ExĂ©rcito ainda avalia se pune militares por insubordinaĂ§Ă£o em pĂºblico

O tema vem sendo tratado por oficiais-generais desde segunda-feira (28) e foi abordado na reuniĂ£o do Alto Comando do ExĂ©rcito nesta terça (29)

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Publicado em: 30/11/2022 Ă s 10:41 | Atualizado em: 30/11/2022 Ă s 10:41

Uma mobilizaĂ§Ă£o de alguns militares da ativa na coleta de assinaturas de uma carta apĂ³crifa com recados contra o Poder JudiciĂ¡rio e a favor dos atos antidemocrĂ¡ticos em quartĂ©is causou desconforto no Alto Comando do ExĂ©rcito, que discute possĂ­veis reações contra signatĂ¡rios do documento.

O tema vem sendo tratado por oficiais-generais desde segunda-feira (28) e foi abordado na reuniĂ£o do Alto Comando do ExĂ©rcito nesta terça (29).

A avaliaĂ§Ă£o da maioria do generalato, segundo relatos feitos Ă  Folha, Ă© que o documento apĂ³crifo, com a maioria das assinaturas de oficiais da reserva, nĂ£o representa de forma fidedigna o pensamento majoritĂ¡rio hoje na tropa.

Comandantes falam ainda em possĂ­vel abertura de processos administrativos por transgressĂ£o disciplinar contra militares da ativa que assinarem o texto.

O texto apĂ³crifo passou a circular em grupos de WhatsApp na segunda. CoronĂ©is consultados pela Folha contam ter sido abordados por colegas de farda para pedir apoio Ă  carta.

A Folha teve acesso ao texto que circula em grupos de WhatsApp e Ă© intitulado “carta dos oficiais da ativa ao Comando do ExĂ©rcito”. Ele tem recebido assinaturas virtuais, inclusive de civis, e nĂ£o Ă© possĂ­vel saber quantos militares da ativa de fato o endossaram.

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Na carta, o autor anĂ´nimo diz que os militares da ativa subscritos prezam pela “legalidade, liberdade e transparĂªncia” e — num recado ao JudiciĂ¡rio — afirma que nenhum Poder pode se colocar “acima da lei e da ordem democrĂ¡tica”.

O documento ainda Ă© entendido como uma provocaĂ§Ă£o aos generais do Alto Comando do ExĂ©rcito, alvo de crĂ­ticas de bolsonaristas, por dizer que os soldados colocam os objetivos nacionais em primeiro lugar, “desprezando quaisquer interesses pessoais”.

A Folha questionou o ExĂ©rcito se serĂ£o tomadas medidas contra os militares da ativa que subscrevem a carta, mas ainda nĂ£o recebeu resposta.

A movimentaĂ§Ă£o de coleta de assinaturas entre os militares da ativa se iniciou apĂ³s oficiais da reserva divulgarem, no fim de semana, uma carta aberta aos comandantes das Forças Armadas dizendo que hĂ¡ desconfiança com o resultado das eleições.

“É natural e justificĂ¡vel que o povo brasileiro esteja se sentindo indefeso, intimidado, de mĂ£os atadas e busque nas FFAA [Forças Armadas], os ‘reais guardiões’ de nossa ConstituiĂ§Ă£o, o amparo para suas preocupações e soluĂ§Ă£o para suas angĂºstias”, diz trecho.

O texto ainda pede que os comandantes apoiem ações para o “imediato restabelecimento da lei e da ordem, preservando qualquer cidadĂ£o brasileiro a liberdade individual de expressar ideias e opiniões”.

As movimentações ocorrem enquanto os 16 generais do Alto Comando do ExĂ©rcito se reĂºnem, em BrasĂ­lia, para discutir assuntos administrativos. O encontro jĂ¡ estava previsto na agenda e ocorre periodicamente.

A expectativa de generais ouvidos pela Folha Ă© que sejam levantados temas relacionados Ă s manifestações antidemocrĂ¡ticas nos quartĂ©is, Ă  movimentaĂ§Ă£o dos oficiais da ativa e Ă  possĂ­vel antecipaĂ§Ă£o da passagem de comando do ExĂ©rcito.

A reuniĂ£o começou na manhĂ£ desta terça e deve se encerrar na noite de quarta (30).

A Ă¡rea da Defesa Ă© considerada pelo governo eleito como uma das mais sensĂ­veis. A situaĂ§Ă£o Ă© agravada pelas manifestações antidemocrĂ¡ticas em frente a quartĂ©is e por recentes manifestações de oficiais simpatizando com o movimento.

Diante disso, o presidente eleito Luiz InĂ¡cio Lula da Silva (PT) decidiu antecipar a transiĂ§Ă£o. Ele deve anunciar na prĂ³xima semana quem serĂ¡ seu ministro da Defesa e os novos comandantes das trĂªs Forças.

O ex-presidente do TCU (Tribunal de Contas da UniĂ£o) JosĂ© MĂºcio Monteiro Ă© o principal cotado para o comando do MinistĂ©rio da Defesa.

Leia mais na matéria Cézar Feitoza no portal da Folha de S.Paulo

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