Pesquisa aponta que 65% do paĂs desconfia dos militares
Uma pesquisa recente do Datafolha mostrou que a confiança nas Forças Armadas atingiu seu menor nĂvel desde 2017.

Publicado em: 15/09/2023 Ă s 20:23 | Atualizado em: 15/09/2023 Ă s 20:25
Uma pesquisa recente do Datafolha, divulgada pelo jornal “Folha de S.Paulo” nesta sexta-feira (15/9), revela que a confiança nas Forças Armadas atingiu seu nĂvel mais baixo desde 2017, quando a sĂ©rie histĂ³rica do instituto começou.
Os resultados sĂ£o os seguintes:
Apenas 34% dos entrevistados tĂªm muita confiança nas Forças Armadas.
44% confiam pouco nas Forças Armadas.
21% nĂ£o confiam nas Forças Armadas.
1% nĂ£o souberam responder.
A pesquisa, realizada em 139 cidades brasileiras na terça (12/9) e quarta-feira (13/9), ouviu 2.016 eleitores e possui uma margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou menos.
Em abril de 2019, no inĂcio do governo de Jair Bolsonaro (PL), o Ăndice daqueles que confiavam muito nas Forças Armadas era de 45%. Em 2017, esse nĂºmero estava em 40%.
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Apesar dessa queda, as Forças Armadas continuam sendo a instituiĂ§Ă£o em que a populaĂ§Ă£o mais confia, em comparaĂ§Ă£o a outras dez instituições pesquisadas, que incluem a PresidĂªncia da RepĂºblica, o STF, o Congresso Nacional, partidos polĂticos, imprensa, grandes empresas brasileiras, juĂzes e desembargadores, MinistĂ©rio PĂºblico e redes sociais.
Outros problemas graves
Um conjunto de casos isolados reunidos pela Folha mostra como as Forças Armadas tratam, nos Ăºltimos anos, uma sequĂªncia de acusações de assĂ©dio e importunaĂ§Ă£o sexual dentro das unidades espalhadas pelo paĂs, envolvendo praças e oficiais.
Aumento das denĂºncias
Dados do STM (Superior Tribunal Militar) mostram que 56 ações penais sobre o tema foram abertas a partir de 2018. Desde o ano passado foram 29 denĂºncias, o equivalente a 3 a cada 2 meses. Ficam de fora desta contagem investigações ainda em curso nas unidades militares ou episĂ³dios mantidos em segredo pelas vĂtimas.
Militares mulheres sĂ£o as principais vĂtimas
Em sua maioria, trata-se de militares mulheres vĂtimas de constrangimento e desrespeito em batalhões por colegas da caserna. Elas relatam desde cantadas inadequadas e carinhos nĂ£o autorizados atĂ© ataques fĂsicos diretos em ambientes fechados, sem testemunhas.
Falhas e revitimizaĂ§Ă£o
A Folha teve acesso a informações sobre 44 desses processos, que mostram o impacto psicolĂ³gico nas vĂtimas que prestam serviços para as Forças Armadas.
Apontam tambĂ©m para falhas e revitimizaĂ§Ă£o ao longo das investigações internas, por meio de perguntas sobre o comportamento da denunciante em vez da apuraĂ§Ă£o dos fatos relatados.
Punições sistemĂ¡ticas apĂ³s relatar assĂ©dio
Uma das denunciantes foi Tamires (nome fictĂcio), sargento temporĂ¡ria de um depĂ³sito do ExĂ©rcito. Ela relatou ter sido atacada por trĂªs vezes pelo tenente FĂ¡bio de Andrade Fontes em 2016 e 2017. Tamires conta que o medo imposto pela rĂgida hierarquia militar e o ambiente machista da caserna fizeram com que ela nĂ£o denunciasse os assĂ©dios de imediato.
Falta de punições adequadas
ApĂ³s dois anos de processo, o militar foi condenado a um ano e meio de detenĂ§Ă£o graças Ă s mensagens usadas como prova, nas quais cobrava que a sargento o beijasse. No curso da investigaĂ§Ă£o, ele recebeu uma medalha do ExĂ©rcito. Para Tamires, a sentença da Justiça Militar nĂ£o foi suficiente, e ela relata o impacto na sua vida pessoal.
Aumento das denĂºncias
A procuradora Najla Nassif Palma, ouvidora da Mulher do MinistĂ©rio PĂºblico Militar, afirma que o aumento das denĂºncias se deve Ă conscientizaĂ§Ă£o das mulheres da caserna e mais confiança na seriedade da apuraĂ§Ă£o. Ela tem sido convidada a falar em unidades militares sobre o tema.
Forças Armadas nĂ£o informam punições
ExĂ©rcito, Marinha e AeronĂ¡utica, cujos efetivos ultrapassam 360 mil militares, afirmaram em notas repudiar a prĂ¡tica de assĂ©dio e disseram apurar qualquer conduta criminosa reportada.
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Foto: Lula Marques/AgĂªncia Brasil