Neuton Corrêa
Eterno repórter rádio Clube de Parintins
O 3 de novembro de 1988 será para mim uma data importante. É o marco de um rito de transição de minha vida familiar para a coletiva e pública, e com responsabilidade mais que dobrada.
A data marca minha entrada no mundo da comunicação social, porque foi nesse dia que comecei a militar no meio, como repórter, numa oportunidade que a rádio Clube de Parintins me deu.
A Clube, ali, com aquele gesto, abria uma oportunidade que os meus 17 anos de idade relutavam aceitar, com idas e vindas, o que o futuro me reservaria.
Mas, a Clube acreditou.
Permitiu-me a estreia no filosófico ofício jornalístico de questionar as coisas, de estranhar as coisas e tentar compreender as coisas.
Fez isso porque deixou que eu saísse pelas ruas perguntando, entrevistando; permitiu-me a oportunidade de apresentar o “Jornal da Clube” com o Armando Carvalho, com o Evandir Martins, com a Vandineth Pires e com o Jonas Santos.
Só eu sei, e o banheiro da rádio também, o que aconteceu quando o Armando me convidou para apresentar o noticioso.
Tremia mais do que quando saía sob chuva, nas bicicletas alugadas do Chagas, para fazer reportagens.
Ahhh, o gravador do Heraldo Gonçalves, meu chefe. Eu e o Jonas trabalhávamos com gravadores enormes, fora de qualquer padrão dos de hoje.
Mas, teve um dia que o Heraldo modernizou a reportagem, em gesto de pura grandeza.
Ele havia recebido de presente um micro gravador. Deve ter guardado com todo o carinho, mas mesmo assim entregou para a reportagem da Clube aquele aparelhinho.
Entregou à redação com todas as recomendações possíveis e impossíveis. Afinal, era uma peça rara: era vermelho, pouco maior do que uma fita cassete e ainda estava na caixa.
Tratei-o com todo cuidado. Mas, num certo dia, antes das 10h, consegui amealhar um número bom de notícias, gravações e tudo mais. E resolvi voltar para a rádio.
Estava animado com a produção. Tão animado que, ao pegar a avenida Amazonas, saindo do antigo fórum de Justiça, em frente à catedral, com o testemunho de Nossa Senhora do Carmo, fui mudar de posição a pochete na qual carregava o gravador.
Quando cheguei à catedral, tirei a pochete da cintura e tentei colocá-la nas costas, num gesto de posição de nunchaku de Bruce Lee. Foi aí que aconteceu a tragédia.
O bolso da bolsa estava aberto. E, antes de passar o gravador para as costas, o aparelho atirou-se ao chão.
Olhei para trás e notei que não haveria o que fazer. A fita estava para um lado, as teclas para outro e as pilhas eu não encontrei mais. Tudo esparramado na avenida, na confluência da rua do comércio da ilha.
Escondi a desgraça por alguns dias, mas o deputado Gláucio Gonçalves, dono da emissora, apareceu na rádio e o Heraldo queria que o entrevistássemos com aquele gravador.
Não houve jeito. A verdade se revelou quando foi preciso ligar o aparelho. Imaginem…
Bem…
A Clube foi minha primeira escola. E hoje me sinto feliz porque, no 2 de março de 2019, a rádio Clube de Parintins se tornará uma universidade. Deixará suas ondas médias para entrar nas moduladas (FM).
Essa conquista me orgulha porque nasci ali e feliz estou em saber que a rádio cresceu e apareceu.
Por isso, de todo o coração, aproveito para registrar neste momento minha profunda gratidão pela consequência de tudo o que aconteceu em minha vida a partir do dia que entrei na emissora.
Obrigado, e parabéns a todos por mais esta conquista!
Foto: Divulgação