STF dĂ¡ prazo a Congresso e MEC para explicar cortes na universidade

Os cortes jĂ¡ levaram as universidades a reduzir gastos com limpeza, manutenĂ§Ă£o, administraĂ§Ă£o e adiou investimentos na Ă¡rea acadĂªmica

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Publicado em: 10/02/2022 Ă s 17:25 | Atualizado em: 10/02/2022 Ă s 17:25

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) LuĂ­s Roberto Barroso determinou nesta quinta-feira (10) que o MinistĂ©rio da EducaĂ§Ă£o e o Congresso Nacional apresentem em dez dias explicaĂ§Ă£o para a queda de recursos previstos no orçamento de 2022 para as universidades e institutos federais do paĂ­s.

O MinistĂ©rio da EducaĂ§Ă£o sofreu um corte de R$ 739,9 milhões para este ano. A pasta havia ganhado recursos durante a tramitaĂ§Ă£o do Orçamento no Legislativo, mas foi alvo dos cortes feitos pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) no fim de janeiro.

O PV (Partido Verde) entrou com aĂ§Ă£o no STF pedindo para que a UniĂ£o restabeleça imediatamente os repasses previstos na Lei OrçamentĂ¡ria de 2022 para as instituições de ensino superior da rede federal.

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Na aĂ§Ă£o, o partido diz que o governo federal estĂ¡ descumprindo preceito fundamental ao prever repasse “muito abaixo do mĂ­nimo necessĂ¡rio” para o ensino pĂºblico superior.

TambĂ©m diz que hĂ¡ risco de colapso financeiro das universidades e institutos federais se for mantido o valor previsto para este ano.

Em sua decisĂ£o, Barroso diz que o assunto Ă© de “inequĂ­voca relevĂ¢ncia e possui especial significado para a ordem social e a segurança jurĂ­dica.”

Com esse fundamento determinou o prazo de dez dias para que o Congresso e o MinistĂ©rio da EducaĂ§Ă£o apresentem explicações e, sucessivamente, prazo de cinco dias para manifestaĂ§Ă£o do advogado-geral da UniĂ£o, Bruno Bianco Leal, e ao procurador-geral da RepĂºblica, Augusto Aras.

Antes mesmo dos cortes feitos por Bolsonaro, as universidades jĂ¡ calculavam a necessidade de um acrĂ©scimo de R$ 1,8 bilhĂ£o no orçamento para que pudessem garantir suas atividades.

Os reitores pediam para que fosse recomposto o orçamento de 2019, com correĂ§Ă£o da inflaĂ§Ă£o, jĂ¡ que tiveram cortes nominais em 2020 e 2021. O orçamento discricionĂ¡rio das federais foi de R$ 6 bilhões em 2019, caiu para R$ 5,5 bilhões em 2020 e chegou a R$ 4,5 bilhões no ano passado.

Para 2022, o orçamento discricionĂ¡rio das universidades federais Ă© de R$ 5,1 bilhões.

Segundo a aĂ§Ă£o do PV, encabeçada pelo deputado Israel Batista (PV-DF), presidente da Frente Parlamentar Mista da EducaĂ§Ă£o, ao nĂ£o garantir os recursos mĂ­nimos para o funcionamento do ensino superio pĂºblico, o governo fere o princĂ­pio democrĂ¡tico, previsto pela ConstituiĂ§Ă£o, de autonomia didĂ¡tico-cientĂ­fica, administrativa e de gestĂ£o financeira e patrimonial das universidades.

“Este quadro geral de caos orçamentĂ¡rio e pane financeira tambĂ©m associado ao aumento das desigualdades sociais existentes no paĂ­s, aumentando a evasĂ£o no ensino superior, por conseguinte, dificultando maiores progressos na seara educacional”, diz a aĂ§Ă£o.

“A sistemĂ¡tica diminuiĂ§Ă£o dos repasses orçamentĂ¡rios viola o conteĂºdo dos direitos e garantias fundamentais, ao produzir franco e notĂ³rio retrocesso em matĂ©ria constitucional bem como ao servir de mero palanque ou artifĂ­cio polĂ­tico para grupos refratĂ¡rios ao progresso da democracia constitucional entre nĂ³s e atĂ© mesmo ao prĂ³prio avanço da ciĂªncia”, continua.

Desde o inĂ­cio do governo Jair Bolsonaro (PL), as universidades e institutos federais vĂªm enfrentando cortes no orçamento. Em 2019, no primeiro ano de gestĂ£o, 30% dos recursos foram contingenciados, o que levou as verbas de livre manejo nas instituições de ensino ao patamar de uma dĂ©cada atrĂ¡s.

Os cortes jĂ¡ levaram as universidades a reduzir gastos com limpeza, manutenĂ§Ă£o, administraĂ§Ă£o e adiou investimentos na Ă¡rea acadĂªmica. A reduĂ§Ă£o orçamentĂ¡ria tambĂ©m impactou o Pnaes (Programa Nacional de AssistĂªncia Estudantil), que Ă© usado para subsidiar a alimentaĂ§Ă£o, transporte, moradia, entre outros, de estudantes mais pobres.

“O orçamento das universidades e institutos, aprovado pelo Congresso para 2022, ficou muito aquĂ©m do que estava sendo demandado, inclusive por conta da pressĂ£o inflacionĂ¡ria. Com os vetos, isso se agravou. A escassez de recursos comprometerĂ¡ o funcionamento regular das universidades, alĂ©m de prejudicar o avanço e a manutenĂ§Ă£o da ciĂªncia brasileira”, disse Ricardo Fonseca, vice-presidente da Andifes (associaĂ§Ă£o que representa os reitores).

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Foto: Rosinei Coutinho/STF