Em noite de “Encontros” formado por um mosaico de saberes o Boi Caprichoso apresentou o segundo espetáculo do projeto “ Sabedoria Popular – Uma Revolução Ancestral” reafirmando que o Boi de Negro do Brasil, é o Boi Caprichoso. A nação azul festejou a ancestralidade como ponto de partida para a revolução cultural e social do povo de Parintins. Uma grande caravela e o Mostro Marinho anunciaram a chegada da Marujada de Guerra do levantador de toadas, David Assayag, e o Apresentador Edmundo Oran, no encontro cultural das nações. De um lado a matriz africana e de outro os colonizadores. Alegorias dos artistas Aldenilson e Paulo Pimentel estreantes do festival. A Alegoria Lenda Amazônica, Sissa, “Um encontro de amor” abriu o espetáculo azul, e o canadense Alexander, voou mais uma vez na arena trazendo o estandarte para Marcela Marialva. Em momento coreográfico o Caprichoso celebrou a chegada dos tupinambás, os brancos e o processo de colonização em evolução com o pajé Neto Simões. Símbolo da prosperidade, econômica e cultural, o Teatro Amazonas edificado sob as lágrimas de milhares de caboclos fez parte do cenário da Figura Típica Regional “O Caboclo Seringueiro”. Além da esperança e saudade os nordestinos carregaram as sementes da multidiversidade cultural que se revelou na Exaltação Folclórica “Boi de Negro”, alegoria do artista Glaucivan Silva. A Sinhazinha da Fazenda, Valentina Cid, chegou para a sua evolução. O Teatro transformou-se em um altar ancestral sem fazer alusão ao sofrimento, mas a um boi que afagava as dores nas senzalas. Na bagagem os homens trouxeram o candomblé trazido da África mãe e transfigurado na cultura brasileira resultando na Umbanda e no Catimbó dos terreiros caboclos. Com a alegoria formou-se o cenário para a execução da Toada, Letra e Música “Boi de Negro” Nessa trama o Caprichoso reverenciou os orixás que regem o ano de 2018 e os traços estéticos presentes na festa do boi-bumbá consagrando o Caprichoso, como Boi de Negro, de nascedouro afro descendente como a Rua Sá Peixoto no Bairro da Francesa em Parintins e de nome herdado pelos quilombos na Praça 14 em Manaus. Os grupos folclóricos Caxemira, Arte Sem Fronteiras, Maracatu, Quilombos, Carimbo do Pará completaram a cênica. No contexto da alegoria a carruagem de bois trouxe a búfala de ouro, conduzindo a Rainha do Folclore Brena Dianná que mais uma vez emocionou a galera por tratar de sua despedida. Logo em seguida surgiu o Boi Caprichoso. A vaqueirada fez uma das mais belas evoluções. Reunidas em um Dabacuri as tribos do Boi Caprichoso festejaram as tradições costumes e crenças do povo indígena sateré mawé que continuam lutando e resistindo contra todas as adversidades. A Cunhã-poranga Marciele Albuquerque , surgiu na alegoria. O Caprichoso finalizou a apresentação com a evolução do Ritual Transcendência Ianomâmi da equipe do artista Kennedy Prata. A evolução foi comemorada por todos pela superação do incêndio ocorrido na alegoria na manhã da última quinta-feira. Nos rituais ianomâmi, acompanhado de outros xaboris (xamãs), Kopenawa (pajé) aspira yakoana, o pó de uma resina retirada das árvores, e se concentra nos cantos xamânicos. Enfrenta dessa forma a xawara, a “epidemia-fumaça” produzidas por suas “máquinas” (maquinários de garimpo, motores de aviões e helicópteros) e à queima de suas possessões (mercúrio e ouro). Há décadas os garimpeiros sabem da existência do metal. No ritual o artista reproduz através da tecnologia animais transformados em máquinas na visão dos ianomâmi. Nos dias atuais Kopenawa continua o trabalho de enfrentar a “epidemia-fumaça” produzida pela ganância capitalista. O pajé Netto Simões surgiu em um escorpião-rei e fechando a apresentação. Com a toada “Sensibilidade” traduzida em libras pelos alunos surdos do Liceu de Artes, o Levantador de Toadas David Assayag emocionou a galera que foi um show à parte. A apresentação contou com a participação do músico Sebastião Tapajós. Fotos: BNC e Pedro Coelho