Ramos acusa Bolsonaro e diz que vice da Câmara ‘é menor que povo’
Deputado do Amazonas fez discursos contundente, em plenário, nesta terça-feira. Eleição para os novos cargos acontece amanhã, 25

Antônio Paulo, do BNC Amazonas em Brasília
Publicado em: 24/05/2022 às 20:26 | Atualizado em: 24/05/2022 às 20:26
Às vésperas da nova eleição para os três cargos vagos da mesa diretora da Câmara dos Deputados – votação ocorre nesta quarta-feira (25) às 13h55 – o agora ex-vice-presidente da Casa, Marcelo Ramos (PL-AM) cumpriu o que havia prometido:
Subir à tribuna e fazer um discurso para esclarecer os motivos da destituição do cargo para o qual foi eleito, em fevereiro de 2021, com 396 votos dos colegas deputados.
Ramos e outros dois parlamentares perderam os cargos na mesa porque trocaram de partido, ferindo assim o regimento interno da Câmara.
Nesta terça-feira, 24, às 18h44, diante de quase 400 parlamentares, Marcelo fez o aguardado discurso. Foi calmo, sem grandes ressentimentos, mas contundente ao ponto de obrigar o presidente Arthur Lira (PP-AM) a lhe responder logo em seguida.
Com um plenário cheio, com quase 400 deputados presentes, Marcelo iniciou dizendo que “os ideais e a honra de um homem não cabem em cargos”.
Dessa forma, aprendeu a não se deixar mover por vaidade e a se mover pelo que acredita, como a justiça e a democracia.
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Na visão do parlamentar amazonense, a decisão de Arthur Lira, ao lhe destituir do cargo de vice-presidente não foi regimental ou jurídica, mas foi uma decisão política.
Ramos classificou, no entanto, essa decisão política perigosa porque, segundo ele, atenta contra a liberdade e a autonomia do Poder Legislativo.
“Quando o Executivo ataca a democracia, é perigoso. Quando o Legislativo se consorcia com o Executivo para atacá-la, é mortal”, discursou o deputado.
Nesse ponto fala, Marcelo Ramos fazia uma referência direta à pressão do presidente Jair Bolsonaro (PL) para lhe tomar o cargo.
“Tudo resolvido! O presidente [da República] fica com a cadeira de vice da Câmara e eu fico com a minha consciência, com os meus ideais, com a minha dignidade e com o meu compromisso com o Brasil e com o Amazonas”, afirmou.
Em defesa do AM e do Brasil
No discurso, Marcelo Ramos disse que tomou a decisão [de não ficar no cargo] porque não aceitou silenciar aos ataques do presidente Bolsonaro à Zona Franca de Manaus e ao Amazonas. “Eu decidi: meu lado é o lado do povo do Amazonas”
Disse ainda que sai da vice-presidência de cabeça erguida, mas não poderia fazê-lo se se submetesse a trair a confiança do povo do Amazonas para manter o cargo.
Citou ainda outro aspecto que exige dele moderação e responsabilidade: não gastar energia, brigando por cargo, enquanto há 19 milhões de brasileiros que passam fome, 5 milhões de crianças que acordam sem ter o que comer, 12 milhões de desempregados.
Mãos estendidas
No final do discurso, Marcelo Ramos fez uma referência a Arthur Lira. Disse que sempre o respeitou, manteve uma boa relação e nunca pôs as convicções pessoais acima do colegiado de líderes e da mesa diretora.
Falou também que Lira não ganha um inimigo nem mesmo um adversário. Que seguirá respeitando a vontade da maioria dos colegas que o legitima como presidente da Casa.
“Não haverá, de minha parte, agressão ou confronto (…) Esse assunto para mim é página virada (…) Minha indignação democrática será exercida com luta pelos ideais da democracia, com a defesa dos interesses maiores do povo brasileiro e do povo do Amazonas”, afirmou Ramos.
Foto: Paulo Sérgio/Câmara dos Deputados