Moro diz que governo quer coletar DNA de presos por crimes violentos

Mariane Veiga
Publicado em: 05/12/2019 ร s 17:00 | Atualizado em: 05/12/2019 ร s 17:00
O Ministรฉrio da Justiรงa e Seguranรงa Pรบblica, Sergio Moro, espera que, atรฉ o fim de 2022, todos os criminosos que hoje cumprem pena por delitos violentos tenham seu material genรฉtico coletado e incluรญdo no Banco Nacional de Perfis Genรฉticos.
A medida serve para permitir a identificaรงรฃo de egressos do sistema carcerรกrio que voltem a infringir a lei e, assim, agilizar o esclarecimento de crimes.
A meta para este ano era coletar, classificar e armazenar o material genรฉtico de 65 mil detentos condenados em 2019 pela prรกtica de crimes violentos. Segundo o ministรฉrio, este objetivo foi superado, com o recolhimento de material biolรณgico de 67 mil presos. No inรญcio do ano, este nรบmero nรฃo passava de 7 mil.
โNรณs intensificamos a coleta do material genรฉtico da populaรงรฃo carcerรกria. A meta que tรญnhamos estabelecido jรก foi ultrapassada. Agora, a ideia รฉ intensificar esta polรญtica pรบblica a partir do prรณximo ano e que, antes mesmo do fim do governo [em 2022], cheguemos com um Banco Nacional de Perfis Genรฉticos completoโ, disse o ministro a jornalistas, logo apรณs participar de reuniรฃo do Comitรช Gestor da Rede Integrada de Bancos de Perfis Genรฉticos.
Segundo o coordenador da Rede, Guilherme Silveira Jacques, da Secretaria Nacional de Seguranรงa Pรบblica (Senasp), o resultado se deve aos esforรงos conjuntos do ministรฉrio e dos governos estaduais. Empenho que permitiu que o nรบmero de perfis genรฉticos cadastrados atingisse 55 mil – um acrรฉscimo de 685% em comparaรงรฃo com o relatรณrio divulgado em novembro de 2018. O nรบmero, no entanto, representa menos de 7% dos cerca de 812 mil presos que cumprem pena em todo o paรญs, pelos mais variados tipos de crimes.
Previsรฃo legal
Desde 2012, quando foi aprovada a Lei 12.654, hรก previsรฃo legal para a identificaรงรฃo genรฉtica por meio da coleta de material biolรณgica de condenados por crimes violentos, tais como homicรญdios e estupros. A ampliaรงรฃo do rol de delitos cujos sentenciados poderiam ter o DNA identificado foi uma das propostas que o Ministรฉrio da Justiรงa e Seguranรงa Pรบblica incluiu no projeto anticrime (PL 10372/18) e um dos pontos que a Cรขmara dos Deputados vetou no texto aprovado ontem, com 408 votos favorรกveis, nove contrรกrios e duas abstenรงรตes. O projeto de lei segue agora para anรกlise do Senado, onde o ministro Sergio Moro acredita que parte das propostas defendidas pelo governo federal podem ser reincluรญdas.
โO governo acredita nesta polรญtica pรบblica e entende que ela รฉ extremamente relevanteโ, declarou Moro, explicando que, dentre os vestรญgios biolรณgicos encontrados em cenas de crimes que podem ser comparados com o material previamente armazenado no Banco Nacional de Perfis Genรฉticos estรฃo o sangue, sรชmen, fios de cabelos. Moro garantiu que โninguรฉm vai para um moedor de carneโ a fim de ter o material coletado. โBasta passar um cotonete na boca para recolher a saliva de onde serรฃo extraรญdas as cรฉlulas contendo o material genรฉtico. ร algo como uma moderna impressรฃo digitalโ.
O banco nacional integra as informaรงรตes disponibilizadas pelos estados. Hoje, todas unidades da federaรงรฃo estรฃo integradas ร rede. De acordo com Jacques, o ministรฉrio investiu R$ 6 milhรตes em equipamentos, insumos, aรงรตes de capacitaรงรฃo e desenvolvimento de sistemas para permitir que os รบltimos quatro estados (Piauรญ, Roraima, Sergipe e Tocantins) instalassem seus laboratรณrios de genรฉtica forense, de forma a integrรก-los ร rede nacional. Cada laboratรณrio estadual รฉ responsรกvel por coletar as amostras de material biolรณgico dos condenados nas penitenciรกrias, analisar os perfis genรฉticos, processar as informaรงรตes e incluir o material nos bancos de dados.
โO investimento total do Ministรฉrio da Justiรงa, este ano, foi de R$ 35 milhรตes. Nรฃo sรณ para atingirmos os resultados que alcanรงamos, mas para permitir que as aรงรตes sejam intensificadas a partir do prรณximo ano, quando esperamos avanรงar para reduzir o passivo de vestรญgios armazenados em todo o paรญsโ, afirmou Jacques, revelando que, para 2020, a estimativa da Secretaria Nacional de Seguranรงa Pรบblica รฉ destinar entre R$ 40 milhรตes e R$ 70 milhรตes da polรญtica para o “projeto de fortalecimento do Banco Nacional de Perfis Genรฉticos”.
โO montante final estรก dependendo da aprovaรงรฃo do Congresso. O escopo dos investimentos vai ser ampliado. Nรฃo serรก focado apenas nos laboratรณrios, mas tambรฉm na melhoria dos processos. Principalmente em relaรงรฃo ร preservaรงรฃo e perรญcia dos locais de crimes. Para o Banco de Dados ser eficiente, o processo todo tem que ser eficiente. Desde a coleta [de provas e vestรญgios genรฉticos] atรฉ a [comparaรงรฃo] no Banco Nacionalโ, disse Jacques, acrescentando que hรก, hoje, “um grande nรบmero de vestรญgios coletados em locais de crimes ou nos corpos de vรญtimas que nรฃo foi processado”.
“Estas amostras estรฃo guardadas em geladeiras, em freezers de todo o paรญs sem processamento. Uma parte significativa destas amostras estรฃo relacionadas ร violรชncia sexual. Estimamos em torno de 150 mil amostras relacionadas a violรชncia sexuais, coletadas de vรญtimas que se submeteram ao exame mรฉdico legal e cujos vestรญgios nรฃo foram analisados. Seja por falta de recursos financeiros, por falta de pessoal ou porque o banco de material genรฉtico nรฃo estava bem desenvolvido”, acrescentou.
Mais de mil investigaรงรตes criminais jรก recorreram ao material genรฉtico de criminosos armazenados no banco nacional.
Para o ministro Sergio Moro, quanto mais perfis estiverem geneticamente identificados, mais crimes serรฃo solucionados em menor tempo. โPrecisamos vencer as resistรชncias por ignorรขncia em relaรงรฃo a esta polรญtica pรบblica. Hรก quem ache que a coleta de material genรฉtico representa uma violaรงรฃo da privacidade. Nรฃo รฉ. Ninguรฉm quer investigar fenรณtipos ou DNA de criminososโ, garantiu o ministro.
Fonte: Agรชncia Brasil
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