Lágrimas sul-africanas

Aguinaldo Rodrigues

Publicado em: 01/09/2010 às 00:00 | Atualizado em: 01/09/2010 às 00:00

 

Ivânia Vieira*

 O pós-Copa na África do Sul é uma lição cruel. Milhares de trabalhadores sul-africanos, os pobres e os miseráveis estão nas ruas. Lutam para receber salários atrasados, ter acesso ao trabalho, à comida, à assistência médica.

Em meio a esse cenário, descrito por jornalistas de vários lugares do mundo, os estádios são, agora, comparados a ‘elefantes brancos’. Estão sem função e constituem-se em mais problemas porque representam custos elevados em um país cuja história ainda é de reconstrução, de cuidar das enormes feridas abertas por anos de segregação de vários povos a uma minoria branca.

Os dias de sonho são hoje um pesadelo. A poderosa Federação Internacional de Futebol deve ser co-responsabilizada pelo quadro caótico em vários lugares da África do Sul. A Fifa se constituiu em uma espécie de governo paralelo, com força total. Chega nos países, determina o que deve ser feito e faz ameaças de deletar aqueles que se insurgem contra ela. O Brasil sabe qual é o peso dessa mão, pior com as alianças nacionais feitas com a federação internacional e assim assegurar silêncio e muitos aplausos.

A paixão pelo futebol não pode embriagar a todos e ser a justificativa para a omissão. Infelizmente, no Brasil, a regra tem sido essa. No Amazonas, atitudes que questionem decisões tomadas em relação a Copa de 2014 são recebidas como se as pessoas que as fizessem fossem desprovidas de razão e fizessem parte de um complô internacional contra o Estado. Essa conduta, com apoio de amplos setores da imprensa, veta o debate e sustenta apenas o discurso elogioso que tanto agrada e facilita a vida dos governantes e dos legisladores.

A angústia e as agressões a que centenas de sul-africanos estão submetidos não é peça de ficção. Talvez não sejam notícia nos telejornais nacionais. Mas alertam para que as cidades-sedes da Copa do Mundo no Brasil não vivam drama parecido. O fim do silêncio conivente, a fiscalização e a transparência dos atos são bons remédios para prevenir contra essa doença bancada com muita verba pública.

*Jornalista, professora do Curso de Comunicação da Ufam.

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