MPF pede bloqueio de R$ 5,7 mi de envolvidos na Maus Caminhos

Publicado em: 04/05/2018 Ă s 13:14 | Atualizado em: 04/05/2018 Ă s 13:15
O MinistĂ©rio PĂºblico Federal (MPF) no Amazonas ingressou com sete novas ações de improbidade administrativa na Justiça Federal contra o mĂ©dico e empresĂ¡rio Mouhamad Moustafa, outras oito pessoas e tambĂ©m sete empresas ligadas a ele, por desvios milionĂ¡rios de recursos da saĂºde do Estado do Amazonas, em esquema revelado pela operaĂ§Ă£o Maus Caminhos. O MPF pede, nas ações, a indisponibilidade de bens dos rĂ©us no valor total de R$ 5.734.579,60, para garantir eventual reparaĂ§Ă£o dos prejuĂzos causados ao patrimĂ´nio pĂºblico caso venham a ser condenados.
Por meio de decisões liminares, a Justiça jĂ¡ determinou o bloqueio de R$ 1 milhĂ£o, em dois processos. AlĂ©m de Mouhamad, sĂ£o alvos das novas ações de improbidade Jennifer Naiyara Yochabel Rufino Correa da Silva, Karina Moustafa, Paulo Roberto Bernardi Galacio, Alessandro Viriato Pacheco, Davi de Azevedo Flores, Gilberto de Souza Aguiar, Erhard Lange e Priscila Marcolino Coutinho, alĂ©m das sete empresas utilizadas pelo grupo para praticar os desvios e do Instituto Novos Caminhos (INC), principal destinatĂ¡rio de recursos pĂºblicos da Ă¡rea de saĂºde do Estado no perĂodo investigado e tambĂ©m rĂ©u nas ações.
Nos pedidos finais, baseados na Lei de Improbidade Administrativa (Lei nº 8.429/92), o MPF pede a condenaĂ§Ă£o do grupo Ă devoluĂ§Ă£o integral dos recursos desviados, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimĂ´nio, multa civil de atĂ© duas vezes o valor do recurso desviado, perda dos direitos polĂticos, suspensĂ£o dos direitos polĂticos de cinco a oito anos e proibiĂ§Ă£o de contratar com o Poder PĂºblico ou receber benefĂcios ou incentivos fiscais por prazo de cinco anos.
InvestigaĂ§Ă£o conjunta envolvendo o MPF, a Controladoria-Geral da UniĂ£o (CGU) e a PolĂcia Federal (PF) constatou que o grupo se uniu com a finalidade Ăºnica de desviar recursos pĂºblicos federais, destinados Ă saĂºde no Estado do Amazonas. Para isso, atuaram como agentes para a contrataĂ§Ă£o das empresas Salvare Serviços MĂ©dicos, Total SaĂºde Serviços MĂ©dicos e Enfermagem, Sociedade Integrada MĂ©dica Do Amazonas (Simea), D’ Flores, Ita Serviços, AmazĂ´nia Serviços e ComĂ©rcio e Medimagem, por meio do Instituto Novos Caminhos (INC).
Nas ações, o MPF ressalta que, embora a contrataĂ§Ă£o das empresas para o fornecimento de serviços e materiais nĂ£o fosse proibida, o grupo realizou contratações diretas, sem prĂ©vio procedimento de seleĂ§Ă£o, desobedecendo os critĂ©rios previstos pela Lei de Licitações de forma consciente, a fim de viabilizar que membros da organizaĂ§Ă£o criminosa se passassem por legĂtimos fornecedores e obtivessem para si parte dos valores superfaturados provenientes de pagamentos do Estado.
As ações seguem em tramitaĂ§Ă£o na Justiça Federal. Duas das sete ações, referentes Ă s empresas Salvare e Simea, jĂ¡ tiveram decisões liminares favorĂ¡veis ao bloqueio de bens, decretando a indisponibilidade de R$ 1 milhĂ£o. Os nĂºmeros das ações para consulta processual na Justiça sĂ£o:
1000399-20.2018.4.01.3200 – RĂ©us: Mouhamad Moustafa, Instituto Novos Caminhos, Jennifer Silva, Paulo GalĂ¡cio, Priscila Coutinho e Salvare Serviços MĂ©dicos Ltda.
1000757-82.2018.4.01.3200 – RĂ©us: Mouhamad, Instituto Novos Caminhos, Jennifer Silva, Paulo GalĂ¡cio, Karina Moustafa e Sociedade Integrada MĂ©dica do Amazonas (Simea).
1001045-30.2018.4.01.3200 – RĂ©us: Mouhamad Moustafa, Instituto Novos Caminhos, Jennifer Silva, Paulo GalĂ¡cio e Total SaĂºde Serviços MĂ©dicos e Enfermagem Ltda.
1001157-96.2018.4.01.3200 – RĂ©us: Mouhamad Moustafa, Instituto Novos Caminhos, Jennifer Silva, Paulo GalĂ¡cio, Alessandro Pacheco e AmazĂ´nia Serviços e ComĂ©rcio (Alessandro Viriato Pacheco – EPP).
1001159-66.2018.4.01.3200 – RĂ©us: Mouhamad Moustafa, Instituto Novos Caminhos, Jennifer Silva, Davi de Azevedo Flores e D’Flores (D. de Azevedo Flores – ME).
1001163-06.2018. 4.01.3200 – RĂ©us: Mouhamad Moustafa, Instituto Novos Caminhos, Jennifer Silva, Paulo GalĂ¡cio, Erhard Lange e Ita Serviços (Erhard Lange – ME).
1001165-73.2018. 4.01.3200 – RĂ©us: Mouhamad Moustafa, Instituto Novos Caminhos, Paulo GalĂ¡cio e Gilberto de Souza Aguiar e Medimagem (Gilberto de Almeida Aguiar – EPP).
OrganizaĂ§Ă£o criminosa – A denĂºncia criminal que acusa os envolvidos de integrar organizaĂ§Ă£o criminosa foi apresentada pelo MPF em novembro de 2016, detalhando a participaĂ§Ă£o dos integrantes do esquema de corrupĂ§Ă£o. O processo principal foi desmembrado pela Justiça, isolando a cĂºpula da organizaĂ§Ă£o em um procedimento Ă parte, que segue em tramitaĂ§Ă£o na 4ª Vara Federal do Amazonas, sob o nĂºmero 4109.20.17.401320-0. Esse processo estĂ¡ em fase de alegações finais e deve receber sentença judicial nos prĂ³ximos meses.
Os mesmos acusados tambĂ©m foram alvo – junto a outros participantes do esquema – de dezenas de outras ações penais pelos crimes de contrataĂ§Ă£o direta e peculato, que tramitam individualmente na Justiça Federal.
OperaĂ§Ă£o Maus Caminhos – Deflagrada em setembro de 2016, a operaĂ§Ă£o Maus Caminhos desarticulou um grupo que possuĂa contratos firmados com o Governo do Estado para a gestĂ£o da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Campos Sales, em Manaus; da Maternidade Enfermeira Celina Villacrez Ruiz, em Tabatinga; e do Centro de ReabilitaĂ§Ă£o em DependĂªncia QuĂmica (CRDQ) do Estado do Amazonas, em Rio Preto da Eva. A gestĂ£o dessas unidades de saĂºde era feita pelo Instituto Novos Caminhos.
Dos quase R$ 900 milhões repassados, entre 2014 e 2015, pelo Fundo Nacional de SaĂºde (FNS) ao Fundo Estadual de SaĂºde (FES), mais de 250 milhões de reais teriam sido destinados unicamente ao Instituto Novos Caminhos.
As irregularidades foram comprovadas por meio de informações bancĂ¡rias e fiscais e conversas telefĂ´nicas, obtidas mediante ordem judicial, relatĂ³rios de Ă³rgĂ£os de fiscalizaĂ§Ă£o como o MinistĂ©rio da TransparĂªncia, Controladoria-Geral da UniĂ£o e Receita Federal, bem como documentos obtidos nas buscas e apreensões, inquĂ©ritos policiais e outros documentos encontrados em fontes abertas.
Os Ă³rgĂ£os de fiscalizaĂ§Ă£o apuraram que os maiores fornecedores do Instituto Novos Caminhos eram apenas trĂªs empresas: Salvare Serviços MĂ©dicos, Total SaĂºde Serviços MĂ©dicos e Enfermagem e Sociedade Integrada MĂ©dica do Amazonas (Simea), que faziam parte, na verdade, de um mesmo grupo econĂ´mico, comandado por Mouhamad Moustafa.
A investigaĂ§Ă£o mostrou ainda a existĂªncia de um forte braço polĂtico do esquema, tambĂ©m denunciado pelo MPF, envolvendo o ex-governador do Amazonas JosĂ© Melo de Oliveira e cinco ex-secretĂ¡rios. Os gestores pĂºblicos denunciados eram diretamente beneficiados por meio de distribuiĂ§Ă£o de propina e outras vantagens provenientes dos desvios de verbas pĂºblicas coordenados pelo mĂ©dico Mouhamad Moustafa. O processo em que os agentes polĂticos sĂ£o acusados de integrar a organizaĂ§Ă£o criminosa estĂ¡ em fase de audiĂªncias de interrogatĂ³rio de testemunhas de acusaĂ§Ă£o e de defesa e oitiva dos rĂ©us.
Veja neste link a inicial de todas as ações apresentadas pelo MPF
Texto: assessoria de comunicaĂ§Ă£o MPF
Foto: Arquivo BNC