Conselho de cultura indica Jecinaldo Sateré a ministério; nome não é consenso

Carta aberta, como apoio ao líder indígena de Barreirinha/AM, foi enviada ao presidente Lula. Coiab bate o martelo na quinta-feira

Muras

Antônio Paulo, do BNC Amazonas em Brasília

Publicado em: 03/01/2023 às 18:28 | Atualizado em: 04/01/2023 às 08:28

O estado do Amazonas tem sua primeira indicação de liderança para compor o Ministério dos Povos Indígenas. Trata-se de Jecinaldo Sateré Cabral, da etnia sateré-mawé, que atua no município de Barreirinha, a 328 quilômetros de Manaus.

Segundo informações ao BNC Amazonas, o ex-secretário estadual dos povos indígenas já recebeu apoio de diversas organizações dos estados do Amazonas, Mato Grosso e Tocantins.

Dessa forma, tanto o presidente Lula da Silva (PT) quanto a ministra Sônia Guajajara receberam cerca de 14 cartas expressando apoio à indicação de Sateré.

Entre elas, uma carta aberta dos conselheiros de cultura do Amazonas e de representantes da sociedade civil.

No documento, com assinatura inclusive pelo presidente do conselho, Marcos Apolo, e de Adail Mundurucu, da cadeira de cultura indígena, os conselheiros afirmam que Sateré poderá ser referência no ministério para os povos indígenas amazônidas.

De acordo com os conselheiros de cultura, a nova estrutura do Ministério dos Povos Originários precisa contar com alguém com experiência nos problemas da Amazônia.

Afinal, conforme eles, a região agrega a maioria dos povos indígenas do Brasil (quase 500 mil somente no Amazonas) e a maior fronteira de mata virgem e biodiversidade do mundo, a qual é disputada pelos governos internacionais.

Leia mais

Conservação e proteção

Com relação ao quesito conservação e proteção, argumentam que o ministério indígena necessita de alguém que consiga discutir assuntos sobre a proteção das terras, do ecossistema e das pessoas que vivem na Amazônia.

Por outro lado, a pasta também requer alguém que consiga mostrar ao país e ao mundo a importância dos 60% dos povos indígenas que vivem na Amazônia, assim como a manutenção desse bioma.

“Essa experiência de Jecinaldo Sateré muito contribuirá para que as tomadas de decisões possam ser as mais democráticas e efetivas possíveis, haja vista a experiência que carrega consigo de anos de trabalho junto às bases e ao movimento indígena do Amazonas, buscando sempre fortalecer a luta em prol da coletividade”, diz a carta aberta.

Benefícios aos indígenas

Sateré ressalta a importância de ter a presença de um barreirinhense na busca de benefícios para a população indígena.

“Nós da região do baixo Amazonas queremos que as políticas públicas cheguem nas nossas comunidades. Fico muito feliz com a indicação do meu nome para fazer essa articulação, a ponte até Brasília, para que possamos fazer com que o discurso ocorra na prática”.

Leia mais

Lula muda nome da Funai e acaba garimpo em terra indígena

Sem consenso

A indicação de Jecinaldo Sateré, no entanto, não é consenso nem unanimidade entre as lideranças indígenas do Estado do Amazonas.

De acordo com o presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), Marivelton Baré, as indicações da região Norte para o Ministério dos Povos Orignários ainda estão em análise.

Segundo ele, o nome a ser levado à ministra Sônia Guajajara não deverá ser escolhido de forma isolada, mas por meio de conversas com todas as organizações.

Coiab bate martelo

“Na próxima quinta-feira (5), a Coiab vai reunir as organizações indígenas regionais para discutir os nomes que serão indicados para o ministério. Nada será feito de forma isolada”, disse Baré.

O presidente da Foirn também participou do grupo de trabalho dos povos indígenas na equipe de transição.

Ele disse que chegou a ser convidado a fazer parte do ministério, mas recusou a oferta por conta dos compromissos na entidade indígena do rio Negro.

Foto: arquivo pessoal/redes sociais