O presente que Manaus quer

Aguinaldo Rodrigues

Publicado em: 25/10/2010 às 00:00 | Atualizado em: 25/10/2010 às 00:00

Antônio Paulo*

Foi pensando em ti, Manaus, que nesta manhã acordei, quando festeja seus 340 anos. Até ensaiei uma prece, relembrando os idos tempos de membro ativo da catequese e pastorais. E rezei: Meu bom Papai do céu! Proteja sempre essa Manaus querida, tão bela, acolhedora, mas tão castigada pelos problemas crônicos acumulados ao longo dos anos e que nenhum governante alçado pelas mãos do seu povo consegue ou quer resolvê-los. Amém.
Agora, dizes, Manaus, nesse dia que é teu e de todos nós, o que queres de presente?
“Ah! Gosto das festas, das comemorações que fazem pra mim, levando centenas de milhares de manauaras, turistas vindos de longe e de admiradores ao Boi Manaus, um ritmo todo nosso que há muito conseguiu sufocar o axé da Bahia por essas bandas. Gosto desse calor tropical, que deixa toda a gente melada de suor; que na dança frenética produz um esfrega-esfrega voluptuoso típico das caboclas e caboclos daqui.
Faz-me lamber os beiços o peixe assado, regado com um molho ardoso de murupi com farinha do Uarini; o vinho de cupuaçu, açaí, buriti e patoá… o embalo da rede, o banzeiro do rio e os temporais com suas chuvas torrenciais que nem cururu abre o olho.
Mas, o presente que mais quero nesses 340 anos de vida é ver meu povo mais feliz, atendido dignamente nos postos de saúde e nos hospitais; escolas e ensino de qualidade; alunos bem ensinados, professores mais preparados e remunerados dignamente. Ruas limpas, lixo recolhido e reciclado; sem mais esgotos a céu aberto e aquele cheiro podre que vem do ar; água abundante jorrando das torneiras nos bairros onde vivem os mais pobres. Trabalho para os pais e mães de famílias; o primeiro emprego para os jovens. Mais segurança e menos polícia cometendo crimes e castigos…
Dos nossos governantes, quero empenho para executar as políticas públicas corretas sem meter a mão, o braço e o corpo inteiro nos recursos que são do povo. Que as empreiteiras não sejam mais as ‘donas do pedaço’ e que as licitações sejam transparentes e não mais viciadas, cartas marcadas na mesa do poder. Que o dinheiro das obras não suma mais pelo ralo da corrupção e que os interesses coletivos se sobreponham aos individuais, uma prática comum que venho observando ao longo desses 300 anos e que o meu povo teima em não querer enxergar porque ainda elegem ‘fichas-sujas’, lambanceiros e mentirosos de carteirinha…
Que os testas-de-ferro, laranjas e apaniguados do dinheiro público sejam extirpados esse chão e os mentores, que ficam por trás deles, sugando, mamando e enriquecendo as custas da miséria e ignorância dos mais necessitados, sejam banidos do processo político. Quando isso vai acontecer? Sinceramente, não sei. Ao longo desses quase três séculos e meio de existência só tenho visto essa gente enganar, ludibriar, fazer sofrer, fazer chorar o povo dessa terra. Mas eu não desisto. Insisto e resisto até esse dia chegar.
Brasília, 23/10/2009

*O autor é jornalista

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