Povo maraguá do Amazonas vai à ONU denunciar mortes de indígenas
Dois jovens indígenas foram assassinados pela Polícia Militar do Amazonas no rio Abacaxis, em Nova Olinda do Norte, em 2020

Antônio Paulo, do BNC Amazonas em Brasília
Publicado em: 01/03/2022 às 06:00 | Atualizado em: 02/03/2022 às 16:11
O líder indígena Jair Maraguá vai denunciar ao Conselho de Direitos Humanos da ONU o massacre de seu povo, ocorrido na região do rio Abacaxis, no estado do Amazonas, que vitimou quatro ribeirinhos e dois indígenas mundurukus.
Em 3 de agosto de 2020, a comunidade dos maraguás, que fica entre os municípios de Borba e Nova Olinda do Norte, no Amazonas, foi alvo de uma ação policial que resultou na morte de dois indígenas mundurukus na terra indígena Kwatá Laranjal.
De acordo com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), ribeirinhos e indígenas ainda sofrem com a insegurança e com o descaso das autoridades sobre o ocorrido, uma operação policial movida a vingança.
“Indígenas e ribeirinhos seguem denunciando a negligência do Estado brasileiro nas investigações e a falta de proteção às comunidades afetadas”, diz o secretário-executivo do Cimi, Antônio Eduardo de Oliveira.
O massacre dos maraguás no rio Abacaxis é uma das várias denúncias que lideranças e organizações indígenas vão fazer ao Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU).
Assim como o aumento da violência contra os povos originários no Brasil, os discursos de ódio e a política anti-indígena adotada pelo governo federal também estão na lista.
Situação dos povos indígenas
A denúncia pública ocorrerá na 49º sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU (HRC 49), que começa nesta segunda-feira, 28 de fevereiro, e vai até 1º de abril deste ano.
A participação das organizações e lideranças indígenas será por videoconferência, devido à pandemia
O presidente do Cimi, dom Roque Paloschi, arcebispo de Porto Velho (RO) é quem vai apresentar o retrato da atual situação dos povos indígenas no Brasil, agravada pela crise sanitária da covid-19 e pelo o aumento das invasões dos territórios indígenas por grileiros, garimpeiros, madeireiros e outros invasores.
Ente os dados a serem levados ao Conselho da ONU está alto número de mortes ocorridas em decorrência da má gestão do enfrentamento à pandemia, a desinformação e negligência do governo federal.
Liberdade e crença religiosa
Para abordar o tema da sobre liberdade e crença religiosa, a líder do povo guarani kaiowá, no Mato Grosso do Sul, Taty Nhandeva, vai tratar dos constantes ataques contra as casas de reza e rituais tradicionais enfrentados por seu povo.
Segundo a Aty Guasu – grande assembleia dos povos kaiowá e guarani, pelo menos sete casas de reza foram criminosamente incendiadas em 2021.
Já o líder Adriano Karipuna retorna à ONU para denunciar invasões e grilagem na terra Indígena karipuna, em Rondônia.
Em 2021, os karipunas chegaram a processar a União, Funai e o estado de Rondônia por invasões e pela devastação da terra indígena.
De acordo com o Cimi, no ano passado, houve um aumento de 44% no desmatamento registrado na terra em relação ao período anterior, pondo em risco a sobrevivência dos karipunas e dos povos que vivem em isolamento voluntário naquela região.
Violência e discriminação racial
As lideranças indígenas brasileiras e as entidades indigenistas que estarão na HRC 49 da ONU também vão denunciar:
• situação do Brasil, bem como o contexto de violações e violências enfrentadas pelos povos indígenas no país;
• gradual enfraquecimento da política indigenista da Funai e do fortalecimento da pauta governamental contra os direitos dos povo indígenas
• iniciativas autônomas e estratégias para a proteção dos territórios indígenas principalmente dos povos isolados;
• discriminação racial, xenofobia e intolerância, mortes, fome atingem as comunidades indígenas em situação de vulnerabilidade extrema;
• preconceito e o racismo têm sido um agravante do sofrimento vivenciado pelos povos indígenas durante a crise sanitária, em especial quando buscavam atendimento ou assistência.
“Os indígenas brasileiros esperam que as denúncias feitas ao Conselho dos Direitos Humanos da ONU resultem em ações concretas e por isso recorrem ao órgão”, disse o advogado indígena e assessor do Conselho Indígena de Roraima, Ivo Makuxi.
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