A viagem desacompanhada, em voo de Manaus a São Paulo, de um menino de 9 anos é para provocar reflexão. Além de expor fragilidade do sistema de segurança dos aeroportos internacionais das duas capitais, há outros componentes que merecem ser investigados. Por exemplo, como a família da criança o protege.
Além disso, cabe também averiguar como o menino se deslocou ao aeroporto Eduardo Gomes, que fica afastado de áreas habitadas. Foi de ônibus, de carona, de táxi de aplicativo?
Em qualquer desses modos de deslocamento ele poderia ao menos ter sido questionado por andar sozinho. Se é que realmente estava só.
Menos mal que o episódio teve um final feliz. Todavia, poderiam estar hoje os familiares da criança chorando alguma coisa triste.
Ademais, o episódio serve de alerta para as autoridades policiais quanto à elevada estatística de desaparecimentos no Amazonas. Para a família do garoto, que não manteve a devida vigilância sobre um menor de idade, ele já estava na conta dos desaparecidos. E assim tantos outros casos se repetem.
Segundo a Polícia Civil do Amazonas (PC-AM), que investiga o caso, o menino pesquisou na internet como entrar despercebido em um avião.
Ele embarcou sozinho em um voo da Latam , que saiu do aeroporto da capital amazonense. O menino não tinha passagem aérea, nem documentos e nem malas.
Segundo a Delegacia Especializada em Proteção à Criança e Adolescente (DEPCA), o menino agiu sem a ajuda de adultos. A Delegacia Especializada, no entanto, não deu detalhes sobre a pesquisa feita pelo menino.
Ainda na nota, a DEPCA disse que a criança não tem histórico de violência familiar e, durante oitivas, a mesma informou que o motivo da viagem seria o desejo de morar em São Paulo com outros familiares.
A companhia aérea e a empresa administradora do aeroporto de Manaus informaram que estão investigando como o menino conseguiu viajar. A Polícia Civil também solicitou imagens das câmeras de segurança para apurar o ocorrido.
Sumiço pela manhã
Em entrevista ao g1 , a mãe do menino, a eletricista Daniele Marques, contou que percebeu que o filho não estava em casa nas primeiras horas da manhã de sábado (26). Eles moram na comunidade União da Vitória, bairro Tarumã, em Manaus .
“Acordei às 5h30, fui ao quarto dele, e vi que ele estava dormindo normalmente. Depois mexi um pouco no celular e levantei novamente, já às 7h30, quando percebi que ele não estava mais no quarto e comecei e me desesperar”, afirmou.
Depois de registrar boletim de ocorrência na delegacia e começar a divulgar a imagem do filho nas redes sociais, a eletricista recebeu a ligação de um funcionário da Latam , por volta das 22h daquele mesmo dia, informando que a criança estava no aeroporto de Guarulhos (SP).
“Assim que eles me contaram que ele estava lá [no Aeroporto de Guarulhos ], avisei a delegada. Os policiais até perguntaram se eu podia ir buscá-lo, mas eu disse que não teria como fazer isso, e sim queria que a empresa Latam retornasse com o meu filho”.
Após trâmites e negociações entre o Conselho Tutelar e a companhia aérea, o garoto voltou a Manaus na manhã de domingo (28).
O que o menino disse
Segundo Daniele, a mãe, Emanuel contou detalhes da viagem sozinho de avião sem documentação e sem bilhete de embarque.
“Ele me disse que pegou alguns ônibus aleatórios aqui de casa [no bairro Tarumã-Açu] até chegar no aeroporto. Depois, olhou no painel o horário dos voos e entrou em um deles. O meu filho passou por três vistorias sem que alguém notasse que ele estava sozinho, sem documentação nem bilhete de embarque”, disse a mãe.
Daniele disse que jamais imaginaria que o filho pudesse ter viajado sozinho de avião quando percebeu que ele não estava em casa.
“O que eu fico pensando é como uma criança consegue passar por um sistema de aeroporto que é tão burocrático para a gente [adultos] passar. Por isso eu quero uma resposta da companhia aérea e do aeroporto sobre como o meu filho conseguiu embarcar sozinho”, concluiu Daniele.
O que dizem a Latam e o aeroporto
Em nota, a Latam disse que acionou a Polícia Federal e o Conselho Tutelar após identificar que o menor estava sozinho no voo. Ele foi encaminhado para um abrigo para aguardar os trâmites necessários até a recondução dele para Manaus .
A companhia aérea não deu mais detalhes, e informou que ainda está apurando o ocorrido.
Ao g1 , o Aeroporto Internacional de Manaus alegou que o caso está sob apuração interna, assim como a verificação das imagens das câmeras de segurança.
O Aeroporto Internacional da capital amazonense também disse que “preza pela segurança de todos e segue os procedimentos e normas de segurança da aviação civil”.
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Foto: Tácio Melo/Secom e Arquivo/Secom