O LIVRO

Aguinaldo Rodrigues

Publicado em: 08/01/2014 às 00:00 | Atualizado em: 08/01/2014 às 00:00

Ivânia Vieira*

Com alguma frequência esse livro se esconde de mim. Ora por empréstimos demorados, ora porque insiste em se misturar a outros e eu, desorientada, não o identifico nas pequenas coisas  amontoadas na minha vida. Então, o livro reaparece e parece sempre ganhar mais páginas. Já não são 300. Cada página abre trilhas audaciosas, desafia-me a fazer o percurso desconhecido e a aprender a ver, a ouvir, a sentir e a conversar com os fazedores de histórias.

São conversas que dão trabalho. Muitas delas exigem folhear e fichar em um ritmo particular onde  encantamento, raiva, ilusão, desencantamento, sonho, desejo vão se confrontando. Uma aventura e tanto tecida entre mim e o livro multiplicado em tantas vozes autorais embora ainda sejam poucas no rio por onde tenho nadado.

Nesses dias, os companheiros trazidos pelo livro que me prega peças perguntam “para que serve o jornalismo?”, afirmam “os jornalistas têm a responsabilidade de ser conscientes” e indicam o “jornalismo como um fórum público”. Bill Kovach e Tom Rosenstiel foram metidos nesse enredo. Estão atuais nos questionamentos feitos em2003; a “espiral do silêncio” é moda nos tempos modernos onde os meios de expor a opinião se expandem a cada minuto. Sim Clóvis de Barros Filho tem razão quando trata da espiral como parte da aculturação da violência; Entre os pedaços possíveis dessa conversa, Porfírio de Carvalho traz à cena o “Waimiri Atroari – a história que ainda não foi contada”, de 1982, que me remete a Paulo Monte e Egydio Schwade,  acervos generosos da nossa história e ignorados pelo conhecimento ignorante outorgador de títulos.

O que sabemos dos Tenharim? Dos conflitos e confrontos no interior do Amazonas?  Como escrever notícias daquilo que não conhecemos, não compreendemos e não nos interessamos em conhecer?  E o livro escondido volta com suas provocações: “Vozes da Amazônia” (2007), de Élide Rugai Bastos e Renan Freitas Pinto; “A Igreja arma sua tenda na Amazônia (1999), de José Aldemir de Oliveira e Pe. Humberto Guiidotti;  “A rebelião de 1924 em Manaus”, de Eloína Monteiro dos Santos; “Metamorfoses da Amazônia”, de Marilene Corrêa da Silva Freitas; “Mitologia Tariana”, de Ismael Tariano; “O ethos das mulheres da floresta”, de Iraildes Caldas Torres (org.);  “Palavra, Poder e Ensino da Língua”, de Odenildo Sena… São uma trilha deliciosamente perigosa nas páginas em multiplicação desse livro em permanente inconclusão  que dança a agonia dos passos da luta de conquista da  emancipação e da autonomia.

*A autora é jornalista, professora no Curso de Comunicação Social da Ufam.

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