Por Náferson Cruz
Produtor musical, cantor e compositor, com mais de 40 anos de estrada, Sidney Rezende, 61 anos, sempre teve em suas veias a música. Nascido na comunidade de Fazenda Floresta, à época pertencente ao município de Juiz de Fora (MG), Rezende diz que sua Terra Natal é a “Toada”.
Ele conta que chegou à Manaus em 1988, não passou mais que um ano e, logo, foi morar em Parintins, onde conheceu a “Turma de Fé” da Baixa do São José, Paulinho Faria, Fred Góes e companhia.
A partir daí, Sidão, como também é conhecido, deu início as composições no Boi Garantido e, consequentemente, foi integrado ao grupo Regional Vermelho e Branco. Em 1993, o grupo lança o primeiro vinil e, Sidney, deslanchou na carreira, chegando a participar de programas televisivos de grande audiência no País.
No mesmo ano, Sidney foi um dos responsáveis pela introdução do violão na arena do Bumbódromo. Além das composições, lançamento de outros projetos musicais do Regional Vermelho e Branco, numa década (90) que ficou conhecida como a “era de ouro” do Festival, Sidney atuou junto com Fred Góes, como os produtores musicais do CD “Garantido: 500 Anos do Passado para Construir o Futuro”, considerado como uma das melhores produções em duas décadas de festival.
Este ano, Sidney, fez parte da produção do CD 2018 do Caprichoso e atuará como back vocal nas três noites de apresentação do azul e branco no Bumbódromo. Na entrevista, concedida ao #Toadas, Sidney, também fala sobre seus novos projetos, preconceito e reconhecimento.
#Toadas: O que lhe motivou a vir para o Amazonas?
Sidney Rezende: Cheguei na capital amazonense em 1988, vindo de São Paulo, para abrir em sociedade na área gráfica com uma amiga, Jane Damian, empresa chamada “Espaço Comunicação”. Estava desacorçoado de São Paulo, então, decidir vir para Manaus junto com a minha esposa na época. Antes de conhecer Parintins participei do Fecani em 1989, fiquei em segundo lugar como melhor letra, parceria com uma amigo e poeta de Belo Horizonte e, no final desse ano, a minha mulher recebeu um convite para trabalhar em Parintins, foi quando tudo começou.
Em 1993, Rezende foi um dos responsáveis pela introdução do violão na arena do Bumbódromo. Ao lado dele, Paulinho Faria, João Batista Monteverde e o pequenino – João Paulo Faria
Como iniciou seu com elo com as toadas?
S.R: A primeira vez que escutei uma toada foi num show no Clube do Trabalhador, acho era o Arlindo Júnior, cantando. Tentei até dançar o “dois pra lá, dois pra cá”, foi paixão à primeira vista, principalmente, em relação ao ritmo, muito diferente do que é hoje, já tinha uma dinâmica que me interessou muito e, a partir daí, percebi que seria irreversível a minha paixão pela “minha Terra Natal, a toada”.
Como foi a recepção em Parintins?
S.R: Em Parintins, a Eliete Faria, jantando com a família, me convidou para ir a uma festa que ia acontecer no dia seguinte na casa de Maria Ângela, lá conheci Bené Siqueira, Fred Góes, George Jucá, Jair Mendes e Paulinho Faria, um mundo de gente maravilhosa.
E o convite para o seu ingresso na toada, como se deu?
S.R: Foi na casa de Dona Maria Ângela. Lá, fui convidado a participar de um ensaio musical do grupo Regional Vermelho e Branco, no Ilha Verde. Peguei um contrabaixo branco, meu primeiro instrumento no boi, desde aquele momento, já era membro do grupo e altamente apaixonado pela toada e por Parintins.
Sidney com seu primeiro instrumento musical no Garantido (baixo branco) ao lado de “Porrotó”
Mas, em Manaus você disse no início da entrevista que esteve no show do Arlindo Júnior, então seu primeiro contanto foi com o Caprichoso?
S.R: Sim, fui no barco com destino a Parintins cantando as primeiras toadas que tinha aprendido de Raimundinho Dutra, Carlos Magno (Pato), todas antigas do Caprichoso, aliás uma história interessante, foi que quando cheguei na Ilha, mergulhei na piscina de Dona Maria Ângela e no universo do Garantido. Raimundo Dutra foi de cara meu ídolo, Carlos Magno, Chico da Silva, Emerson Maia e Paulinho Faria, me influenciaram muito e delinearam o meu caminho na toada.
Sidney celebrando a amizade com Fred Góes, produtor musical, jornalista e compositor
Qual foi sua primeira composição?
S.R: Minha primeira toada foi em 1991, “no brilho da lua, vai cantar meu povo, vai soltar a voz pra sorrir de novo”, uma parceria com Fred Goés. Logo depois fiz essa, “vem descer o rio morena, vem pra grande festa, pra dança da minha ilha, onde junho é soberano, onde brinco todo ano, sou feliz com meu bumbá”.
São toadas lindas?
S.R: Sim, esta última que cantei está cotada próximo disco antológico do Garantido. Fiz ainda “Manauara Morena” e essa aqui: “Eu irei Andirá pelo rio Marau navegar…”, parceria com o “cabocão” Emerson Maia, um grande ídolo, compõe inspiradamente de forma sublime. A toada e o Amazonas devem muito a ele.
Você se sente reconhecido por tudo que fizeste pelo Festival?
S.R: Reconhecimento é uma palavra até difícil, o tempo todo você está fazendo coisas boas, mas, quando você é de fora, como é meu caso, o reconhecimento é retardado naturalmente, porque você não é daqui, mas, enfim é um preconceito e convivo com isso.
Rara homenagem feita a Sidney Rezende
Você pensou em desistir?
S.R: Não, isso nunca me fez sofrer, tanto é que eu pretendo ter algum dia voz na Câmara dos Vereadores e poder falar sobre isso. Até hoje, não sou “cidadão parintinense”, inclusive já fui homenageado em Parintins, mas pela Secretaria de Cultura do Estado, enfim, o reconhecimento mesmo só quando as pessoas que, realmente, fazem a história do Festival de Parintins te cumprimentam na rua “ei Sidão, Sidão’, isso é legal, sou muito agradecido a essa cidade e a essa cultura por tudo isso que me proporciona.
E a sua estreia como produtor musical, como foi?
S.R: Foi em 1998, a convite de Fred Góes, mas desde o primeiro CD do Garantido estive envolvido com os arranjos, produção e liderança de certa forma, sendo que a maior produção foi em 2013, porque tive que ir a São Paulo duas vezes, a primeira para afinar o João Batista Monteverde e Nelsinho Bulcão e, retornei à capital paulista 15 dias depois para ajustar a mixagem. Outro trabalho memorável foi em 2001, ano em que foi lançado um CD duplo, tive até uma toada, “Nações Extintas”, quando as pessoas começaram a perceber um pouco mais de Sidney Rezende nas toadas.
Como foi a sua participação no Regional Vermelho e Branco?
S.R: Quando entrei no Regional Vermelho e Branco, o Paulinho Faria era o grande líder, então começamos a fazer shows e ensaiar, era uma loucura. Numa época, estávamos no clube Nostalgia em Manaus, e não tínhamos um cantor, eu era contrabaixista e nesse dia decidir ir para frente, junto com o Galeto, Paulinho Du Sagrado e Zeca Dantas, cada um com seu instrumento. Em seguida soltei minha voz e naquele dia em diante disse: “gente, sou o cantor de vocês vamos seguir”.
Sidney Rezende (branco) antes da apresentação com o Regional Vermelho e Branco
De que forma se deu a projeção do grupo?
S.R: Lançamos um vinil em 1993, primeiro do Regional Vermelho e Branco. Um ano depois, foi veio o primeiro CD por meio da multinacional BMG Ariola.
Como vocês conseguiram isso?
S.R: Conseguimos por meio de um contato do Chico da Silva e, posteriormente, lançamos o terceiro projeto, o CD pela Amazon Records, que depois passou a se chamar Atração. Em 1995, lançamos o CD “Dança da Tribo”, (1996) “Javari” e em 1997, o último trabalho, “A Era dos Pajés”. Após um ano, lancei o CD independente “Chama”, estava alçando carreira solo.
O que significou o Regional Vermelho e Branco na sua vida?
S.R: O “Regional” é tudo na minha vida em termos de reconhecimento, porque foi através desse grupo que pude conhecer Ana Maria Braga, Raul Gil, Serginho Groisman e programas de rádio. Só para você ter uma ideia o disco “A Era dos Pajés” foi mixado em Miami, foi uma grande avanço, teria alcançado sucesso nacional permanente se tivéssemos insistido, só que vendemos 17 mil copias e, naquela época, para assegurar um contrato com uma gravadora teríamos que vender 20 mil copias, então perdemos a possibilidade de renovar o contrato, entretanto, se tivéssemos alcançado seríamos um nome estabelecido de sucesso no País.
Porque você deixou o Garantido?
S.R: Praticamente não tinha nada para eu fazer no Garantido, enfim, teria só um trabalho na arena como back vocal, aí recebi um convite do presidente do Caprichoso, Babá Tupinambá para somar junto a equipe de produção do CD. O trabalho este que começou desde a escolha das toadas, achei fabuloso não só pela quantidade de trabalho, mas pela oportunidade de trabalhar com David Assayag, Neil Armstrong e Labamba. Nós quatro somos os produtores do CD deste ano, agora estou me preparando para atuar como back vocal na arena, junto com a equipe maravilhosa, enfim, estou muito feliz com o resultado das toadas, o disco está maravilhoso.
Sidney participou da escolha das toadas e como produtor do CD 2018 do Caprichoso
Você atuou em outras ocasiões diretamente com o David Assayag, qual foi a reação dele ao saber que você estava indo para o Caprichoso?
S.R: Era o sonho de David, retornar a parceria na produção e que retomássemos aqueles bons velhos tempos, com a aquela sonoridade gostosa, a cadência do boi batendo na alma, estou muito feliz com tudo que aconteceu, além da emoção e felicidade de estar participando de um projeto cultural grande. Gosto muito do caprichoso pois há toadas do Caprichoso que nunca me saíram da cabeça e são as minhas preferidas também.
Que projeto no segmento musical você tem para o futuro?
S.R: Pretendo ativar minha empresa de produção artística e musical e também há projetos de grandes gravadoras de São Paulo e outros envolvendo os bois e Parintins. Também pretendo voltar a minha cidade Fazenda da Floresta com o intuito de desenvolver um documentário e ainda, estou vislumbrando levar um show de boi-bumbá a Juiz de Fora, próximo de onde nasci, contudo, estou analisando tudo isso com muita sabedoria e tranquilidade.
Fotos: Arquivo pessoal