Caso venezuelana: promotor nega federalizar crime no Amazonas

Promotor Gabriel Nascimento recusa reclassificaรงรฃo do assassinato de Julieta Hernรกndez como feminicรญdio, segundo a colunista Mรดnica Bergamo.

Diamantino Junior

Publicado em: 06/08/2024 ร s 19:50 | Atualizado em: 06/08/2024 ร s 19:51

Segundo a jornalista e colunista Mรดnica Bergamo, da Folha de S. Paulo, o promotor de Justiรงa, Gabriel Salvino Chagas do Nascimento, recusou o pedido da famรญlia da artista venezuelana Julieta Hernรกndez para reclassificar o crime de latrocรญnio para feminicรญdio. Julieta foi assassinada em Presidente Figueiredo (AM) no ano passado. O caso foi reassumido por Nascimento apรณs a antiga promotora, Fรกbia Melo Barbosa de Oliveira, se declarar suspeita por “motivo de foro รญntimo”.

Julieta Hernรกndez, que viajava de bicicleta pelo Brasil, foi morta no municรญpio localizado a 117 km de Manaus. Em janeiro, o Ministรฉrio Pรบblico do Amazonas denunciou o casal Thiago Angles da Silva e Deliomara dos Anjos Santos pelos crimes de latrocรญnio (roubo seguido de morte), estupro e ocultaรงรฃo de cadรกver, apรณs confissรฃo dos mesmos.

No mรชs passado, a Uniรฃo Brasileira de Mulheres (UBM) e a irmรฃ de Julieta, Sophia Hernรกndez, viajaram ao estado para uma sรฉrie de reuniรตes com autoridades e representantes do Judiciรกrio, encabeรงando uma campanha para mudar a tipificaรงรฃo dos crimes. No entanto, a tese foi rejeitada.

Argumentos do promotor

Em seu parecer, obtido pela coluna de Mรดnica Bergamo, o promotor Nascimento afirmou que “nรฃo hรก qualquer prejuรญzo em seguir o feito conforme a denรบncia ofertada”. Ele ressaltou que “nรฃo se trata do momento apropriado para se discutir teses jurรญdicas em abstrato, eis que sรฃo questรตes de mรฉrito”.

Reaรงรฃo da famรญlia e de entidades

Os familiares de Julieta criticaram a decisรฃo. Sophia Hernรกndez, irmรฃ da artista, afirmou ร  coluna: “A visรฃo patriarcal no caso da minha irmรฃ em Presidente Figueiredo รฉ um ataque perigoso nรฃo sรณ contra minha irmรฃ, contra mim e minha mรฃe, mas tambรฉm contra todas as mulheres”. A famรญlia destacou que Julieta foi estuprada, queimada viva e enterrada, elementos de crueldade que, segundo eles, afastam a tipificaรงรฃo de latrocรญnio por demonstrarem que os acusados tinham intenรงรตes alรฉm do “simples” roubo.

Os advogados Carlos Nicodemos e Maria Fernanda Fernandes, que representam a irmรฃ e a mรฃe de Julieta, apoiam a reclassificaรงรฃo do crime como feminicรญdio. Vanja Andrรฉa Santos, presidente da UBM, afirmou que “a tipificaรงรฃo do crime como feminicรญdio รฉ fundamental para que possamos mapear a situaรงรฃo das mulheres no Brasil”.

Apoio do Ministรฉrio das Mulheres

Em junho, o Ministรฉrio das Mulheres divulgou uma nota em apoio ร  campanha que pede a reclassificaรงรฃo do processo como feminicรญdio. “A violรชncia contra Julieta Hernรกndez apresenta caracterรญsticas de um crime misรณgino e xenรณfobo, de รณdio ร  artista circense como mulher e como migrante”, diz o texto.

Leia mais

Governo pede que caso Julieta Hernรกndez seja aceito como feminicรญdio

A decisรฃo de Gabriel Salvino Chagas do Nascimento mantรฉm o caso sob a acusaรงรฃo de latrocรญnio, estupro e ocultaรงรฃo de cadรกver, mas a famรญlia e entidades de apoio aos direitos das mulheres continuam a lutar pela reclassificaรงรฃo do crime, buscando justiรงa para Julieta Hernรกndez.

Foto: Arquivo Pessoal