Lula no Amazonas: ‘O que deixa a gente velho é não ter uma causa’
Em comício em Manaus, o candidato Lula prometeu respeito à Amazônia, aos indígenas e aos povos tradicionais. Leia o discurso, na íntegra

Neuton Corrêa, da Redação do BNC Amazonas
Publicado em: 01/09/2022 às 11:48 | Atualizado em: 01/09/2022 às 11:48
Aos 76 anos de idade, o candidato a presidente Lula da Silva (PT) fez neste dia 31 de agosto de 2022, em Manaus, no Amazonas, um discurso com tom de despedida dos palanques e da vida pública após estas eleições.
Em sua sexta campanha presidencial, e caminhando para se tornar o primeiro político a se eleger três vezes presidente do Brasil, pelo voto direto, Lula falou de sua idade e de suas motivações.
“Eu quero voltar porque eu tenho 76 anos de vida. E eu não quero deixar a vida antes de consertar este país e antes de consertar a vida do povo brasileiro”
Lula, em discurso no palanque em manaus na campanha de 2022
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De acordo com o candidato, presidente do Brasil de 2003 a 2010, essa motivação não lhe faz envelhecer.
Na visita de dois dias ao Amazonas, ele afirmou que tem dito isso a seus companheiros.
“Eu digo todo dia para os companheiros: a idade não deixa a gente velho. O que deixa a gente velho é a gente não ter uma causa. É a gente não ter motivação. E eu tenho uma causa. E a minha causa é dar dignidade e dar respeito a 215 milhões de brasileiros que precisam ser tratados com respeito”
Lula, em discurso no palanque em manaus na campanha de 2022
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No discurso para uma enorme plateia, em local da principal via da capital na noite de uma quarta-feira, o ex-presidente da República prometeu que seu governo vai respeitar a Amazônia.
“A gente vai respeitar a nossa Amazônia. Na nossa floresta não haverá mais garimpo ilegal neste país; não haverá mais desmatamento ilegal neste país. Não haverá mais invasão nas terras indígenas neste país”
Lula, em discurso no palanque em manaus na campanha de 2022
Leia e veja, na íntegra, o discurso de Lula no Amazonas
“Não quero deixar a vida sem antes consertar este país”
Lula, 31 de agosto de 2022
Queridos companheiros, eu quero primeiro agradecer, de coração, a presença de cada um de vocês aqui. E de cada uma.
Hoje é uma quarta-feira. Já são 9h da noite, o Flamengo está ganhando de dois a zero, a sucuri já deve ter comido alguém na novela Pantanal e eu estou vendo vocês, aqui, esperançosos para que a gente possa ter uma conversa com vocês.
Eu quero cumprimentar o meu companheiro Eduardo Braga, nosso candidato a governador, o nosso companheiro Omar Aziz, nosso candidato ao Senado.
E, falando o nome deles, eu quero cumprimentar a todas as pessoas que estão aqui, porque cada deputado já foi citado pelo menos umas quatro vezes, aqui. E já têm voto o bastante para se eleger nas próximas eleições.
Eu queria ter uma conversa com vocês, talvez uma conversa muito importante, uma conversa reflexiva.
A primeira coisa que eu queria que vocês compreendessem é que eu tenho consciência de que, quando fui presidente da República, os estados brasileiros, governados por quem quer que seja que estivesse, foram tratados como jamais tinham sido tratados em qualquer momento da história.
Investimento no Amazonas
Eu digo para todos vocês, duvido que algum presidente da República tenha colocado a quantidade de dinheiro para investimentos no Estado do Amazonas que eu coloquei, quando fui presidente da República.
Isso vale para todos os estados.
É por isso que eu tenho dito que não tem outra razão para que eu volte a ser candidato a presidente da República se eu não tiver o compromisso de fazer mais do que já foi feito.
Eu tenho consciência de que o que foi feito foi muito pouco diante das necessidades do povo brasileiro. Por isso, eu quero agradecer a cada prefeito que está presente aqui neste ato.
Quero agradecer a cada vereador, a cada homem e a cada mulher que veio aqui pra gente ter uma conversa muito séria.
Eu tenho noção da quantidade de investimentos que foi feita aqui em parceria com o governo do estado. Eu tenho noção da quantidade de estudantes que entraram na universidade pela universidade que nós criamos.
Eu tenho noção da quantidade de escolas técnicas e institutos federais que nós fizemos nesse país.
Aliás, Aloizio [Mercadante], eu tenho noção da quantidade de portos que a presidenta Dilma fez nas cidades do interior deste estado.
Eu tenho noção da quantidade de casas que nós fizemos pelo país afora com o Minha Casa, Minha Vida, que foi o maior programa habitacional.
Eu tenho noção da importância do PAC, que foi o maior programa de investimentos em infraestrutura que esse país já conheceu em parceria com prefeitos e em parceria com governos de estados.
Eu tenho noção do que foi acabar com a fome no país, reconhecido pela ONU.
Porque eu tinha uma obsessão na minha vida. Eu morei, Eduardo, num quarto e cozinha, quarto e cozinha no fundo de um bar. E a gente dormia num quarto e cozinha com 13 pessoas.
Fome e pobreza
Eu sei o que é uma mulher ficar em pé na beira do fogão e não ter um bocado de feijão com água para colocar no fogo para os filhos comer.
Então, eu tinha uma obsessão: era preciso garantir que cada pessoa desse país pudesse, todo dia, tomar café, almoçar e jantar; que as crianças pudessem tomar um copo de leite antes de dormir e que pudessem tomar um pouco de copo de leite, comecem iogurte na hora que acordar, assim, de manhã.
Eu tenho noção da importância que é para uma mãe ver o seu filho ir para escola com roupinha bonita, com sapatinho bonito.
Eu tenho noção do quanto é importante para um companheiro, uma companheira, sustentar a sua família às custas do seu trabalho, não precisar de favor de ninguém, mas trabalhar e, no final do mês, levar comida para casa às custas do seu suor e do seu sangue.
‘Tenente expulso do Exército’
É por isso que nós geramos 22 milhões de empregos com carteira profissional assinada. É por isso que nós aumentamos o salário mínimo em 74%. É por isso que nós fortalecemos agricultura familiar. É por isso que nós fortalecemos a merenda escolar, porque não tem nada mais sagrado do que uma família ter emprego, ter estudo e de harmonia dentro da família para que a gente possa viver uma vida de amor e não uma vida de ódio, uma vida de progresso e não a vida de destruição, que é isso que está acontecendo nesse país.
E é por isso companheiros que eu tomei a decisão de me candidatar outra vez. Eu quero provar que, se um tenente expulso do Exército não tem coragem de tratar o povo com respeito, um metalúrgico vai voltar para tratar o povo com a decência que o povo merece.
Porque eu nunca utilizo a palavra governar. A palavra correta é cuidar. O governo tem que cuidar das pessoas, cuidar dos mais velhos e cuidar dos mais novos, ter respeito com a mulher.
É por isso que eu quero dizer pra vocês: nós vamos ganhar vamos criar outra vez o Ministério da Mulher, vamos criar o Ministério dos Povos Originários, para que os índios tenham um ministério.
Vamos recuperar a dignidade de cada homem e de cada mulher desse estado. Porque o que nós queremos é apenas respeito, o que nós queremos é apenas viver bem.
Eu sei que o atual presidente já veio aqui a Manaus, mas ele veio a Manaus fazer motociata. Eu não venho fazer motociata. Eu fui visitar a fábrica, onde os trabalhadores produzem as motocicletas, estão trabalhando.
Eu venho aqui pra dizer pra vocês que é possível a gente consertar esse país. É possível fazer mais universidade, é possível fazer mais escolas técnicas. É preciso recuperar o atraso escolar que as nossas crianças foram submetidas por conta da pandemia de dois anos.
Apoio da Venezuela no caos do oxigênio
Eu quero, inclusive, aproveitar hoje, Eduardo, o embaixador da Venezuela que mandou oxigênio para Manaus para salvar vidas aqui apesar do presidente da República ofender tanto a Venezuela.
Foram eles que mandaram o oxigênio que o tenente não teve coragem de mandar ou que o Ministério da Saúde não teve coragem de mandar.
Eu vim aqui para dizer pra vocês que nós vamos consertar o país.
Esse povo vai voltar a ter emprego, esse povo vai voltar a ter estudo, vai voltar, eu falo todo dia, esse povo vai voltar a trabalhar, a ter um salário digno e poder passear. Vai poder, no final de semana, comer um churrasquinho com a sua família e tomar uma cervejinha.
Eu sei que o povo, aqui, gosta de peixe, adora peixe, adora tambaqui, adora pacu, pirarucu. É tudo muito gostoso.
Mas nada substitui uma gordurinha de uma picanha e uma cerveja gelada.
E aí isso que nós vamos voltar a fazer neste país. Eu quero ver as pessoas sorrindo, como vocês estão aí. Eu quero ver as pessoas felizes, eu quero ver a nossa juventude sorrindo, porque vai estudar, porque vai trabalhar e porque vai viver dignamente.
Eu quero que a nossa juventude saiba que, além da gente favorecer a criação de empregos, nós vamos liberar crédito para criar o microempreendedorismo de verdade, para que as pessoas abram os seus negócios. Para que as pessoas possam progredir.
É por isso que eu quero voltar.
Eu quero voltar porque eu tenho 76 anos de vida. E, eu não quero deixar a vida antes de consertar esse país e antes de consertar a vida do povo brasileiro.
‘Cheio de amor’
Eu digo todo dia para os companheiros: a idade não deixa gente velho. O que deixa gente velho e a gente não ter uma causa. E a gente não ter motivação. E eu tenho uma causa. E a minha causa e dar dignidade e dar respeito a 215 milhões de brasileiros que precisam ser tratados com respeito.
É por isso que eu estou aqui. Se eu não tivesse essa vontade, vocês acham que eu teria casado outra vez? Eu casei foi há dois meses.
Da mesma forma que eu casei e tenho amor pra dar por muitos anos, eu tenho força para cuidar desse povo por muitos anos.
Para cuidar do povo da Amazônia, para cuidar do povo do Nordeste, para cuidar do povo que mora na periferia e que muitas vezes é abandonado.
A gente vai respeitar a nossa Amazônia. Na nossa floresta não haverá mais garimpo ilegal neste país; não haverá mais desmatamento ilegal neste país. Não haverá mais invasão nas terras indígenas nesse país.
O Brasil tem muita terra, e quem tentar invadir a terra de vocês, são grileiros irresponsáveis, porque, Eduardo e Omar, o fazendeiro, que planta pra exportar, ele sabe que não pode invadir terra, ele sabe que não pode desmatar, ele sabe que não pode fazer queimada, porque os gringos não vão comprar mais as coisas que eles produzem.
Respeito indígena
Então, nós vamos tratar com respeito as pessoas que sabem respeitar, os índios. E os indígenas, não devem nenhum favor a nós.
Mas somos nós que devemos um favor a eles. Porque eles estavam aqui antes dos portugueses chegar, antes dos europeus chegar.
Por isso, meus companheiros, e minhas companheiras, eu, amanhã, 7h15 da manhã embarco para Belém. Lá em Belém vou encontrar com indígenas também para assumir compromisso com eles.
Depois eu vou no Maranhão e depois eu volto pra São Paulo. Porque depois eu tenho que ir para o Nordeste, tenho que ir para Minas Gerais, para o Rio Grande do Sul, para Santa Catarina, Paraná.
Eu não vou parar até o dia 2 de outubro, até abrir as urnas.
Eu fico torcendo que a nossa Anne (Moura)
Eu fico torcendo que a nossa Ane (Moura) vai ter um filho no mês de outubro. Eu só espero que ela não tenha o filho na hora de votar.
Eu espero que ela tenha o filho um minutinho antes. Assim, ela já volta e o bebê vota também. Eu ganho um voto a mais aqui na cidade de Manaus.
Voto nos aliados
Gente, eu queria que vocês compreendessem o seguinte: Eu preciso, além de vocês votarem em mim, eu preciso que vocês votem em deputados que vão me ajudar.
Eu preciso que vocês votem no senador Omar Aziz. Eu preciso de senador me ajudando em Brasília.
Eu preciso que vocês votem no governador pra eu ter governador amigo pra gente poder trabalhar juntos, porque se vocês apenas me elegerem e não elegerem o meu time de deputados, deputados, a gente não vai conseguir mudar as coisas que são preciso neste país.
Então, na hora de votar, vote nos deputados e deputadas que estão me apoiando; votem no nosso senador Omar Aziz e votem no Eduardo Braga pra gente mudar o Estado do Amazonas, pra gente mudar o Brasil.
Nós precisamos salvar esse país e a gente vai salvar votando no time do Lula no dia 2 de outubro.
Gente do meu coração, queridos companheiros e companheiras, eu quero que vocês saibam que eu tenho um amor profundo por vocês, porque vocês sempre me trataram com muito respeito e eu sempre ganhei eleições aqui em Manaus.
Então, eu quero agradecer do fundo do coração e quero dizer a vocês que ganhando as eleições nós vamos fazer uma festa aqui em Manaus. Nós não vamos fazer motorista. Nós vamos fazer uma caminhada, para que a gente possa abraçar cada um é cada uma de vocês, para que a gente possa dar um beijo no coração de cada uma mulher e de cada homem, pedindo a Deus que nos ajude, que nos dê força pra não aceitar as mentiras que são contadas todo dia pelos nossos adversários.
Um abraço, gente! E até a vitória!
Foto: BNC Amazonas