Com quatros grandes atos, a direção geral de espetáculo (DGE) do Boi Bumbá Garantido apresentou em coletiva nesta quinta-feira (23), como será realizado o espetáculo “Amazônia do Povo Vermelho” no 55º Festival Folclórico de Parintins.
O Boi Garantido prevê duração máxima de apresentação de 2h e 15min na arena do Bumbódromo. A cronometragem busca dar segurança para saída em apoteose cumprimentando a todos os torcedores e os jurados.
De acordo com o presidente do Bumbá, Antônio Andrade, “o Garantido vem pra fazer um festival valer por três anos. Três anos que a gente passou de pandemia, que não tivemos a nossa festa e que as consequências foram terríveis aqui em Parintins.”
Andrade diz que o Festival será feito para todos aqueles que fizeram parte da história do Garantido e perderam suas vidas durante a pandemia da Covid-19.
Para ele, o espetáculo será “em defesa da Amazônia, em defesa dos Quilombolas, em defesa das comunidades indígenas, em defesa dos ribeirinhos”. Além disso, destaca que será o grito para que o mundo respeite e ajude a proteger a Amazônia.
Um detalhe destacado pelo Bumbá, é a divisão dos levantadores de Toada nas três noites no Bumbódromo. Na primeira noite será, David Assayag; na segunda, Edilson Santana e encerrando na terceira, Sebastião Junior. Outro revezamento também será feito no “Tripa do Boi”, a seguinte ordem: Buba, Batista e Piçanã.
A primeira noite
Para o jornalista, escritor e membro da Direção Geral do Espetáculo (DGE) Allan Rodrigues, o espetáculo deste ano do Boi da Baixa do São José é “Um grande manifesto artístico, em prol dos povos da floresta”.
De acordo com Rodrigues “A causa do Garantido, é a causa dos povos da Amazônia”. E foi essa a reflexão e o caminho resultando do tema deste ano.
“Na primeira noite, vamos falar do Povo vermelho como brasa, esse povo a gente começa a apresenta-los na arena, pelos povos originários, por aqueles que estavam aqui, antes da chegada do Europeu. Esse povo que a gente chama de pele, os indígenas, eles estavam aqui antes. E eles assim como povo negro, que nós também vamos falar, foram as vítimas do processo de colonização genocida que aconteceu aqui nessa região”, declarou Allan Rodrigues em coletiva.
Portanto, a primeira noite do Garantido inicia com a temática “Brasil, Pátria Indígena”. A partir, será feito um ritual indígena Karô Krahô, “onde o pajé trava uma luta espiritual daqueles que morreram antes do tempo, porque não estavam preparados para morrer naquele momento”. O ritual apresenta um sentimento das perdas na pandemia, que se foram antes da hora.
Em seguida o espetáculo evolui para o tipo social da Amazônia, que representa a miscigenação entre negro e índio, originando o caboclo.
Lindolfo: 120 anos
A partir disso, a Figura Típica Regional será o pescador, sem ser por acaso, pois o ápice desse momento é a celebração dos 120 anos de Lindolfo Monteverde, fundador do Boi Garantido.
“Nós não poderíamos no dia 24 de junho, dia de São João, santo padroeiro do Boi Garantido, para quem ele foi prometido. Então a gente está untando, Lindolfo, um grande pescador, nesse dia, de forma emblemática, para nós mostramos nossa figura típica regional”, disse.
Encerrando a primeira noite, será realizada na arena a lenda Amazônica “Quando Honorato Lutou com a Caninana”.
O jornalista, compositor e membro da DGE, Mencius Melo resume a primeira noite a partir de um prisma, onde “o Garantido cura o mundo, ressurge e parte para festa”.
Segunda Noite
Na busca de traduzir o sensível através da arte e com uma perspectiva decolonial, o Boi Garantido coloca na arena uma imagem da Amazônia Real, de acordo com Adan Renê. Ele diz que o Bumbá “quer mostrar que esse povo existe, esse povo muita das vezes é invisibilizado pelas malhas de uma história colonial, racista”.
A segunda noite inicia com um grito do povo negro da Amazônia retratados em dois grandes quadros cênicos.
Durante a coletiva, Mencius Melo recordou que o Boi Garantido sofreu retaliações ao falar sobre o negro em seus espetáculos, “como se Lindolfo Monteverde não fosse preto, como se não tivéssemos negros, até pela presença forte do indígena, mas não gente, existem e são pessoas que estão invisibilizadas”.
Em seguida, Adan Renê revela que o primeiro ato da noite é o resgate da história cabanagem, na Figura Típica Regional. “O Garantido retoma de luta e de resistência que é o subtema da noite B, Lutas, resistências e revolução”.
O outro quadro artístico da noite é um passeio pelo de tempo, iniciando em 1905 até 1983, em uma xilogravura, registrada num obra chamada Viagem pelo Brasil. “Então esses viajantes passam pela região Amazônica, e ainda na região do Grão-Pará se deparam com o primeiro registro da história, do auto do boi-bumbá”, explicou Adan Renê.
A Lenda Amazônica será “Xandoré e Ticê” de origem Tupi-guarani. A história narra que Xandoré era o Deus da Ira e dono de todo ódio, representativo das grandes maldades, que os humanos realizavam com a semente plantada por esse Deus.
“Xandoré tenha uma maldade tão grande no coração, que ele não poupava sequer as mulheres grávidas durante os atos que ele cometia de rebeldia, de ódio, de estupro que germinou na colonização. E só existia uma divindade que era capaz de aplacar o coração de Xandoré, que era Ticê. E ticê nessa noit vem na representatividade do empoderamento feminino do Boi Garantido, que é a nossa cunhã-poranga, Isabelle Nogueira”, contou o membro do DGE.
O Ritual indígena será “O Fim do mundo carajá”, baseado na obra de José Américo Peret, onde será feita a cênica do pajé Adriano Paketá.
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A volta do banho de Cheiro
Criado em 1984, o Belezão, versão gigante do Garantido, volta a dar o banho de cheiro na arena e nas arquibancadas mais uma vez como manda a tradição.
Esse momento surge pelas mãos de Maria Ângela Faria, madrinha do Garantido, mãe do eterno apresentador Paulinho Faria e avó do amo do Boi, João Paulo Faria. À época o Belezão foi idealizado pelo então presidente Zezinho Faria, que é pai do amo.
O banho cheiro encerrará a segunda noite do Boi Garantido, retomando mais um ato tradicional da Baixa do São José.
Terceira Noite
Com a temática “Utopia Vermelha”, a terceira e última noite do Boi Garantido é baseada no pensamento do educador Paulo Freire.
A relação entre um dos maiores educadores do Brasil e do mundo com o pescador Lindolfo Monteverde, de acordo com Allan Rodrigues, ” é que todos os dois guiaram suas vidas pela esperança, mas não é essa esperança que o Paulo Freire fala de esperar, mas a esperança do verbo esperançar. Esperançar é você trabalhar, construir aquele mundo que você quer que aconteça”.
Representando a busca do mundo melhor, o Garantido abre o espetáculo com o momento “Voa, meu Balão”, onde a rainha do Folclore vai vir para a se apresentar na arena, em um Balão de São João.
O significado da soltura do balão junino, conforme Rodrigues, é um aviso de que a festa vai começar. “Avisar a todos que um novo momento virá”, disse.
A Figura Típica Regional apresentada será o “O viajante da Amazônia”, referente aqueles que navegam por barcos de recreio pelos rios da Amazônia.
“E a gente vai brincar com isso, mostrando esse viajante vindo pra Parintins. Então a gente vai colocar na arena, um bumbodromo dentro do outro, só que esse bumbodromo só comporta a cor vermelha, os dois lados são vermelhos. E os barcos chegando com os viajantes para a grande festa, nesse barco a nossa porta estandarte, representando a torcedora encarnada”.
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Homenagem a Paulinho Faria
Durante a figura típica regional será homenageado Paulinho Faria, o “garotinho de ouro” e eterno apresentador do Boi Garantido.
Um dos barcos em alegoria no momento leva o nome do ex-apresentador. “Nesse momento a gente vai celebrar essa memória, e esses viajantes da Amazônia, que viajam e que viaja, sempre carrega consigo uma esperança de que vai realizar algo por onde vai”.
Momento lúdico
Outro momento será a celebração folclórica “O mamulengo do Folclore Parintinense”.
“Vão estar as grandes estruturas, ao centro a dona Xanda, mãe de Lindolfo Monteverde, que é junto com a vó de Lindolfo Monteverde, que é a dona Alexandrina, que vão contar histórias pro Lindolfo e vão tecer toda essa identidade dele e alimentá-lo com esse sonho”, explicou Allan Rodrigues.
Também será feito o tradicional auto do Boi.
Em seguida será apresentado a lenda de Teperecique, o Senhor das Águas. Por último, encerra o espetáculo Ritual Indígena Tenharim.
Foto: BNC Amazonas