Boulos critica por Manaus ter 600 mil sem água após 20 anos de privatização
A principal crítica ao processo da pós-privatização é que os investimentos feitos pelo setor privado foram irrisórios

Iram Alfaia, do BNC Amazonas em Brasília
Publicado em: 23/11/2022 às 18:08 | Atualizado em: 24/11/2022 às 12:06
Integrante do grupo de trabalho Cidades, da transição do presidente eleito Lula da Silva (PT), Guilherme Boulos (Psol-SP) considerou lastimável a situação de Manaus na área de saneamento. Ele foi o segundo deputado federal mais votado no Brasil.
“Manaus, após 20 anos de gestão privada, tem 12,5% de coleta de esgotos e mais de 600 mil pessoas sem acesso à água. O Instituto Trata Brasil coloca o saneamento de Manaus, 6° maior município brasileiro, em 96º lugar entre os 100 maiores municípios do país”, afirmou Boulos.
Com a promessa de universalização, Manaus já teve quatro concessionárias dos serviços.
São elas: Manaus Saneamento (2000), Águas do Amazonas (2007), Manaus Ambiental (2012) e a atual Águas de Manaus, do grupo Aegea (2018).
A principal crítica ao processo da pós-privatização é que os investimentos feitos pelo setor privado foram irrisórios. Dessa forma, a maior parte dos recursos aplicados é pelo setor público, o que pode explicar o fracasso das concessionárias até o momento.
Apesar dos problemas como a falta de água nas áreas mais pobres e a ausência de esgotos, critica-se que a atual concessionária pratica uma das tarifas mais caras da região amazônica.
No ano passado, por exemplo, a Águas de Manaus tentou aumentar a tarifa de água e esgoto em 24,5%, mas foi impedida por decisão judicial.
Boulos diz que os municípios brasileiros precisam de apoio técnico e financeiro para planejar o setor, especialmente os menores.
“É inadmissível que o setor não tenha um fundo nacional que proporcione a universalização do serviço, como outros setores”, disse.
De forma geral, de acordo com o deputado eleito, os pequenos municípios não são atrativos para a iniciativa privada, já que a busca por maior lucratividade inibe investimento em regiões com demanda menor e, portanto, com menor potencial de retorno financeiro.
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Reestatização
Como forma de resolver o problema, Boulos deu exemplo de alguns países que estão reestatizando o serviço.
“Alemanha, EUA, Canadá, Espanha e França reestatizaram o serviço de saneamento básico. O interesse do lucro sobre a qualidade, a estagnação na expansão das redes de distribuição e a deficiência de órgãos reguladores na prestação do serviço foram as grandes questões”, afirmou.
“Por fim, é importante deixar claro que não cabe à equipe de transição rever legislação. Esse papel é do Congresso. A transição pode sim propor ao presidente Lula revogação ou de decretos do governo Bolsonaro que vão contra a meta de universalizar o saneamento no Brasil”.
Posição da Águas de Manaus
Manaus, 24 de novembro de 2022 – A Águas de Manaus, empresa que assumiu os serviços de água tratada e esgotamento sanitário da cidade em junho de 2018, esclarece que os dados em questão são defasados e não retratam a realidade atual. Desde o início da operação na cidade, a empresa vem realizando investimentos que garantiram avanços significativos no saneamento da capital.
Nos últimos quatro anos, investimos mais de R$ 600 milhões em melhorias. Somos a capital do Norte e Nordeste que mais investiu em saneamento no período.
A cobertura de esgotamento na cidade cresceu 40% nestes quatro anos e a cidade é a que mais avançou em coleta total de esgoto no Brasil, com um incremento de 115,62%, tendo mais do que dobrado o número de ligações de esgoto no período. Atualmente, a estrutura de esgotamento da concessionária já atende 26% da cidade, estando disponível para mais de 500 mil moradores. Com isso, já tratamos diariamente mais de 50 milhões de litros de esgoto por dia, dando a destinação correta aos efluentes e evitando que eles sejam despejados diretamente na natureza.
A previsão é que Manaus chegue a 45% de cobertura de esgotamento em 2025 e a 80% da capital até 2030, conforme as metas estabelecidas em contrato.
No quesito água tratada, o serviço de distribuição está universalizado na capital amazonense e acompanha o crescimento vegetativo da cidade. Nos últimos quatro anos, a concessionária expandiu o acesso à água tratada, com atenção especial às regiões vulneráveis, como becos, palafitas, rip raps e comunidades, que somente a partir deste momento tiveram acesso ao líquido.
Foram mais de 150 Km de rede de água implantados na cidade.
Neste período, a Águas de Manaus também cadastrou mais de 100 mil famílias na Tarifa Manauara, que concede 50% de desconto no valor da fatura, promovendo dignidade para mais de 500 mil pessoas. Somos a cidade do país que proporcionalmente mais protege a população vulnerável.
Publicação atualizada às 12h03
Foto: Marcello Casal Jr./EBC