AmazĂ´nia: 8 mil indĂgenas protestam contra marco temporal
IndĂgenas de Roraima realizam manifestaĂ§Ă£o pacĂfica contra o Marco Temporal.

Publicado em: 05/08/2024 Ă s 20:28 | Atualizado em: 05/08/2024 Ă s 20:33
Mais de 8 mil indĂgenas de comunidades em 11 regiões de Roraima se reuniram nesta segunda-feira (5/8) no Centro CĂvico de Boa Vista. O protesto, que ocorreu de forma pacĂfica, foi contra o chamado Marco Temporal, uma tese que discute as demarcações de terras indĂgenas no Brasil.
Os manifestantes percorreram a rotatĂ³ria do Centro CĂvico, onde estĂ£o localizadas as sedes dos trĂªs poderes em Roraima, gritando palavras de ordem e segurando placas pedindo que o projeto nĂ£o seja aprovado. A manifestaĂ§Ă£o continuarĂ¡ atĂ© terça-feira (6/8).
ReuniĂ£o do STF sobre o Marco Temporal
O Supremo Tribunal Federal (STF) inicia negociações para uma conciliaĂ§Ă£o sobre a tese do Marco Temporal. Uma comissĂ£o especial realizarĂ¡ a primeira reuniĂ£o em busca de um acordo.
O marco temporal das terras indĂgenas estabelece que os povos originĂ¡rios sĂ³ tĂªm direito Ă s terras que jĂ¡ eram tradicionalmente ocupadas por eles em 5 de outubro de 1988, data da promulgaĂ§Ă£o da ConstituiĂ§Ă£o Federal. Embora aprovado pela CĂ¢mara dos Deputados em maio de 2023, o projeto foi derrubado pelo STF em setembro.
Lideranças indĂgenas
Amarildo Macuxi, tuxaua da RegiĂ£o das Serras, na Raposa Serra do Sol, destacou a importĂ¢ncia do movimento: “Estamos aqui para comunicar Ă s autoridades que nĂ£o aceitamos esse tipo de ataque e violĂªncia contra nossos direitos. É importante destacar a relevĂ¢ncia desse movimento, que visa mostrar Ă sociedade e Ă s autoridades nossa oposiĂ§Ă£o ao projeto de lei proposto pelos deputados”.
Kelliane Wapichana, tuxaua geral do Movimento de Mulheres IndĂgenas de Roraima, enfatizou a participaĂ§Ă£o feminina: â€œĂ‰ inaceitĂ¡vel e inadmissĂvel que estejamos aqui novamente lutando pelos nossos territĂ³rios e pelo nosso bem-viver. Estamos reunidos hoje para somar forças e dizer nĂ£o ao Marco Temporal que ferem nossos direitos”.
Impacto do agronegĂ³cio nas terras indĂgenas
Ernestina Macuxi, liderança da Serra do Sol, destacou a degradaĂ§Ă£o causada pelo agronegĂ³cio: “A destruiĂ§Ă£o das terras invadidas pelo agronegĂ³cio afeta nĂ£o apenas os povos indĂgenas, mas toda a sociedade. Lutamos para defender a vida de todos, no Brasil e no mundo. O nosso territĂ³rio Ă© vivo; ele estĂ¡ gritando e sofrendo com essa violĂªncia”.
ParticipaĂ§Ă£o dos jovens na luta
Jovens indĂgenas tambĂ©m participaram ativamente da manifestaĂ§Ă£o. Julha Wapichana, de 14 anos, incentivou outros jovens a se envolverem nas ações: “O que ataca o povo indĂgena serĂ¡ frente a frente dessa luta. É importante a participaĂ§Ă£o de cada liderança, cada jovem, cada criança… precisamos seguir lutando”.
Entendendo o Marco Temporal
O marco temporal define que indĂgenas sĂ³ podem reivindicar a demarcaĂ§Ă£o de terras que eram ocupadas pelos povos originĂ¡rios em 5 de outubro de 1988.
Esta tese Ă© uma interpretaĂ§Ă£o do artigo 231 da ConstituiĂ§Ă£o, que reconhece os direitos originĂ¡rios sobre as terras tradicionalmente ocupadas pelos indĂgenas.
A comissĂ£o especial criada por determinaĂ§Ă£o do ministro Gilmar Mendes inclui representantes da ArticulaĂ§Ă£o dos Povos IndĂgenas (Apib), do Congresso Nacional, do governo federal, dos estados e municĂpios, alĂ©m de partidos polĂticos e associações.
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Os indĂgenas argumentam que o critĂ©rio de ocupaĂ§Ă£o em 1988 nĂ£o Ă© preciso, considerando que alguns povos sĂ£o nĂ´mades e muitos foram retirados de suas terras durante a ditadura.
JĂ¡ a bancada ruralista defende o marco legal, temendo que terras hoje ocupadas pelo agronegĂ³cio possam ser demarcadas como territĂ³rios indĂgenas.
As manifestações em Roraima sĂ£o um claro sinal de resistĂªncia e busca por justiça por parte das comunidades indĂgenas.
A luta contra o Marco Temporal Ă© vista como uma defesa dos direitos territoriais e culturais dos povos originĂ¡rios, e as ações continuarĂ£o atĂ© que suas vozes sejam plenamente ouvidas e respeitadas.
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Foto: CIR/DivulgaĂ§Ă£o