A decisão do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), de não incluir seu vice, Ricardo Mello Araújo (PL), em cargos estratégicos do secretariado do segundo mandato, revela tensões políticas e frustra expectativas que vinham sendo construídas desde a campanha eleitoral de 2024. Essa escolha rompe uma tradição política consolidada na capital paulista, em que vice-prefeitos geralmente assumem pastas de destaque, e lança luz sobre as complexas relações entre o prefeito reeleito e o bolsonarismo.
Tradição rompida
Desde os anos 1980, é comum que vice-prefeitos em São Paulo ocupem posições de relevância no secretariado.
A ausência de Mello Araújo, no entanto, marca uma exceção notável. Cotado inicialmente para a Secretaria de Projetos Estratégicos e, em seguida, para Transportes, o vice foi preterido, com as pastas sendo destinadas a aliados do PP e do governador Tarcísio de Freitas.
Durante a campanha, Jair Bolsonaro, padrinho político de Mello Araújo, assegurou que o aliado teria protagonismo na gestão, o que torna a exclusão ainda mais simbólica.
Conflitos e tensões na base aliada
A aliança entre Nunes e o bolsonarismo foi marcada por desconfianças desde o início.
Durante o primeiro turno, o avanço de Pablo Marçal (PRTB) nas pesquisas mostrou que o apoio bolsonarista não era automático.
Apesar de ser exaltado por Nunes após a vitória, Mello Araújo não encontrou espaço no núcleo duro do governo.
Essa situação evidencia que, apesar dos elogios à atuação do coronel na Ceagesp e na Polícia Militar, o protagonismo político prometido ficou aquém das expectativas.
Impacto no governo
Sem um cargo formal no secretariado, Mello Araújo ficará responsável por questões estratégicas gerais e pela representação da prefeitura em temas delicados, como o grupo de trabalho voltado à Cracolândia. Embora Nunes tenha minimizado a relevância da nomeação em secretarias, a ausência de atribuições concretas para o vice enfraquece sua posição política e pode criar ruídos com o PL, que já controla duas secretarias importantes: Verde e Meio Ambiente, com Rodrigo Asiuchi, e Desestatização e Parcerias, com Luiz Fernando Machado.
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Desdobramentos futuros
A exclusão de Mello Araújo do secretariado é um movimento arriscado para Ricardo Nunes.
Apesar de ter consolidado alianças com outras forças políticas, como PP e Republicanos, o afastamento do bolsonarismo pode gerar instabilidade em um contexto de governabilidade na maior cidade do país. A decisão também lança dúvidas sobre a capacidade do prefeito de equilibrar interesses divergentes dentro de sua base aliada.
A trajetória política de Ricardo Nunes tem sido marcada por pragmatismo, mas a exclusão de Mello Araújo pode se tornar um teste importante para sua habilidade de gerenciar conflitos internos e garantir a estabilidade necessária para conduzir um segundo mandato bem-sucedido.
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Foto: divulgação/Carla Fiamini