Estilista indígena Sioduhi participa da retomada do Caprichoso
"O Caprichoso tem estado à frente na escuta dos povos originários, no debate sobre mudanças climáticas, proteção e gestão territorial, fazendo denúncias".

Juliana Oliveira, da Redação do BNC Amazonas em Parintins
Publicado em: 28/06/2025 às 13:44 | Atualizado em: 28/06/2025 às 13:45
O estilista de renome internacional Sioduhi Waíkahna (conhecido também como Piratapuya), entrou na arena na primeira noite do Festival Folclórico de Parintins, no dia 27 de junho, com o boi-bumbá Caprichoso.
Junto com ele, outras lideranças indígenas compareceram com o boi negro, dentre elas Alessandra Korap Munduruku, Trudruá Dorrico Macuxi, Yakuy Tupinambá, Vanda Witoto, para citar apenas algumas.

É a segunda vez que Sioduhi vai à ilha Tupinambarana. Ano passado, ele fez um desfile de moda na cidade no âmbito do projeto Amazon Poranga Fashion. Neste ano, além do projeto, ele entrou na arena.
“Em certo período da história, o festival ficou apenas na folclorização, sem senso crítico, sem escuta dos povos originários, sem a escuta desse lugar da cosmologia sobre a canoa, cobra grande, seres humanos e não-humanos, por exemplo”,
disse.
Sioduhi acrescentou:
“Muitas vezes, os bois se debruçaram em literaturas, mas eram insuficientes porque os próprios organizadores do festival não tinham uma plena compreensão do mundo indígena. Entre dois e quatro anos para cá, vejo um movimento acontecendo no festival. O Caprichoso tem estado à frente na escuta dos povos originários, no debate sobre mudanças climáticas, proteção e gestão territorial, fazendo denúncias”.
Conforme o estilista, o festival de Parintins tem um papel culturalmente importante para a educação.
“Você vem aqui, ouve as toadas, vê a composição e construção estética, e isso tudo tem uma missão de sensibilizar as pessoas, desde que você esteja aberto para isso”.
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Mudança
Ele avaliou que o Garantido está entrando nesse processo de mudança para poder abraçar e escutar os povos originários.
“Não somente escutar, mas trazer pessoas indígenas para dentro do planejamento artístico do boi. Então, esse é o movimento que tem que ocorrer. Estamos falando do estado mais indígena do Brasil, um festival que fala das histórias dos povos indígenas e de toda essa diversidade amazônica que é abordada no bumbódromo. Se você não traz esses povos para contar essa história junto com você, é um equívoco e um desleixo muito grande”.
Conforme Sioduhi, ele acompanha de perto esse processo nos bois.
“Eu fico maravilhado com isso, é um orgulho. Porque até ontem nós, indígenas, nem podíamos pisar dentro da arena direito”.
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Fotos: Juliana Oliveira/ especial para o BNC Amazonas