claro: transformar Trump no “paladino” que pode blindar e respaldar o bolsonarismo, criando uma narrativa de perseguição compartilhada entre líderes da direita mundial.
Esse esforço simbólico vai além de simples solidariedade ideológica.
Malafaia ressalta que, para os americanos, um líder religioso é intocável, tentando impor no Brasil uma lógica cultural e jurídica que não encontra paralelo em um Estado laico e democrático.
Trata-se de uma estratégia discursiva para deslegitimar a ação do Supremo Tribunal Federal (STF) e reforçar a ideia de que a direita cristã sofre perseguição política.
A estratégia tem implicações graves.
Primeiro, porque exporta um conflito interno para a arena internacional, numa tentativa de pressionar instituições brasileiras com respaldo externo.
Segundo, porque busca dar a Trump — figura central de ataques à democracia nos EUA — o papel de aliado e símbolo de resistência do bolsonarismo.
No fundo, Malafaia e seus aliados tentam criar uma narrativa na qual Trump se torna a versão globalizada do “mito” Bolsonaro, um escudo retórico capaz de unir extremistas religiosos e políticos sob a bandeira da suposta perseguição.
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Essa movimentação, no entanto, revela mais fragilidade do que força: depende de um mito importado para sustentar a própria sobrevivência política.
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Foto: Isac Nóbrega/PR