A proposta de mudança do terminal rodoviário de Manaus para o cafundó do judas não é uma exigência do correto e justo ordenamento urbano da cidade. Trata-se de uma medida que reforça a aporofobia (aversão aos pobres) incrustada em alguns estratos sociais e na atual gestão pública da nossa capital.
O termo aporofobia foi criado em 1990 pela escritora e filósofa espanhola Adela Cortina, que viu a exclusão social profunda como resultado da cultura do interesse: só tem minha atenção aquele que pode me retribuir em alguma coisa.
Essa conduta tem ganhado destaque no ordenamento das cidades, com arquiteturas hostis de espaços públicos, como foi o caso das pedras colocadas debaixo de um viaduto pela Prefeitura de São Paulo, para impedir que o povo em situação de rua ali dormisse.
Temos visto também a construção de prédios feita para afastar gente em situação de rua, idosos e até mesmo jovens. Numa alusão mais clara, os condomínios são perfeitas representações dessa aversão aos pobres e não somente uma questão de segurança, como muitos tentam se esquivar.
A transferência do terminal rodoviário de Manaus é um evidente caso de aporofobia.
Quem usa o transporte coletivo rodoviário intermunicipal e interestadual? Seriam os ricos ou mesmo as classes médias mais abastadas?
Claro que não.
São os estratos sociais compostos de trabalhadores e trabalhadoras. São aqueles que se deslocam de ônibus das suas casas até o terminal, para de lá seguir seu destino até outra cidade.
A mudança do terminal para um local longínquo atende aos interesses apenas dos condomínios e das universidades particulares que ficam no entorno do atual terminal. Ou seja, atende ao interesse daqueles que podem retribuir, conforme sentenciou a filósofa Adela Cortina.
Tenho acompanhado a voz do líder do PT na Assembleia Legislativa do Amazonas, deputado Sinésio Campos, contrário à transferência do terminal.
Sinésio tem em mãos o master plan de modernização do atual terminal e assegura que o seu valor será dez vezes menor do que o custo total do terminal 6, para onde querem mandar o povo trabalhador que precisar viajar.
Em conversa que tive com o deputado petista, me disse que é possível fazer no atual local um estacionamento para 400 carros e uma rodoviária com várias plataformas, lojas, PAC e outros ambientes de atendimento ao público. “É possível, é barato e o povo quer.”
Ao deputado, soma-se a Defensoria Pública do estado, que já tomou medidas jurídicas para impedir a transferência estapafúrdia.
O próprio Tribunal de Contas do Estado – TCE já manifestou sua preocupação com a obra de adaptação do terminal 06, que deverá custar quase 14 milhões de reais, elevando o valor total daquele elefante branco para 30 milhões.
O povo de Manaus não concorda com essa medida de exclusão social da prefeitura.
O povo trabalhador paga seus impostos como qualquer outra classe social, com uma diferença: não sonega, e merece respeito da gestão municipal.
*O autor é sociólogo
Foto: sidney mendonça-immu