Generais são orquestrados por Bolsonaro para golpe nas eleições

A estratégia do presidente conseguiu envolver os militares em seu projeto para tornar as Forças Armadas fiadoras e vigias das eleições

Generais

Mariane Veiga

Publicado em: 13/05/2022 às 15:28 | Atualizado em: 13/05/2022 às 15:38

O presidente Jair Bolsonaro (PL) tenta capturar o Exército para suas ações golpistas desde o início, mas até hoje as Forças Armadas tinham mantido uma distância protocolar de suas tentativas de subverter a ordem constitucional. No entanto, isso pode estar mudando.

Ele tem avançado decisivamente para colocar a cúpula das Forças Armadas a serviço de seu projeto de perpetuação no poder, reunindo no seu entorno um número crescente de oficiais.

A tática é questionar o pleito de outubro. Ele já tinha em seu time Walter Braga Netto, Augusto Heleno, Luiz Eduardo Ramos e Hamilton Mourão, todos com quatro estrelas e egressos do Alto Comando.

Agora, o novo ministro da Defesa também resolveu mudar as prioridades da pasta. Bastou um mês à frente do cargo para Paulo Sérgio Nogueira abandonar o perfil estritamente técnico que lhe era característico para se alinhar por completo ao bolsonarismo.

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No final da tarde do dia 3, após chegar de terno e gravata ao Supremo Tribunal Federal (STF) para uma reunião privada pedida na véspera por ele próprio, o general abandonou sua atitude conciliatória ao pressionar a Corte para que as demandas do Exército sobre o processo eleitoral sejam ouvidas.

Marcada dias após a condenação do bolsonarista Daniel Silveira, a reunião entre Paulo Sérgio e Luiz Fux foi a primeira do general desde a posse como ministro. Aconteceu horas depois de Bolsonaro participar de outro encontro, devidamente registrado nas redes sociais, com o titular da Defesa e os comandantes da Aeronáutica, do Exército e da Marinha.

O tema tratado pelo presidente e os fardados não foi divulgado — o ministério limitou-se a informar que houve uma discussão sobre “assuntos de interesse da Defesa nacional”. Foi um jogo de cena para colocar pressão sobre o tête-à-tête que ocorreria, na sequência, entre Paulo Sérgio e o presidente do STF.

A ação de Paulo Sérgio foi orquestrada por Bolsonaro, que usa os militares para intimidar o Judiciário. Não foi um movimento isolado. Em 28 de abril, ele pediu em carta a Edson Fachin, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a retirada da Comissão de Transparência das Eleições de Heber Portella, general de Divisão indicado ao posto pela Defesa à época da gestão Braga Netto.

Na Corte, avalia-se que Portella havia recebido de Braga Netto a missão de instilar dúvidas para justificar o caos eleitoral. No ofício, o titular da Defesa explicou que centralizaria em si a interlocução com o colegiado. O movimento causou estranheza, sobretudo porque os integrantes da comissão foram elencados em uma portaria. Paulo Sérgio, portanto, não poderia se autonomear.

A reação coube a Fachin. O presidente do TSE irritou-se com o trecho do documento em que Paulo Sérgio critica o fato de não ter sido recebido pessoalmente por ele.

Nos bastidores, o ministro sublinhou que atende a todos e só não teve um tête-à-tête com o general porque o pedido ocorreu de véspera e ele não tinha espaço na agenda.

Interlocutores de Fachin ressaltam que, depois disso, ele não voltou a ser procurado e, por isso, veem o documento como um pretexto para dizer que o tribunal estaria dificultando a participação das Forças Armadas no processo. Ou seja, era apenas mais munição para Bolsonaro desastibilizar as eleições.

Na última quinta-feira, Fachin insistiu que “a Justiça Eleitoral está aberta a ouvir, mas jamais a se dobrar a quem quer que seja. O processo eleitoral é um tema civil”. E emendou: eleição é assunto de “forças desarmadas”.

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Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil