Tiro de Trump pode atingir peito do bolsonarismo

Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil apontam que ação do presidente americano pode enfraquecer aliados de Bolsonaro e favorecer Lula em 2026.

Publicado em: 10/07/2025 às 16:29 | Atualizado em: 10/07/2025 às 16:29

A tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, anunciada por Donald Trump em apoio a Jair Bolsonaro, pode acabar favorecendo o governo Lula. A avaliação é de analistas consultados pela BBC News Brasil, que veem risco de reação nacionalista contrária ao bolsonarismo.

“Mesmo críticos de Lula podem ver a atitude de Trump como um ataque à soberania nacional e à independência do Judiciário”, afirmou Oliver Stuenkel, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Diante da medida, o presidente Lula convocou reunião emergencial e prometeu resposta baseada na Lei de Reciprocidade Econômica, em vigor desde abril.

“O processo judicial contra aqueles que planejaram o golpe de Estado é de competência apenas da Justiça Brasileira”, escreveu Lula, ao rebater a tentativa de Trump de interferir na atuação do Supremo Tribunal Federal (STF).

Eduardo Bolsonaro atuou nos bastidores

A decisão americana ocorre após Eduardo Bolsonaro se mudar para os EUA e tentar articular apoio ao pai. Em nota assinada com Paulo Figueiredo, ele comemorou a retaliação: “A carta do presidente dos Estados Unidos apenas confirma o sucesso na transmissão daquilo que viemos apresentando com seriedade e responsabilidade”.

Especialistas lembram que, em eleições recentes, o “efeito Trump” beneficiou adversários do presidente americano. Canadá, México, Groenlândia e Austrália viram candidatos anti-Trump crescerem após declarações ou medidas intervencionistas dos EUA.

“Certamente, essa dimensão política é algo positivo para a administração Lula”, afirmou Rafael Cortez, da Tendências Consultoria.

Polarização limita, mas não anula impacto

Cortez avalia que a forte polarização no Brasil reduz o alcance do “efeito Trump”, mas reconhece que ele pode ser decisivo numa disputa apertada.

“A polarização cria alguma resiliência nas intenções de voto. Não é uma revolução, mas pode ser suficiente para reposicionar o governo como favorito em 2026.”

Logo após o anúncio de Trump, viralizaram imagens de Tarcísio de Freitas e Romeu Zema com o boné vermelho da campanha “Make America Great Again”. Para Creomar de Souza, da Dharma Politics, isso pode pegar mal no eleitorado mais amplo.

“O grosso do eleitorado pode enxergar o paradoxo entre ‘Brasil acima de tudo’ e ‘Make America Great Again’.”

Leia na íntegra na BBC News Brasil.

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Foto: Alan Santos/PR