O domínio do poder econômico
Aguinaldo Rodrigues
Publicado em: 25/10/2010 às 00:00 | Atualizado em: 25/10/2010 às 00:00
Wilson Nogueira*
O jogo eleitoral sempre foi duro. Reflete-se nele a disputa pelo poder. Em circunstância pouca republicana, torna-se a luta do poder pelo poder, um salve-se-quem-puder determinado pela quantidade de dinheiro de cada candidato ou coligação. Os debates públicos de propostas e ideias correm na margem das estratégias de grupos que dominam a cena eleitoral. Esse quadro fragiliza a democracia, cujo fundamento é o governo do povo pelo povo, porque reduz esclarecimento do eleitor. Sim, não devemos perder a esperança. Já viemos de muito longe. É só lembrar que fomos governados por reis e que, mesmo na República, houve tempo em que só votavam nobres e coronéis latifundiários; sem falar que, mais recentemente, passamos pelos horrores de uma longa ditadura militar. A confiança no futuro melhor decorre exatamente da compreensão de que essas mudanças são resultados da luta de gerações que se sentiram alijadas do processo político. O direito ao voto livre e universal, portanto, é uma conquista histórica da sociedade brasileira e, por isso, deveria ser reconhecido e valorizado como instrumento a serviço da coletividade. Mantenho distância dos que pensam que o povo não sabe votar. Acredito que o eleitor age de boa-fé: ele acredita nas propostas dos candidatos que escolheu. Não raro, acredita no mesmo candidato por várias legislaturas, porque as promessas se renovam. Ora, sem debate público, sem formação política, sem transparência nas regras da atividade eleitoral não há como se desenvolver o chamado voto consciente. Consciente no sentido de que o eleitor vota em determinado candidato porque, por meio de um leque de informações e propostas colocadas em posições contraditórias, pensa na melhoria do seu bairro, da sua cidade e do seu país. No jogo atual, sem amplo debate das propostas e sem regras que garantam a disputa dos candidatos em condições iguais, prevalecem a falta de informação sobre a importância do voto e a presença dos representantes dos grupos econômicos nos chamados bolsões eleitorais, nas TVs e outras mídias – esses são mais ágeis porque têm mais dinheiro. No Amazonas, por conta dessa anomalia, tem-se a impressão, caso se considerar a cobertura da mídia, de que só existem dois candidatos ao governo do Amazonas. Ao encolher as escolhas, o poder econômico, no qual se incluem as empresas de comunicação, reduzem, também, a democracia. A questão não é a participação do setor econômico na eleição. Trata-se, principalmente, do fato de que esse segmento, em grande medida, disputa sozinho o controle dos poderes da República. É só dar uma olhada na declaração de bens dos candidatos à Justiça Eleitoral, nos orçamentos de campanha e na relação das empresas que lhes apoiam maciçamente. Sobra, por isso, pouco espaço para o triunfo de representantes no Executivo e no Legislativo fora da influência dos grupos econômicos que, por sua natureza, têm o Estado como mais uma oportunidade para negócios lucrativos. Não faz mal repetir que, para mudar esse quadro, só uma ampla reforma política. Evidentemente que essa medida não virá dos próprios políticos, mas da vontade da sociedade como um todo, como expressão da indignação contra o abuso do poder econômico nas eleições.
* O autor é jornalista e escritor