Ivânia Vieira*
Santa Maria, no Rio Grande do Sul, luta para não deixar a tragédia ser esquecida, acomodada entre outras tantas e, dessa forma, aceitar a repetição dela lá ou em qualquer outro lugar do País. A boate Kiss segue um roteiro comum no cotidiano nacional: um lugar bacana, onde adolescentes e jovens reúnem-se para curtir a vida, com suas modas, seus barulhos, seus silêncios, suas danças, suas conversas. Um lugar para azaração e celebração da alegria.
O 27 de janeiro de 2013 deveria ser um domingo de amores novos, alguns desfeitos, alguns engatilhados, sono pesado, almoço com a família e com amigos. Não foi. A bela cidade gaúcha acordou na madrugada assustada e logo em pouco tempo estava diante um pesadelo real. Corpos espalhados, famílias e amigos desesperados procurando sinais de vida em um incêndio com 242 pessoas mortas.
Um ano depois, é a dor de cada um, pai, mãe, irmão, amigo, namorado, avó, professores, unida numa rede de resistência para continuar vivendo e de luta para impedir a impunidade, que chega ao Brasil e ao mundo. “Justiça!” Pede a rede-movimento. O mesmo pedido feito um mês após a tragédia, dois meses, cinco meses, 12 meses.
No rádio, a mãe de uma das jovens mortas, falou do não dado pelas empresas de outdoors do lugar quando tentaram usar esse meio de comunicação. O medo de sofrer retaliações e perder o negócio tornou-se aliado de uma estratégia de promover o silêncio e/ou isolar em Santa Maria a dor de uma parcela da cidade. A CPI, pelas notícias dadas, caminha para se perder em uma gaveta qualquer.
A tragédia na Kiss provocou reações de dia seguinte em várias capitais brasileiras. Manaus foi uma delas. E hoje, como estão esses locais? Seguem as normas de segurança? As saídas de emergência estão construídas e aptas a serem acionadas quando necessário for?
Em Santa Maria, o Brasil viu acontecer uma das maiores catástrofes nacionais. Ela não está encerrada, ao contrário, se decisões firmes não se realizarem, se repetirá. Nossa homenagem aos jovens mortos se traduz em impedir que a chave do esquecimento seja acionada.
*A autora é jornalista e professora no Curso de Comunicação Social da Ufam.