A maioria da população é contrária à participação de militares da ativa em manifestações políticas e em cargos no governo federal, afirma pesquisa Datafolha. O tema é foco de inúmeras crises da gestão Jair Bolsonaro.
Segundo a pesquisa Datafolha, 62% dos brasileiros adultos acham que os fardados não devem ir a esse tipo de ato, como fez o general da ativa Eduardo Pazuello no dia 23 de maio no Rio de Janeiro, quando subiu em palanque com o presidente.
Para 39%, a atitude é aceitável, e 4% não souberam opinar. Segundo o Estatuto dos Militares, lei de 1980, e o regulamento disciplinar do Exército, de 2002, é vedado a fardados do serviço ativo qualquer tipo de manifestação política ou reivindicatória.
Pazuello, contudo, não foi punido. Ex-ministro da Saúde cuja gestão está sendo esmiuçada pela CPI da Covid, o general agora tem um cargo no Palácio do Planalto.
Bolsonaro sempre o prestigiou, e defendeu publicamente que ele não teria cometido irregularidade porque estava apenas apoiando a pessoa física do presidente.
Nos bastidores, o presidente deixou claro para o Comando do Exército que queria preservar Pazuello de punições, que iriam de uma advertência verbal a até 30 dias de prisão administrativa. O episódio até agora repercute mal internamente na Força.
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De forma previsível, as pessoas que declaram voto em Bolsonaro para a reeleição em 2022 são as que mais apoiam a ilegalidade: nos dois cenários de pleito simulados pelo Datafolha, os índices de aprovação à ideia são de 56% e 57%,
Na mão contrária, os que querem a volta de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Planalto são mais contrários: 71% e 72% acham que a lei deve ser cumprida. Nos dois cenários, o presidente tem 25% das intenções de voto e o petista, 46%.
No público em geral, a pesquisa mostra que os jovens (46%) e aqueles que ganham de 5 a 10 salários mínimos (41%) são mais entusiastas dos fardados em atos políticos.
O episódio Pazuello é um dos diversos pontos de atrito causados pelo renovado protagonismo dos militares desde que Bolsonaro, capitão reformado do Exército, surpreendeu o mundo político e venceu o segundo turno de 2018.
Como é explicitado no livro-depoimento do então comandante da Força, Eduardo Villas-Bôas, o estamento militar abraçou aos poucos a candidatura de Bolsonaro, um militar indisciplinado que “foi saído” da Força, ou seja, sem expulsão formal, após responder um controverso processo interno.
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Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil