Uma campanha de fake news (notícias falsas) orquestrada em redes sociais procura atingir líderes indígenas do Amazonas, principalmente, e, ao mesmo tempo, desarticular o movimento de luta no país.
A Folha de S.Paulo, em reportagem de Fernanda Bassette para o projeto Amazonas – Mentira tem preço, publicado em parceria pelo InfoAmazonia e pela produtora Fala, relata vários desses casos.
Por exemplo, o da cacica Eronilde Fermin Omágua, do povo kambeba, de São Paulo de Olivença, município do Amazonas. Enquanto participava da mobilização nacional sobre o marco temporal de demarcação de terras indígenas, em setembro de 2021, na frente do STF (Supremo Tribunal Federal), ela precisou se defender de mensagens de ódio compartilhadas pelas redes.
“Uma pessoa jogou dois áudios contra mim num grupo de WhatsApp que possui mais de 300 mulheres do Amazonas, dizendo que eu não estava lutando pelos direitos coletivos, que não era comprometida com a causa e que não representava o meu povo”.
Conforme afirmou Eronilde, ela é atacada dia e noite por conta dessa campanha difamatória. Ela diz não conhecer a mulher indígena que a acusou.
Até mesmo quem não estava em Brasília nessa oportunidade também foi alvo de ataques.
É o caso de Milena Mura (foto), líder do seu povo no Amazonas, e outras 400 pessoas, de 17 comunidades, que protestavam contra a tese do marco temporal na rodovia estadual M-254, que liga Manaus a Porto Velho. Ela também sofreu com histórias distorcidas compartilhadas.
“Começaram a espalhar que estávamos em busca de briga política, que queríamos causar arruaça e que estávamos prejudicando o comércio e a saúde, por causa da pandemia de covid-19. Com isso, até mesmo outras aldeias começaram a atacar nossa organização, questionando os objetivos do nosso movimento.”
Segundo Milena, o Conselho Indígena Mura teve de convocar uma reunião extraordinária e reunir lideranças de 34 aldeias para desmentir as notícias falsas.
Para Denise Dora, diretora-executiva da organização Artigo 19 no Brasil e na América do Sul, “a desinformação é uma estratégia”.
“No caso dos povos indígenas, ocorre para ter acesso à terra, aos recursos naturais e às áreas que são constitucionalmente protegidas por serem públicas e por respeitarem a histórica presença dos indígenas”, afirma.
Nos onze grupos públicos do Amazonas monitorados pela reportagem, histórias atacando a mobilização contra a tese do marco temporal também foram compartilhadas. Uma delas, por exemplo, creditava genericamente os protestos a ongs e partidos de esquerda.
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Foto: reprodução/Folha