Médicos avaliam riscos do isolamento proposto por Bolsonaro

Médicos infectologistas avaliam mensagem de Bolsonaro como inadequada para o quadro de gravidade do coronavírus

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Aguinaldo Rodrigues

Publicado em: 25/03/2020 às 16:19 | Atualizado em: 25/03/2020 às 16:22

O discurso do presidente Jair Bolsonaro, na noite dessa terça-feira (24), chocou não somente os políticos como também a categoria de médicos. A reportagem é do UOL.

Bolsonaro orientou que a população adote, a partir de agora, o “isolamento vertical”. De acordo com ele, esse isolamento significa deixar em casa apenas idosos e pessoas com saúde mais fragilizada.

Nesse grupo de risco estão quem tem comorbidades preexistentes e indivíduos infectados com outras doenças. Além disso, há os com sintomas causados pelo coronavírus fora das atividades de suas comunidades.  

O discurso impactou, além de boa parte da sociedade, médicos e entidades de saúde, já que as recomendações do presidente foram contrárias ao que os especialistas vêm dizendo há semanas.  

A SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), por exemplo, apontou que a pandemia é grave. Para ela, há preocupação com a fala de Bolsonaro. Ainda de acordo com a avaliação da SBI, as declarações podem dar a falsa impressão de que as medidas de contenção social são inadequadas. 

 

Médicos infectologistas

Em seu discurso, Bolsonaro defendeu a reabertura de escolas e comércios. No entanto, se as pessoas que circularem normalmente na sociedade morarem com indivíduos do grupo de risco, esses continuarão expostos aos riscos do coronavírus. 

“Os idosos brasileiros, por exemplo, muitas vezes moram com crianças e, geralmente, são cuidados por alguém mais jovem —nossa estrutura familiar é diferente da europeia. Existe o familiar que fornece alimentos, dá medicações. Essa pessoa pode ser o vetor”, explica Igor Marinho (foto), infectologista do Hospital das Clínicas da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo). 

 Marinho aponta outros erros na fala do presidente: “Ele chama a covid-19 de ‘gripezinha’ ou ‘resfriadinho‘, o que não são boas palavras para uma pandemia que já matou milhares. Além disso, ele afirma que o vírus terá menos potencial aqui por conta do clima tropical. Essa informação é falsa e já vemos países do hemisfério sul e locais como a Califórnia, estado americano com clima quente, registrando muitos óbitos”, indica. 

 

Economia 

Alexandre Naime Barbosa, infectologista e professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista), aponta que, apesar de ninguém saber qual será o futuro, —com ou sem isolamento rígido— cada aposta tem riscos potenciais.  

“Embora o isolamento social restrito traga consequências econômicas ruins, temos que lembrar que outros países que não o fizeram de forma adequada hoje têm cenários trágicos. Basta saber no que o Brasil quer apostar”, diz.  

Para Marinho, o lockdown, ou isolamento horizontal (no qual a recomendação é todos ficarem em casa), é necessário no momento atual. “Temos, sim, que ter uma preocupação com os empregos e o sustento das famílias, mas do ponto de vista científico e epidemiológico, a melhor opção é pedir para que o máximo possível de pessoas fique em casa. Estamos lidando com uma doença dinâmica e de potencial muito grave”, opinou. 

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Foto: Reprodução/Primeiro Jornal/Band