Operação do Ibama em garimpo vaza e ministério atuou contra
A operação na terra indígena (TI) Munduruku foi prejudicada por um vazamento de informações, que exigiu redirecionamento da ação de fiscalização

Diamantino Junior
Publicado em: 27/08/2020 às 08:29 | Atualizado em: 27/08/2020 às 08:32
A operação do Grupo Especializado de Fiscalização (GEF) do Ibama contra garimpo ilegal vazou e foi atrapalhada pelo Ministério da Defesa.
A primeira ação do grupo ocorreu em agosto de 2020 – de um total de oito planejadas para o ano.
Ocorreu em Jacareacanga, uma vila de garimpeiros e indígenas no sudoeste do Pará considerada “área vermelha” de exploração ilegal de ouro.
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A operação na terra indígena (TI) Munduruku foi prejudicada por um vazamento de informações, que exigiu redirecionamento da ação de fiscalização.
Ministério teria vazado
A suspeita é de que o vazamento pode ter partido do Ministério do Meio Ambiente (MMA), que não tem a mesma cultura de sigilo do Ibama e que pode ter disponibilizado informações privilegiadas a garimpeiros da região.
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, segue a mesma linha de Jair Bolsonaro na defesa da exploração mineral em terras indígenas.
Pressionado pela comunidade internacional, ele acompanhou a operação deste mês, o que não o impediu de, depois de sobrevoar áreas de garimpo ilegal, se reunir com lideranças garimpeiras e defender que a exploração seja legalizada.
Defesa interferiu
Outro fator que interferiu na operação e chamou a atenção de agentes ambientais foi a interferência do Ministério da Defesa, que ordenou a suspensão da operação Verde Brasil 2 na tentativa de impedir o prosseguimento da ação do GEF.
A ordem veio em reação a protestos locais de garimpeiros.
A Verde Brasil visa combater ilícitos ambientais na Amazônia Legal com o emprego das Forças Armadas em Garantida da Lei e da Ordem (GLO).
No entanto, as operações do grupo do Ibama não transcorrem no âmbito da GLO e são independentes.
Como a pasta não possui gerência sobre a ação fiscalizatória do Ibama, a Defesa buscou dar efetividade à decisão apreendendo aeronaves do órgão ambiental.
As aeronaves ficaram retidas administrativamente por dois dias, o que impediu o prosseguimento da ação na região.
A Defesa teria agido, inclusive, sem a ciência do MMA. Procurada para comentar, a pasta não se pronunciou.
Entenda a operação
As operações do GEF costumam ser deflagradas com sigilo, dado que é preciso garantir o efeito surpresa no ataque e preservar a segurança dos agentes.
Caso tenham ciência prévia, as vilas de garimpeiros escondem o maquinário para impedir sua apreensão e autuação.
Informações sobre a ação circularam em grupos de WhatsApp e blogs da região.
O blog Rastilho de Pólvora, por exemplo, divulgou na terça-feira (04) que a operação seria deflagrada dentro de três dias.
A divulgação repercutiu nas frentes de exploração mineral ilegal do interior da TI Munduruku, que resultou em imediata interrupção das atividades garimpeiras e ocultação dos maquinários pesados.
Um sobrevoo precursor de drone confirmou que as máquinas usadas para garimpo na TI foram escondidas.
O fato exigiu que a operação fosse redirecionada para uma área secundária, Sai Cinza, fronteira de Munduruku.
Para os agentes, é fundamental a neutralização dos maquinários para cessar o dano ambiental e ocasionar prejuízo financeiro aos garimpeiros.
Salles, que acompanhava a operação, pousou no aeroporto de Jacareacanga, onde defendeu que o índio explore a terra e insuflou garimpeiros locais.
Com os ânimos exaltados, uma ordem do Ministério da Defesa suspendeu a Operação Verde Brasil 2 na região da terra indígena Munduruku para uma “reavaliação”, segundo justificativa da pasta.
A ordem foi dada pelo major-brigadeiro do Ar, Arnaldo Augusto do Amaral Neto.
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Foto: Reprodução/WhatsApp