O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) vai sediar em 2024 a reunião dos ministros de Ciência e Tecnologia dos 20 países com as maiores economias do mundo, o G20. A informação foi repassada pela ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, ao novo diretor Inpa, Henrique Pereira.
A cúpula de líderes mundiais do grupo vai ser reunir daqui a um ano no Brasil. A reunião está prevista para os dias 18 e 19 de novembro, no Rio de Janeiro. Paralelo a esse encontro dos chefes de estados, os ministros de ciência e tecnologia de vários países estarão em Manaus.
“Então será um evento importante para a Amazônia e para o Brasil, em 2024. Ela conta com o apoio da nossa gestão para realizar um evento digno da grandeza e da importância da região amazônica e do Brasil para a ciência e tecnologia do bloco, o G20”, disse Pereira em entrevista exclusiva ao BNC Amazonas.
Antes da sua nomeação, publicada nesta quinta-feira (16), no diário oficial da União, o novo diretor conversou com a ministra sobre as prioridades que terá a nova administração do órgão.
A principal delas será o concurso público de nível superior com 63 vagas distribuídas para os cargos de pesquisador adjunto e de tecnologista pleno para “recompor a força de trabalho” do Instituto, cujo último concurso foi realizado em 2012. As inscrições serão realizadas de 12 de dezembro de 2023 a 15 de janeiro de 2024.
“Também tem uma preocupação em que a gente, o mais rápido possível, estabeleça e pratique uma gestão transparente, democrática e participativa em diálogo com a sociedade, tanto para dentro, para a comunidade dos servidores do Inpa, quanto para a sociedade”, disse o novo diretor, que ainda não tem a posse marcada.
A ministra também pediu a união de todos para o fortalecimento do Instituto como um dos mais importante da região.
“Como todo o processo de disputa, as divisões de opiniões e tensões têm de ser pacificadas e, imediatamente, as pessoas se reconectarem ao propósito comum que é gerir essa instituição tão importante no cenário científico tecnológico do nosso país, da Amazônia, da América Latina e do mundo”, disse Pereira.
Luciana também solicitou maior conexão do Inpa com outros institutos de pesquisa da região, como, por exemplo, o Museu Paraense Emílio Goeldi e o Instituto Mamirauá.
“Eu já tenho feito contatos, especialmente com o Emílio Goeldi. Somos as três unidades de pesquisa do MCTI. Isso também é uma prioridade minha, uma prioridade da ministra”, afirmou.
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Bioeconomia
Questionado sobre a posição do ministério que tem na bioeconomia a possibilidade de impulsionar a reindustrialização do Brasil em bases verdes, Pereira lembrou que o Inpa é “a maior e mais importante instituição de pesquisa na área de biologia tropical e da Amazônia”.
“O que nós temos que contribuir para a pauta da bioeconomia? Eu diria que nós estamos conectados em primeiro grau com algo que nós chamamos biotecnologia, muito ligada aos insumos florestais, as espécies amazônicas. Então, isso é a contribuição é a principal contribuição que temos”.
Ele destacou também que a bioeconomia é uma discussão mais ampla, indo desde o setor energético, como os biocombustíveis, até a questão mesmo da biotecnologia voltada à produção de produtos, insumos de origem biológica.
“Acho que o Inpa está na base da formação da ciência necessária para essa bioeconomia, porque temos os maiores acervos e o maior conhecimento sobre a biodiversidade da Amazônia”.
Portanto, disse o diretor, todas as pesquisas aplicadas para o desenvolvimento de produtos biotecnológicos precisam desse conhecimento básico que é gerado, por exemplo, nos laboratórios e nas coleções biológicas do Inpa.
“Nós não vamos explorar de modo sustentável à biodiversidade da Amazônia antes de conhecê-la”.
Além da pesquisa básica, o novo diretor destacou que o órgão também faz pesquisas avançadas, mais aproximadas da produção das tecnologias, aparatos, equipamentos, produtos e dos processos.
“Isso certamente tem um ponto direto no surgimento de novos negócios, portanto, na economia da região”.
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Inclusão
O novo diretor do Inpa também defendeu uma política de inclusão social aliada à preservação ambiental.
Para isso, Pereira disse ser necessário o diálogo com os povos indígenas da Amazônia e com as comunidades tradicionais.
“Nós já temos, por exemplo, nos programas de pós-graduação do Inpa, cotas para as populações originárias. A gente vem discutindo isso e vamos ampliar essa discussão: a formação de pessoal de alto nível, incluindo as populações locais”.
O diretor defendeu um Inpa indígena, que “entende que a ciência dos povos originários também tem de estar presente nessa produção e reprodução do conhecimento”.
“Imaginemos o conhecimento milenar acumulado, a sabedoria dos povos indígenas da Amazônia. O Inpa tem de estar próximo disso, reconhecer e ajudar o nosso país dar o mesmo valor”.
Crise climática
Sobre a crise climática atual, o novo diretor do Inpa diz que o órgão está “fortemente ligado” com o enfrentamento dessa emergência, principalmente da biodiversidade, da política nacional e internacional sobre conservação.
“Nós também estamos conectados com o enfrentamento da terceira crise, a crise da contaminação e da poluição ambiental. Na quarta crise da saúde com as pandemias, o Inpa também tem a sua contribuição, especialmente para o conhecimento das doenças tropicais”.
E ainda acrescentou:
“Então, tanto no enfrentamento das mudanças climáticas quanto no enfrentamento das demais crises ambientais, o Inpa deverá seguir contribuindo com a produção do conhecimento necessário para a formulação das soluções”.
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Perfil
Henrique Pereira é agrônomo, com mestrado em Ecologia pelo Inpa e doutorado em Ecologia na Pennsilvania State University.
Tem experiência na área de Agronomia e Ciências Ambientais, atuando principalmente nos temas sobre gestão ambiental pública, manejo de recursos naturais de uso coletivo, áreas protegidas, agricultura familiar e comunidades tradicionais.
É docente e pesquisador convidado do Programa de Pós-Graduação Mestrado Profissional em Gestão de Áreas Protegidas da Amazônia (MPGAP/Inpa) e docente convidado da Universidade de Cabo Verde, além de membro titular da Academia Brasileira de Ciência Agronômica (ABCA).
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