A sementinha voadora
Aguinaldo Rodrigues
Publicado em: 08/07/2010 às 00:00 | Atualizado em: 08/07/2010 às 00:00
Tenório Telles*
Cuidar das crianças é tarefa intransferível dos pais, dos professores e da sociedade. Os escritores, em especial os que escrevem para o público infanto-juvenil, têm igualmente a responsabilidade de contribuir com o processo de aprimoramento da sensibilidade e o despertar da paixão dos jovens pela leitura e o amor pelos livros.
As crianças gostam de ouvir histórias, de brincar e inventar suas narrativas – concebidas como brincadeiras com o imaginário, com as palavras e a capacidade que têm de narrar. Incentivar a leitura e a aptidão criativa que possuem é uma forma de manter ativa a inventividade e o entusiasmo pelas palavras e pela magia das narrativas. A escritora Lygia Bojunga considera a leitura um ato transformador e definitivo na vida do ser humano: “Quem tem o hábito da leitura está salvo para o resto da vida”.
E por falar em leitura, acabo de ler um livro belo e profundamente humano. Trata-se de “Formosa – a sementinha voadora”, escrito pelo ficcionista Wilson Nogueira. Nascido na beira do rio Amazonas, em Parintins, conviveu em criança com os bichos, as plantas, os pássaros e as histórias de encantados. Foi o aprendizado da leitura, entretanto, que mudou o curso da sua vida. Experiência que tornou possível o acesso ao conhecimento, à educação escolar e, hoje, aos estudos acadêmicos. Esse filho da floresta é atualmente um dos mais produtivos intelectuais amazonenses.
Fascinado pelas narrativas populares, Wilson se firma como um escritor sensível e cuidadoso de textos infanto-juvenis. Exemplo disso é o livro “Órfão das águas” e essa história maravilhosa que é “Formosa – a sementinha voadora”. A obra é uma narrativa delicada sobre as experiências de uma pequenina semente de samaumeira que, ao se desprender do fruto, é levada pelo vento e inicia uma viagem por paisagens desconhecidas e lugares distantes. Nesse caminhar, melhor dizendo, voar pelo mundo, vive experiências e descobertas que marcam-lhe o ser.
Wilson presenteia as crianças com um livro especial, escrito numa linguagem simples e cheio de lições de vida, em que discute temas como solidariedade, amizade, cuidado com a natureza, coragem e aprendizagem. A história de Formosa é uma metáfora da própria existência, manifesta na trajetória do ser humano, que vive muitos desafios do seu nascimento até amadurecer e adquirir segurança, como a Sementinha voadora, que, após rodear “o mundo”, será plantada e se transformará numa bela samaumeira, e “dará muitas frutas e sementes!”. As duas palavras que melhor expressam essa história e definem este livro são: poesia e humanidade. Formosa é uma obra que encanta e comove pela sua delicadeza e conteúdo humano. Somos todos sementes da vida – às vezes nos tornamos altivas samaumeiras, outras simples arbustos, quando não espinheiros.
*O autor é escritor e membro da Academia Amazonense de Letras (AAL).