Cartas de Adélio, o da facada, juram que Bolsonaro é o anticristo
Em 2019, ele foi considerado inimputável pela Justiça por ser portador de doença mental

Publicado em: 28/06/2022 às 09:32 | Atualizado em: 28/06/2022 às 09:32
Nas cartas que escreveu de dentro da penitenciária federal de Campo Grande (MS), onde cumpre uma medida de segurança por causa do atentado a faca contra o então candidato a presidente Jair Bolsonaro (PL), praticado em 2018, Adélio Bispo expõe o que pensa do político que atacou em plena campanha eleitoral.
Entre afirmações desconexas, que a todo o tempo se voltam contra a maçonaria, Adélio diz que Bolsonaro é o “anticristo” e chega a mencionar o episódio da facada. Em 2019, ele foi considerado inimputável pela Justiça por ser portador de doença mental.
“E ao mais o Bolsonaro é o anticristo o (incompreensível) antecessor a besta que era e não é, vem e não vem de linhagens real, são plebeus e são antissemitas e armam ciladas e arapucas para pegar Israel amizades de (incompreensível) hipocresia (sic). O anticristo é brasileiro poderes (incompreensível) corpos de homens e elementos da Terra. No mais o filho do sétimo é um dos anticristos malvados pela maçonaria (incompreensível) a forças terríveis nele e os maçons têm isto como algo de grande experiência o mal que eu vi (incompreensível) por causa da faca o sistema do anticristo e de muitos anticristos naturais e podem nascer setenta deles em todo o Brasil e reinar por setenta anos”, diz um trecho dos escritos.
Em outro, em que também cita o presidente, Adélio escreve, novamente ao divagar sobre a maçonaria, que “Bolsonaro aprecia e usa de reciclado em tudo plástico e brinquedo e (incompreensível)”. E prossegue: “Tiraram nossos corpos novos e não reciclados para dar um material horrível. O anticristo é basicamente uma reciclagem de clans (clãs) de maçonarias com energias ruins como todo o plástico reciclado. Isso é o mundo dos mortos que a maçonaria tem e conhece detalhes”.
Além do atual presidente, os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso também surgem nos escritos. Assim como ataca gratuitamente a maçonaria, Adélio também se volta contra os imigrantes haitianos — que, na visão dele, tiram empregos dos brasileiros, especialmente na região Sul do país.
“É óbvio que o Lula é um leal defensor deste pessoal e até construiria casas gratuitamente para os haitianos e não para brasileiros”, reclama Adélio.
“Em Balneário Camboriú, Florianópolis e Blumenau, brasileiro não tem chance. Até no serviço público municipal colocam eles em cargos de gari, até de atendimentos como farmácias e até hospitais, mesmo que não fala (sic) nossa língua. Na gestão de FHC foi a vez a Filipina e Taiwon (Taiwan) e nunca mulheres, só homens de cunho socialista e anti esquerda como é o Haiti”, diz.
Políticas públicas
Adélio também critica em suas cartas algumas políticas públicas, como o Fies, programa de financiamento do ensino superior criado nos governos do PT.
“O Fies tem que terminar, o gasto do Fies é igual basicamente ao custo de 64 universidades públicas federais (…) Não é bom a mistura de classes, e é isso que o poder público tem feito com as universidades. Misturam plebeus aos nobres, coisa que Deus não faz”, diz.
Leia mais
Bolsonaro requenta vídeo da primeira cirurgia após facada de Adélio
“Quanto ao sistema penitenciário, é bom e viável que 100% dos presídios tenham semiaberto, isso todo o Judiciário concorda, e o sistema de varrição de ruas para o preso do semiaberto com a remuneração claro e valor até acima do normal, exigindo qualidade na limpeza urbana e retirando de circulação os atuais garis e óbvio levando os presos a empregabilidade e de inclusão socioeconômica”, propõe Adélio. “No mais, precisamos de cães para fins de terapias e filhotes poderão ser enviados ao sistema prisional sem passar pela psiquiatria, pois eles não aprovam isso.”
Os textos, analisados pelo psiquiatra forense Guido Palomba a pedido de VEJA, estão repletos de elementos psicopatológicos, segundo o especialista, que demonstram grave distúrbio do pensamento, tanto do curso das ideias (o que é tecnicamente chamado de desagregação) quanto de seu conteúdo (persecutoriedade). Essa última característica se manifesta na forma de delírio de perseguição, como em trechos em que Adélio se refere à maçonaria.
Leia mais na Veja
Foto: reprodução/Poder Judiciário/YouTube