Caprichoso e Garantido dão lição de cultura que o Brasil não ensina
"Festival de Parintins é mais do que uma festa, é grito de resistência, de memória, de dizer: estamos aqui. E não vamos desaparecer".

Ednilson Maciel, da Redação do BNC Amazonas
Publicado em: 28/06/2025 às 16:49 | Atualizado em: 28/06/2025 às 16:49
Em reportagem publicada no site ICL Notícias, a jornalista Leila Cangussu destaca o Festival Folclórico de Parintins como uma das manifestações culturais mais ricas e politizadas do Brasil, que segue sendo ignorada pelo sistema educacional nacional.
Segundo ela, o espetáculo protagonizado pelos bois Caprichoso e Garantido é uma aula de história, memória e resistência que as escolas não ensinam.
“O festival de Parintins é uma plataforma política, mesmo quando não se assume como tal”, afirma Leila.
Para a jornalista, as três noites de apresentações no bumbódromo reconstroem, em forma de arte, as violências históricas sofridas por povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e caboclos da Amazônia. São populações que foram sistematicamente excluídas da narrativa oficial do país.
O festival de Caprichoso e Garantido, dessa forma, expõe apagamento histórico e cultural ignorado pela escola brasileira.
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Significados da arte
Cada item do festival carrega simbolismos profundos: o pajé representa o conhecimento ancestral indígena; a cunhã-poranga, a força das mulheres da floresta; o amo do boi, figura colonizadora, ora é ressignificado, ora confrontado. Nas toadas e nas alegorias, há denúncia, crítica social e afirmação identitária.
“Não há neutralidade. Há posicionamento”, resume o texto.
A crítica central da reportagem é ao distanciamento do restante do país em relação ao festival.
A autora questiona por que escolas no Sudeste, Sul e Centro-Oeste não ensinam o significado da rivalidade entre Caprichoso e Garantido, nem reconhecem a sofisticação cultural do evento, frequentemente tratado como folclore exótico.
A matéria também ressalta que a história de exploração da Amazônia e dos povos originários precede a escravidão africana e raramente aparece nos livros didáticos.
No entanto, ela está viva em Parintins nas coreografias, nas letras, na encenação.
Transformar dor em arte, afirma a jornalista, é uma forma de resistência.
“Parintins não precisa da aprovação do Brasil para existir. Mas, o Brasil precisa, com urgência, aprender com Parintins”, conclui a reportagem, ao apontar que a maior riqueza cultural do país não está no centro, mas nas margens historicamente silenciadas.
Foto: Juliana Oliveira/especial para o BNC Amazonas