O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), enviou ofício ao ministro da Justiça, Torquato Jardim, pedindo a abertura de investigação de denúncia publicada pela revista “Veja”.
O periódico publicou mensagens da advogada Renata Gerusa Prado de Araújo, ligada ao grupo empresarial J&F , controlador da JBS, e Dalide Corrêa, funcionária do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), de propriedade do ministro do STF.
Dalide, que é apontada como pessoa de confiança de Gilmar, teria sido procurada pela advogada que estaria temerosa que a delação de executivos da JBS comprometesse o ministro, além dela própria. “Dalide ferrou o Gilmar”, segundo a advogada em publicação no site Brasil 247.
A troca de mensagens entre Renata e Dalide foi encaminhada ao Ministério Público Federal (MPF) por Pedro Bettim Jacob, ex-marido da advogada.
Em uma das conversas gravadas por Bettim, Dalide teria dito que sabia que o diretor jurídico da JBS Francisco de Assis e Silva seria a única pessoa que poderia barrar possíveis implicações da delação de executivos do grupo empresarial contra Gilmar e sua pessoa de confiança.
Ainda segundo a publicação, o temor era que o material fosse repassado à Procuradoria Geral da República.
“Dalide ferrou o Gilmar”
Para evitar esta possibilidade, Dalide teria contatado a desembargadora do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1), Maria do Carmo Cardoso, mãe de Renata, pouco tempo depois do teor das primeiras delações da JBS serem reveladas.
“Aí minha mãe (desembargadora federal Maria do Carmo Cardoso) falou: ô, Renata, você tem que garantir que com a Dalide não acontece nada, eu gosto muito da Dalide”, disse Renata na conversa gravada por Bettim.
O ex-marido de Renata também teria ressaltado a necessidade de preservar Gilmar Mendes no episódio. “Isso. Óbvio. Mas a Dalide primeiramente. A Dalide ferrou o Gilmar”, disse Pedro Bettim para, posteriormente, afirmar que o próprio Gilmar teria pedido que ela resolvesse a situação.
“Tendo em vista as graves ilações publicadas na Revista Veja, Edição 2547, ano 50, n. 50, data de 13.9.2017, na matéria intitulada ‘O que a JBS não contou’, solicito imediata instauração de investigação a respeito das declarações constantes na referida matéria, para que assim fiquem desde logo esclarecidos os fatos e as circunstâncias em que prestadas. Coloco-me à disposição para demais esclarecimentos”, destacou Gilmar Mendes no ofício encaminhado ao ministro da Justiça.
Joesley Batista, em visita ao IDP, de Gilmar Mendes (visto ao fundo com Delide), antes da delação do empresário Foto: Reprodução/O Antagonista
Gilmar e o IDP
De acordo com o site O Antagonista, Joesley Batista usava o IDP, de Gilmar Mendes, como seu quartel-general em Brasília, especialmente para tratar de assuntos jurídicos.
Rodrigo Rangel, da revista Crusoé, revela que, no ano passado, a PF investigou uma denúncia envolvendo o nome de Dalide, a faz-tudo de Gilmar Mendes.
A JBS, ainda de acordo com a publicação do O Antagonista, numa das reuniões realizadas no IDP, tentou reduzir o valor da multa de seu acordo de leniência de R$ 11 bilhões para R$ 3 bilhões.
Para se aproximar dos juízes que cuidavam do caso, a empresa de Joesley Batista teria oferecido uma bolada de R$ 200 milhões.
A reportagem da Crusoé teve acesso à investigação e conta todos os seus detalhes.
Foto: José Cruz/Agência Brasil