Bolsonaro veta brasileira para importante papel mundial na OMS
A coluna apurou que o veto veio do alto escalรฃo do governo, em Brasรญlia, gerando uma incompreensรฃo por parte da secretaria da OMS

Diamantino Junior
Publicado em: 29/09/2022 ร s 13:04 | Atualizado em: 29/09/2022 ร s 13:04
Deisy Ventura รฉ uma das maiores especialistas em saรบde pรบblica no Brasil e reconhecida por acadรชmicos e governos estrangeiros. Mas quando seu nome foi sugerido pela cรบpula da OMS para fazer parte do grupo que vai reconstruir o sistema de emergรชncia sanitรกria no mundo, um fato inusitado chegou atรฉ a direรงรฃo da entidade: o Brasil avisou que nรฃo daria seu apoio.
A coluna apurou que o veto veio do alto escalรฃo do governo, em Brasรญlia, gerando uma incompreensรฃo por parte da secretaria da OMS.
Professora da Faculdade de Saรบde Pรบblica da USP, ela estava sendo considerada para integrar o comitรช que avaliaria a revisรฃo do sistema de declaraรงรฃo de emergรชncias sanitรกrias no mundo.
Nas agรชncias internacionais, esse รฉ considerado como o principal legado da pandemia, na esperanรงa que o mundo esteja melhor preparado da prรณxima vez que um surto surgir.
Leia mais
Mรก conduta na pandemia aumentou rejeiรงรฃo da mulher a Bolsonaro, diz Quaest
Deisy Ventura foi uma das principais vozes na denรบncia ao governo de Jair Bolsonaro diante de suas escolhas para lidar com a pandemia da covid-19. Suas investigaรงรตes e anรกlises ainda subsidiaram os trabalhos da CPI da Pandemia, no Senado.
Para a OMS, porรฉm, nรฃo eram suas consideraรงรตes polรญticas ou ideolรณgicas que importavam.
A brasileira รฉ uma das referรชncias mundiais na questรฃo de saรบde e era sua experiรชncia nesse campo que seria usada para um dos trabalhos mais fundamentais do sistema multilateral no perรญodo pรณs-pandemia.
A OMS jรก tinha entrevistada a brasileira e ela estava fazendo parte dos preparativos para o primeiro encontro, marcado para o dia 6 de outubro. O grupo vai trabalhar atรฉ janeiro para receber as propostas dos diferentes governos sobre como reformar a estrutura e fazer o desenho da futura reforma do sistema internacional de declaraรงรฃo de pandemias e emergรชncias sanitรกrias.
Por uma questรฃo de protocolo, a OMS informou que submeteria o nome de Ventura para o governo brasileiro. Mas isso era considerado como uma etapa meramente burocrรกtica, jรก que a especialista nรฃo representaria o Brasil, nรฃo falaria em nome do governo e atuaria de forma independente.
A expectativa era de que nรฃo haveria sequer espaรงo para um veto e, internamente, a consideraรงรฃo era de que o Brasil nรฃo gostaria de ficar de fora do grupo estratรฉgico. Deisy Ventura era o รบnico nome brasileiro.
Mas, nesta semana, o secretariado da OMS foi obrigado a explicar ร candidata que sua nomeaรงรฃo nรฃo ocorreria diante da decisรฃo do governo Bolsonaro de vetar seu nome para compor a lista de lista de especialistas que podem ser consultados pelo Regulamento Sanitรกrio Internacional. O veto, portanto, foi duplo e a brasileira nรฃo poderรก nem fazer parte do trabalho de revisรฃo da OMS e nem ser considerada para a lista de especialistas.
O que chamou a atenรงรฃo em Genebra รฉ que Bolsonaro vetou a especialista depois de sofrer um revรฉs diplomรกtico. O governo nรฃo conseguiu emplacar seu ex-ministro da Saรบde Nelson Teich para uma outra comissรฃo que examinou a resposta dos governos ร pandemia.
Procurado pela reportagem, o Itamaraty nรฃo se pronunciou atรฉ o momento.
Leia mais na coluna de Jamil Chade no portal UOL
Foto: Antonio Cruz/Agรชncia Brasil