A campanha de exploração de petróleo, pela Petrobrás, em águas profundas na bacia da foz do rio Amazonas pode ser o primeiro atrito no seio do governo do presidente Lula da Silva.
Após o parecer negativo do Ibama, contrário à exploração de petróleo na região, o líder do governo no Senado, Randolfe Rodrigues, do Amapá, desfiliou-se da Rede Sustentabilidade, o mesmo da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
A responsável pelo órgão ambiental apoiou a decisão de brecar, por hora, a campanha exploratória na chamada margem equatorial. O foco é no Amapá, mas ela vai da fronteira com a Guiana Francesa até o Rio Grande do Norte – bacias de Pará-Maranhão, Barreirinhas, Ceará e Potiguar.
Ao deixar a Rede, Randolfe Rodrigues emitiu nota sem dar a verdadeira explicação dos motivos. No comunicado, o senador amapaense ressaltou as ameaças à democracia, que partido enfrentou com o povo brasileiro.
“Neste período, nas ruas, nas instituições e em especial no Parlamento, o nosso partido esteve ao lado dos brasileiros lutando contra o fascismo, e cumpriu um papel histórico com amor, coragem e dedicação. Me honrará para sempre ter sido parte desta jornada épica”, declarou.
Ranolfo agradeceu o companheirismo e o convívio partidário e destacou principalmente o papel da ex-senadora Heloísa Helena. No entanto, o líder governista sequer mencionou o nome de Marina Silva.
“Minhas palavras trazem, sobretudo, gratidão. Tenho a certeza que continuaremos juntos, nas lutas por democracia, justiça e na construção de uma sociedade livre da fome e da opressão. Dito isso peço, em caráter irrevogável, a minha desfiliação da Rede Sustentabilidade”, finalizou Rodrigues.
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Retorno ao PT
Nesta sexta-feira (19), diretamente de Macapá, em entrevista à revista Veja, o senador Ranolfo Rodrigues disse que Marina Silva sempre terá o respeito dele, pela sua história e trajetória política. “Mas, chegou a um ponto impossível [de convivência dentro do partido]”, principalmente por conta da disputa pela exploração do petróleo em seu estado.
Questionado se vai retornar ao PT, já que é líder de Lula no Senado, Rodrigues desconversou. Disse apenas que vai esperar uns dois ou três para decidir a qual partido vai se filiar. No entanto, sua volta no PT é dada como certa.
Rodrigues entrou na política, em 1998, pelo Partido dos Trabalhadores, quanto se elegeu deputado estadual pelo Amapá. Por divergências políticas, em 2005, no primeiro governo Lula, ele deixou o PT e ingressou no Sol. Desse partido, só saiu em 2015, quando ingressou na Rede Sustentabilidade, o qual deixa em 2023.
Peso do Amapá
Além do descontentamento do líder do governo Ranolfe Rodrigues, outros políticos do Amapá seguem buscando uma intermediação do Planalto — em última análise, do presidente Lula – para reverter o entendimento do Ibama sobre a viabilidade da campanha exploratório da Petrobras em águas profundas da bacia da foz do Amazonas.
A estatal petrolífera tentava realizar uma simulação, etapa prévia a conclusão do plano de resposta previsto em licenciamento de poços offshore. Mas, o Ibama entendeu que o projeto é inviável do ponto de vista ambiental e o processo foi encerrado.
O presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), senador Davi Alcolumbre (União-AP) é um dos articuladores em favor do projeto. Na formação do governo, Lula optou por dar espaço e construir uma base mais sólida no Senado. Alcolumbre teve parte nisso.
Manutenção da campanha
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD) – próximo a Davi Alcolumbre – pediu calma: em ofício ao presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, solicitou que a companhia avalie manter os esforços junto ao Ibama, a sonda e recursos mobilizados para a campanha – gastos feitos por decisão da gestão passada da empresa: Foz do Amazonas:
Para engrossar ainda mais o coro em defesa do projeto de exploração de petróleo no Amapá e em toda a margem equatorial da bacia da foz do rio Amazonas, tem o ministro de Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, ex-governador do Amapá, que foi indicado por Alcolumbre.
O governador do Amapá, Clécio Luís (Solidariedade), afirmou que a decisão do Ibama foi “absurda”, tomada enquanto busca-se um acordo político com a área ambiental para dar continuidade ao projeto.
Agora, é esperar para ver o desfecho dessa disputa entre o Estado do Amapá e seus políticos, Ibama/Marina Silva e o governo Lula.
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Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado