Religiosos que atuam na AmazĂ´nia sĂ£o tratados como ‘inimigos da pĂ¡tria’

Publicado em: 31/08/2019 Ă s 14:08 | Atualizado em: 31/08/2019 Ă s 14:08
Bispos, padres e religiosos da Igreja CatĂ³lica na AmazĂ´nia divulgaram uma carta, na sexta-feira (30), na qual afirmam que lideranças religiosas estĂ£o sendo criminalizadas e tratadas como “inimigos da pĂ¡tria” por defenderem a AmazĂ´nia.
Na carta, que foi publicada apĂ³s um encontro realizado em BelĂ©m para o estudo do documento de trabalho do SĂnodo para a AmazĂ´nia, os religiosos tambĂ©m cobram “medidas urgentes” dos governos no combate aos crimes ambientais e Ă s queimadas.
O documento reacende um mal-estar entre a Igreja CatĂ³lica e o governo Jair Bolsonaro que surgiu apĂ³s o SĂnodo para a AmazĂ´nia ser criticado por integrantes da administraĂ§Ă£o federal –eles questionaram a intenĂ§Ă£o das missões religiosas no Brasil.
Na carta, os religiosos relembram o histĂ³rico da Igreja na regiĂ£o amazĂ´nica e lamentam o tratamento que seus lĂderes vĂªm recebendo.
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“A Igreja CatĂ³lica desde o sĂ©culo 17 estĂ¡ presente na AmazĂ´nia preocupando-se com a evangelizaĂ§Ă£o e a promoĂ§Ă£o humana ao mesmo tempo. Quantas escolas, hospitais, oficinas, obras sociais se construĂram e foram mantidas durante sĂ©culos em todos os rincões da AmazĂ´nia. Vilas e cidades se edificaram a partir das ‘missões’ da nossa Igreja”, afirma o texto.
“Quanto sangue, suor e lĂ¡grimas foram derramados na defesa dos direitos humanos e da dignidade, especialmente dos mais pobres e excluĂdos da sociedade, dos povos originĂ¡rios e do meio ambiente tĂ£o ameaçados. Lamentamos imensamente que hoje, em vez de serem apoiadas e incentivadas, nossas lideranças sĂ£o criminalizadas como inimigos da pĂ¡tria.”
Em outro trecho da carta, eles dizem defender “de forma intransigente” a AmazĂ´nia e cobram medidas urgentes para conter o desmatamento, pesca predatĂ³ria, invasĂ£o de terras indĂgenas por madeireiros, garimpeiros e mineradoras e as queimadas, que vĂªm provocando uma crise internacional.
Os religiosos ainda abordaram outro tema polĂªmico para o governo federal: o envolvimento de instituições e governos estrangeiros em projetos realizados no Brasil, atĂ© agora rejeitado por Bolsonaro.
“Defendemos vigorosamente a AmazĂ´nia, que abrange quase 60% do nosso Brasil. A soberania brasileira sobre essa parte da AmazĂ´nia Ă© para nĂ³s inquestionĂ¡vel. Entendemos, no entanto, e apoiamos a preocupaĂ§Ă£o do mundo inteiro a respeito deste macrobioma que desempenha uma importantĂssima funĂ§Ă£o reguladora do clima planetĂ¡rio”, afirma a carta.
“Todas as nações sĂ£o chamadas a colaborar com os paĂses amazĂ´nicos e com as organizações locais que se empenham na preservaĂ§Ă£o da AmazĂ´nia, porque desta macrorregiĂ£o depende a sobrevivĂªncia dos povos e do ecossistema em outras partes do Brasil e do continente”, diz o documento, cuja conclusĂ£o sugere que o sĂnodo chega a um “momento crucial da histĂ³ria”.
Convocado pelo papa Francisco, o SĂnodo para a AmazĂ´nia acontece em Roma, de 6 a 27 de outubro.
De acordo com a Rede Eclesial Pan AmazĂ´nica, o sĂnodo Ă© uma reuniĂ£o do episcopado da Igreja CatĂ³lica com o papa, em que sĂ£o discutidos assuntos especĂficos e prĂ©-determinados, que auxiliarĂ£o na governança da instituiĂ§Ă£o.
Fonte: Folhapress
Foto: reproduĂ§Ă£o pĂ¡gina da CNBB