Vencedor do Prêmio Nobel da Paz, o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) Philip M. Fearnside foi alvo de ataques xenófobos sobre a BR-319.
O episódio ocorreu durante uma tumultuada audiência pública sobre o licenciamento ambiental para a pavimentação da BR-319, na segunda-feira (27) à noite, em Manaus.
Segundo a Folha de S. Paulo, o projeto tem sido apontado pelo ecólogo americano e por outros especialistas como a maior ameaça atual à Amazônia.
Ou seja, ao viabilizar a grilagem e o desmatamento de uma imensa área intocada de floresta.
“Como é que pode vir um cara lá dos Estados Unidos aqui? Como é que pode o cara vir de lá dizer o que eu vou fazer na minha casa. Essa casa é nossa. Se a gente quiser derrubar todas as árvores, a gente derruba. É nossa”, disse, ao microfone e sob aplausos, o líder do Movimento Conservador Amazonas, o curitibano Sérgio Kruke.
Ataque bolsonarista
O ataque do bolsonarista ocorreu logo depois de Fearnside ler um texto em que faz duras críticas à obra.
De acordo com o ecólogo, o asfaltamento da BR-319 não tem justificativa econômica e ameaça um imenso bloco de floresta.
Como resultado, ele defende o desmatamento ali diminuirá as chuvas no Sudeste.
O pesquisador americano afirmou que o Estudo de Impacto Ambiental (EIA), que considera a obra viável como a construção de uma rodovia estadual entre os rios Madeira e Purus, uma área sem desmatamento.
Fearnside, 74, mora na Amazônia há 45 anos. Em 2007, ele foi um dos agraciados com o Prêmio Nobel da Paz, ao lado de milhares de outros cientistas.
Nesse sentido, para defender a pavimentação, Kruke, 41, não citou nenhum estudo.
Por exemplo, nas redes sociais, ele costuma postar fotos ao lado de estrelas do bolsonarismo, incluindo o próprio presidente.
Em 2020, foi candidato a vereador pelo PRTB —a sigla do vice-presidente, Hamilton Mourão— e obteve 42 votos.
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Audiências
Dessa forma, o foco das audiências e do EIA é o chamado Trecho do Meio, com 405,7 km de estrada de terra.
A princípio, a proposta de pavimentação está na fase inicial de licenciamento (licenciamento prévio), com o EIA e o Relatório de Impacto Ambiental (EIA/Rima) sob análise do órgão licenciador, o Ibama.
Para esse processo, no entanto, o Ibama não acionou a sua Coordenação de Transporte (Cotra), como tem sido a praxe para licenciamento ambiental de rodovias.
Por isso, questionado, o órgão informou, via assessoria, que escolheu “uma equipe técnica multidisciplinar com mais de dez anos de experiência no Ibama, com ampla participação em procedimentos de licenciamento em todo o país”.
Em entrevista por telefone, a secretária de Apoio ao Licenciamento Ambiental e à Desapropriação do Programa de Parcerias de Investimentos da Casa Civil, Rose Hofmann, afirmou que, além das quatro audiências públicas presenciais, haverá consultas às comunidades indígenas, ainda sem data.
Portanto, ela assegurou que a eventual licença prévia para pavimentar a BR-319 só sairá após cumprida essa etapa.
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Foto: Inpa/Ascom