Onde culto é essencial, covid mata 16 pastores da Assembleia de Deus
Governador do estado sancionou lei que considera atividade religiosa como essencial

Ednilson Maciel
Publicado em: 07/04/2021 às 12:22 | Atualizado em: 07/04/2021 às 12:22
Ao menos dezesseis pastores da igreja evangélica Assembleia de Deus (AD) morreram de covid-19 no estado do Mato Grosso, desde o início da pandemia. Lá, o governo considera que o culto com participação pessoas é essencial.
A AD é a maior igreja pentecostal no Mato Grosso, com cerca de 500 mil fiéis e 3 mil pastores e evangelistas, e não divulga números oficiais de mortes no estado nem em âmbito nacional. A informação é do Ihu.unisinos.
Desse modo, no último dia 31 de março, foi publicada em Diário Oficial a Lei 11.330/2021, definindo atividades religiosas como “atividade essencial a ser mantida em tempos de crises oriundas de moléstias contagiosas ou catástrofes naturais.”
Por isso, a lei foi sancionada pelo governador do Mato Grosso, Mauro Mendes (Democratas), eleito na onda bolsonarista.
Além do mais, a mesma lei estabelece que as igrejas devem se adequar às recomendações sanitárias da Secretaria de Estado de Saúde.
Nenhum decreto
Mesmo no auge da pandemia, não foi publicado nenhum decreto estadual suspendendo as atividades religiosas presenciais no estado.
O governo limitou apenas a capacidade máxima e os horários de funcionamento permitidos, com orientações sobre uso de máscaras, ventilação e álcool em gel.
Todo rito litúrgico pode ser feito de forma remota ou virtual, segundo pastores ouvidos recentemente pelo Brasil de Fato.
Uma das fontes ouvidas para aquela reportagem, o pastor batista Brian Kibuuka, de Feira de Santana (BA), afirma que “muitas igrejas escondem” casos e mortes por covid para reforçar o argumento de que devem continuar funcionando mesmo na pandemia.
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Porta-voz do negacionismo
Segundo a reportagem, o nome mais comumente associado à Assembleia de Deus no Brasil é Silas Malafaia, líder do ministério Assembleia de Deus Vitória em Cristo e desfiliado da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil desde 2010.
Apoiador do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Malafaia costuma publicar vídeos em seu canal no Youtube pressionando governos contra restrições ao funcionamento de templos religiosos na pandemia.
Como resultado, Malafaia chamou de “bobalhão” o prefeito de Belo Horizonte (MG), Alexandre Kalil, que se recusou a cumprir a decisão de Nunes Marques.
O líder do ministério Assembleia de Deus Vitória em Cristo perdeu ao menos um familiar para a covid-19: o bispo Daniel Malafaia, seu primo, em dezembro de 2020.
Silas Malafaia contraiu covid-19 em março, sem sintomas graves. Ao anunciar o teste positivo, na ocasião, ele disse não ser “negacionista” dos riscos da covid.
Foto: Divlugação/Carolina Antunes/PR