Marcelo Ramos poupa mandato de colega acusado de receber propina

O deputado federal Marcelo Ramos (PL) entrou no foco da mídia nacional na madrugada desta quinta-feira, dia 6, após ter ajudado o plenário da Câmara dos Deputados a poupar o mandato do colega Wilson Santiago (PTB-PB).

O paraibano foi afastado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no fim do ano passado após denúncia de corrupção contra ele feita pela Procuradoria-Geral da República.

O deputado Wilson Santiago é um dos investigados da operação Pés de Barro, da Polícia Federal, sobre superfaturamento em obras da adutora Capivara, no interior da Paraíba, que envolveriam crimes de peculato, lavagem de dinheiro, fraude licitatória e formação de organização criminosa.

Segundo a Polícia Federal, as obras foram contratadas por R$ 24,8 milhões e teria havido distribuição de propinas no valor de R$ 1,2 milhão.

Na mesma operação, foi preso o prefeito de Uiraúna (PB), João Bosco Nonato Fernandes (PSDB).

Ontem, porém, o parlamentar amazonense entrou nesse história ao ter sido escalado pelo Centrão, bloco político liderado na Câmara dos Deputados pelo presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ao substituir o deputado Fábio Trad (PSD-MS) na relatoria do processo que analisou o afastamento e decidiu o caso ontem.

Isso aconteceu após uma reunião que durou cerca de cinco horas, relatam as publicações de política nesta quinta.

Trad pendia para aceitar a decisão do Supremo, mas o Centrão escalou Marcelo Ramos para operação de proteção a Wilson Santiago.

No plenário, com o parecer do parlamentar amazonense, o paraibano manteve o mandato com o voto de 233 colegas contra 170, que achavam que Wilson Santiago deveria se mantido afastado.

“Prerrogativas parlamentares são essenciais em qualquer democracia, não é algo que possa ser banalizado pelo Poder Judiciário”, disse Marcelo à imprensa ontem à noite, acrescentando:

“Trata-se de precedente perigoso, quando se sabe que os próprios ministros do Supremo, quando decidem monocraticamente, muitas vezes desrespeitam a jurisprudência firmada em seu próprio plenário”, comentou, justificando:

“Sou deputado de primeiro mandato, não troquei mais do que comentários de bom dia com o deputado Wilson Santiago, mas aprendi desde cedo que país não se sustenta quando coloca em risco as prerrogativas do seu Legislativo”.

Comissão de Ética

Embora tenha aliviado a situação do colega, Marcelo Ramos não deu o caso por encerrado.

Ele recomendou a instauração de um processo no Conselho de Ética para apurar “quebra de decoro diante dos fatos relatados no mérito da investigação”.

A mesa diretora da Câmara irá entrar com uma representação contra o deputado.

Pau pra toda obra

Pré-candidato à Presidência da Câmara, Marcelo Ramos tem sido pau pra toda obra nas missões dadas a ele pelo presidente Rodrigo Maia.

Ele, por exemplo, foi escalado para presidir as duas mais importantes comissões criadas no ano passado pela Câmara: a da reforma da Previdência e a que analisa prisão após segunda instância.

No caso da relatoria do processo de Wilson Santiago, Rodrigo pode ter dado a Marcelo a oportunidade de dizer que, caso seja eleito, protegerá seus pares.

Votos da bancada do AM

Apesar de ter convencido mais de 230 colegas do plenário a não afastar Wilson Santiago, o parecer de Marcelo, no entanto, não convenceu os parlamentares do Amazonas.

Dos cinco representantes do Estado presentes na sessão, apenas ele deu sim ao paraibano.

Bosco Saraiva (Solidariedade), Delegado Pablo (PSL), Capitão Alberto Neto (Republicanos) e José Ricardo (PT) votaram não.

Veja extrato de votação da Bancada do Amazonas:

Acesse o resultado completo.

Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados