Depõe à CPI um dos que lucraram milhões com kit covid de Bolsonaro

De acordo com relatórios de posse da CPI, as vendas da ivermectina saltaram de 24,6 milhões de comprimidos em 2019 para 297,5 milhões em 2020 — um crescimento superior a 1.105%

Governo Bolsonaro, enfim, diz cloroquina e 'kit covid' não funcionam

Publicado em: 11/08/2021 às 10:36 | Atualizado em: 11/08/2021 às 18:50

O lucro de empresas farmacêuticas com a venda de medicamentos sem eficácia para o combate ao coronavírus deve ser o foco da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid nesta quarta-feira (11).

Os senadores ouvem o diretor-executivo da Vitamedic, Jailton Batista. A empresa produz medicamentos que fazem parte do “kit covid” que o governo Jair Bolsonaro propagandeou em vários momentos.

De acordo com relatórios de posse da CPI, as vendas da ivermectina saltaram de 24,6 milhões de comprimidos em 2019 para 297,5 milhões em 2020 — um crescimento superior a 1.105%.

O preço médio da caixa com 500 comprimidos subiu de R$ 73,87 para R$ 240,90 — um incremento de 226%.

Vitamedic também foi alvo de um requerimento de informações aprovado em junho pela comissão.

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Em agosto de 2020 a Vitamedic anunciou investimentos da ordem de R$ 320 milhões para expansão do parque fabril no Distrito Agroindustrial de Anápolis, em Goiás.

Entre os produtos que puxaram o crescimento da empresa estava, justamente, a ivermectina, medicamento sem eficácia contra a covid e que, apesar de servir apenas ao combate à vermes intestinais, foi defendido publicamente pelo presidente Bolsonaro como aconselhável para pessoas com coronavírus.

CPI confirmou ineficácia do kit

O Ministério da Saúde admitiu em documentos enviados à CPI da Covid essa semana que medicamentos que compõem o chamado “kit covid”, são ineficazes contra o vírus. O presidente Jair Bolsonaro é o principal defensor do uso dos remédios.

“Alguns medicamentos foram testados e não mostraram benefícios clínicos na população de pacientes hospitalizados, não devendo ser utilizados, sendo eles: hidroxicloroquina ou cloroquina, azitromicina, lopinavir/ritonavir, colchicina e plasma convalescente. A ivermectina e a associação de casirivimabe + imdevimabe não possuem evidência que justifiquem seu uso em pacientes hospitalizados, não devendo ser utilizados nessa população”, diz documento.

Duas notas técnicas foram entregues à comissão por um pedido do senador Humberto Costa (PT-PE).

Os medicamentos são os mesmos usados para tratamento precoce, que são defendidos por apoiadores do governo. Além disso, foram indicados pelo aplicativo do Ministério da Saúde, TrateCov, em Manaus (AM) em janeiro, no auge da crise de oxigênio no estado. A plataforma saiu do ar após a pasta alegar invasão hacker.

Em suma, a CPI apura se a existência de um gabinete paralelo ao Ministério da Saúde influenciou o atraso na compra das vacinas. Dessa forma, ajudou no favorecimento de laboratórios e a compra de medicamentos do “kit covid” sem eficácia para o tratamento da doença.

Foto: EBC