Ex-funcionário de Carlos Bolsonaro diz que nunca teve crachá

A declaração foi dada no âmbito da investigação que a apura a possível existência de um esquema de "rachadinha" no gabinete do filho do presidente Jair Bolsonaro (PL)

Publicado em: 04/12/2021 às 15:40 | Atualizado em: 04/12/2021 às 15:46

O ex-servidor público Gilmar Marques, que trabalhou no gabinete do vereador do Rio Carlos Bolsonaro de 2001 a 2008, disse ao Ministério Público que não se lembra dos nomes das pessoas com quem trabalhava e que nunca teve crachá.

A declaração foi dada no âmbito da investigação que a apura a possível existência de um esquema de “rachadinha” no gabinete do filho do presidente Jair Bolsonaro (PL).

O MP investiga se Carlos Bolsonaro recebeu de volta parte dos salários de ex-funcionários que trabalharam em seu gabinete. Ele já teve os sigilos bancário, fiscal e telemático quebrados, junto com outras 26 pessoas, e o MP continua ouvindo depoimentos de funcionários investigados.

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Ao depor, Gilmar disse que, apesar de trabalhar por sete anos com Carlos Bolsonaro e receber salário pago com dinheiro público, nunca teve crachá na Câmara do Rio. Em maio, a GloboNews mostrou que a Justiça autorizou a quebra dos sigilos.

Relações

Em setembro, o MP convocou para prestarem depoimentos o casal Gilmar Marques e Andrea Siqueira Valle, que está separado.

Isso porque Gilmar trabalhou com Carlos Bolsonaro de 2001 a 2008, o mesmo período em que a ex-cunhada e ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro, Ana Cristina Siqueira Valle, foi chefe do gabinete do parlamentar.

Andrea é irmã de Ana Cristina Siqueira Valle, que é ex-mulher de Jair Bolsonaro e chefiou o gabinete de Carlos Bolsonaro no mesmo período, entre 2001 e 2008.

Andrea já foi assessora de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados entre 1998 e 2006. Também trabalhou de 2008 a 2018 no gabinete do então deputado e hoje senador Flávio Bolsonaro. Antes disso, foi assessora de Carlos Bolsonaro, de 2006 a 2008, na Câmara dos Vereadores do Rio.

Ela é investigada sob a suspeita de praticar a “rachadinha” tanto no gabinete de Flávio quanto no de Carlos. Andrea foi alvo de quebra de sigilo em duas investigações. No depoimento aos promotores do Ministério Público, ela preferiu exercer o direito de ficar calada.

Relacionamento antigo

Andrea teve um relacionamento com Gilmar Marques, de 62 anos, com quem teve uma filha em 2000. O casal se separou logo em seguida. Em depoimento ao MP, Gilmar contou que, na época em que a filha nasceu, ficou desempregado.

Depois disso, foi procurado pela ex-cunhada, Ana Cristina Siqueira Valle, e comentou que estaria em “vias de perder o emprego”, e que poderia passar por dificuldades para pagar a pensão da filha. Foi aí que, segundo Gilmar, Ana Cristina ofereceu ajuda.

Ela teria afirmado a ele que teria condições de colocá-lo pra trabalhar em um dos gabinetes da família Bolsonaro.

O depoimento

Gilmar trabalhou no gabinete de Carlos por sete anos, de 2001 a 2008, mas disse aos investigadores que não se recorda bem do trabalho que realizava. A função ocupada por ele era a de assessor parlamentar na Câmara do Rio.

Durante todo esse tempo, ele contou aos promotores que morava em Juiz de Fora, em Minas Gerais, a 186 quilômetros do Centro do Rio. De carro, o trajeto dura quase três horas, ou seja, cerca de seis horas para ir e voltar.

Segundo ele, havia muita “flexibilidade no serviço” e que não vinha com frequência ao Rio, mas também não deixava de ir ao trabalho.

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Foto: Márcio Alves/Agência O Globo