Primeira nortista e negra a presidir a União Nacional dos Estudantes (UNE), entidade máxima dos estudantes brasileiros, a amazonense Bruna Brelaz tem sido alvo de discursos misóginos e racistas nas redes sociais.
Uma entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, no último domingo (17), na qual ela defendeu a necessidade de uma frente ampla na campanha pelo impeachment de Bolsonaro, foi o estopim para que a jovem recebesse ataques de setores da própria esquerda.
Na entrevista, ela fala sobre os ataques que sofreu ao participar do ato convocado pelo o movimento de direita MBL e seus encontros com o ex-ministro Ciro Gomes e os ex-presidentes FHC e Lula, tudo em prol da unidade contra Bolsonaro.
O jornalista Breno Altman, editor do Opera Mundi, considerou a entrevista dela ao jornal paulista uma “aberração”, pois estaria transitando entre a frente anti-Bolsonaro para uma outra frente contra o PT e Lula.
“Chega a ser engraçado. Não quero entender como síndrome de perseguição. Se a matéria foi lida, está bem evidente que faço um reconhecimento a Lula e ao PT nessa luta. E cobro, assim como todos os campos de direita, centro e esquerda, a pressa em derrotar Bolsonaro. Ponto”, respondeu a amazonense que é filiada ao PCdoB.
“A aberração é o destaque dado por tão importante jornal a uma jovem mulher negra, filha da periferia de Manaus”, defendeu Luana Bonone, doutoranda do Programa de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Para ela, ao se referir genericamente à entrevista como “aberração”, sem identificar qual foi o absurdo dito, o jornalista recorreu ao expediente da desqualificação racista e misógina.
Dessa forma, Luana Bonone diz que a fake news de Breno Altman contra a presidente da UNE alimentou um discurso de ódio racista e misógino.
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Ataques
Após as críticas do jornalista de esquerda, pipocaram ofensas a Bruna Brelaz na esquerda. “Vc precisa ser hostilizada na rua traidora safada”, postou no Twitter Marinho Silveira.
“Aí gata…vai estudar, gasta esse ódio com coisas produtivas. Nós temos uma eleição para ganhar e vc te as bolas do ciro para lamber, é o que resta pra vc e para ele”, escreveu no Twitter Ronaldo Trindade.
O ator José de Abreu, que pretende ser candidato a deputado federal pelo PT, compartilhou a entrevista dela à Folha com os dizeres “vergonha”.
“Mais uma negra a serviço da casa-grande”, tuitou a conta de Miguel Graziottin, atualmente apagada.
“Mais uma negra a serviço da casa-grande”, diz o título de um artigo de Juliano Lopes, membro da direção nacional do PCO.
“Faço minhas as palavras de Miguel Graziotin, logo no título desta coluna, para deixar claro que é o mais puro peleguismo, o da presidenta da UNE (União Nacional dos Estudantes), Bruna Brelaz, defender descaradamente, na imprensa golpista, a frente ampla”, afirmou.
“Não tem misoginia, racismo e discurso de ódio que nos silencie”, respondeu Bruna, que já entrou em contato com advogados para processar quem lhe ofende.
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Solidariedade
Na mesma proporção dos ataques, surgiram apoio de solidariedade a amazonense. “Ser mulher negra, jovem, nortista e querer o diálogo deve incomodar muito. Siga firme com a sua coragem!”, escreveu no Twitter a ex-senadora Marina Silva (Rede).
“Minha solidariedade à presidente da UNE, que tem sido vítima dos mais covardes ataques. Seu trabalho à frente da UNE tem sido exemplar ao defender os estudantes e o Brasil. Que se investiguem os ataques e se punam os criminosos”, publicou Ciro Gomes (PDT).
Centrais sindicais, deputados federais, e o cantor Tico Santa Cruz escreveu: “Força, Bruna Brelaz! Estamos com você”.
Alvo constante de ataques nas redes, a ex-deputada Manuela d’Ávila (PCdoB) mandou um recado a correligionária: “Estamos juntas enfrentando o ódio, a misoginia e o racismo com o qual lhe atacam.”
“A Bruna, uma liderança que vi se formar e crescer politicamente no nosso Amazonas, manifesto não só solidariedade, mas a disposição de juntas continuarmos o enfrentamento à cultura do ódio, o machismo e a misoginia”, escreveu a ex-senador Vanessa Grazziotin (PCdoB).
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Foto: Reprodução