Protesto golpista organizado por bolsonaristas em frente ao Comando Militar da Amazônia (CMA) em Manaus (AM) ontem (2) revoltou parentes de vítimas da covid na capital, que foi epicentro da pandemia.
Dessa forma, amigos e parentes de vítimas da doença, que responsabilizam a omissão do governo de Jair Bolsonaro (PL) pelo alto número de mortes. Como mostra reportagem do Brasil de Fato.
Assim, a publicação destaca a manifestação antidemocrática de um pequeno grupo de bolsonaristas se reuniu para pedir “intervenção federal”, em frente ao Comando Militar da Amazônia (CMA).
Sobretudo, o CMA fica em uma avenida que dá acesso ao cemitério do Parque Tarumã, zona oeste, onde foram abertas covas coletivas para acomodar o número avassalador de mortos em Manaus.
Como resultado, quem foi visitar familiares e amigos neste feriado de Finados teve que passar pelo protesto.
Por exemplo, para a professora da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) Marinês Viana de Souza, a data deveria ser um momento de expressar o luto pelas vidas de seus parentes levadas pela pandemia: a mãe, um tio e o cunhado.
“Perdi todos em um intervalo de 15 dias. Manaus foi um centro de terror, de angústia e é triste ter como resposta uma frase ‘não sou coveiro’”, afirmou, referindo-se à fala do presidente Bolsonaro.
Marinês também contraiu covid-19, justo no período em que a saúde na capital amazonense colapsava por falta de oxigênio.
“Somente após uma [decisão] liminar na Justiça eu consegui me internar, já dependente de oxigênio. Ou seja, se não fosse isso, eu ia morrer em casa, como infelizmente muitos morreram”, conta e professora da UFAM.
Desse modo, ela repudiou as manifestações golpistas e afirmou que não entende por que os manauaras defendem um político que desencorajou o uso de máscaras e a aplicação de vacinas.
“Tudo isso [manifestações] para proteger um cidadão que imitou alguém agonizando por falta de ar. É profundamente lamentável do ponto de vista humano”, disse.
Leia mais
Desrespeito
“Eu me sinto extremamente desrespeitada”, disse a pedagoga Ana Paula Diniz. Ela relembra a perda de dois amigos com covid-19, ambos professores.
Uma das vítimas criava sozinha um casal de filhos, que ficou desamparado após a morte precoce da mãe por coronavírus.
É um desrespeito à democracia e às vidas perdidas, às famílias que perderam seus parentes e que ainda estão enlutadas até hoje. Esse é um luto justo, diferente do luto que a gente viu exposto nas redes sociais após a eleição. A tristeza deles [bolsonaristas] pelo candidato deles não ter vencido não é nada perto do sofrimento causado pelas vidas que se foram , afirmou Ana Paula.
Da mesma forma, o servidor público Allan dos Santos Pinto, morador de Manaus (AM), que perdeu o avô durante a pandemia, também relatou indignação.
“Realmente eu acho isso um insulto. São pessoas que não se compadecem com o sofrimento alheio. Essas pessoas só olham para si. Acho uma total falta de respeito. A maioria venceu, e esses atos são antidemocráticos”, afirmou.
Leia mais no Brasil de Fato .
Leia mais
Foto: Alex Pazuello/Semcom