Da Redação
A abertura de inquérito na Lava Jato para investigar pagamento de propina ao senador Eduardo Braga (MDB), como forma de manter o apoio dele ao PT e a ex-presidente Dilma Rousseff no Amazonas em 2014, deve turbinar a campanha que coloca em disputa as duas vagas ao Senado em 2018.
As citações na Lava Jato, mesmo sem abertura de inquérito, foram armas apontada para a cabeça de Braga durante toda a eleição suplementar pelos adversários, em 2017.
Na ocasião, a avaliação de quem estava na coordenação da campanha dele e dos adversários foi que a bala não precisou sequer ser disparada. O tema não ocupou a propaganda gratuita nem panfletagens apócrifas, como é comum. O conteúdo negativo e o efeito devastador na imagem de Braga estava na percepção do eleitor em função do noticiário nacional e diário sobre a Lava Jato.
Um dos problemas, segundo avaliação de especialistas que atuaram na campanha do senador ao governo, é que, por não ter sido ofendido pelos adversários, Braga não encarou a questão na campanha. Isso foi considerado um erro.
Tanto que inspira outras reações neste pleito. O senador Omar Aziz (PSD), que é pré-candidato ao governo, já saiu da toca se explicando e apresentando argumentos em seu favor de forma repetitiva.
Adversários
O outro fator que indica que a Lava Jato vai temperar a campanha ao Senado é que os dois nomes que aparecem na frente nas pesquisas pré-eleitorais para o cargo, assim como Braga, Alfredo Nascimento (PR) e Vanessa Grazziotin (PCdoB) têm usado como mote de pré-campanha que o nome deles não está na Lava Jato.
É que as citações que chegaram a envolver o nome dos dois eram de denúncias de Caixa 2 em campanha e foram retiradas do âmbito da operação que mais prendeu políticos na história do País. No entanto, os procedimentos prévios à abertura de inquérito contra os dois prossegue no Supremo Trindade Federal (STF).
Alfredo Nascimento
O deputado federal e pré-candidato ao Senado Alfredo aparece na delação de executivos da Odebrecht entre os políticos que receberam recursos não contabilizados em campanha. Os documentos da Odebrecht indicam que Alfredo recebeu R$ 200 mil da empreiteira a pedido do deputado mineiro do PR Milton Monti.
Alfredo nega a acusação e diz que, na verdade, quando era ministro dos Transportes acabou com o “cartel de grandes empresas” na pasta e por isso passou a ser atacado pelas empreiteiras.
Vanessa Grazziotin
O executivo da construtora Odebrecht Fernando Reis afirmou que, na campanha de 2012 e “a pretexto de doação para campanha”, a senadora recebeu R$ 1,5 milhão sem registo oficial na justiça eleitoral. A delação diz que o marido de Vanessa, o ex-deputado estadual Eron Bezerra (PCdoB), fez o pedido à Odrebrecht.
O dinheiro teria saído do Setor de Operações Estruturadas da empresa e o repasse registrado no sistema “Drousys”. Na 26ª fase da operação Lava Jato, chamada Xepa, o setor foi apontado como o “departamento de propina” organizado e estruturado da empresa.
A senadora diz que o delator mentiu e que está conseguindo comprovar tudo no inquérito.
Eduardo Braga
No âmbito da Lava Jato, Braga foi citado nas delações do ex-presidente da Transpetro, Sergio Machado, e do ex-diretor de relações institucionais da J&F, Ricardo Saud, como um dos senadores que recebeu propina em 2014 a título de ajuda para a campanha. A denúncia dos delatores indica que Braga recebeu R$ 6 milhões em propina justificada como gastos em viagens aéreas na campanha.
O senador Eduardo Braga também foi citado na delação da empreiteira Odebrecht. Em sua delação, o ex-diretor de Projeto de Infraestrutura da Camargo Corrêa, Arnaldo Cumplido, revelou um “ajuste” entre o Grupo Odebrecht e o então governador Eduardo Braga para que fossem feitos pagamentos em seu favor, relativos à obra da Ponte do Rio Negro.
A delação aponta pagamento de propina no valor de R$ 1 milhão e também afirma que os repasses continuaram a ser feitos após a saída de Braga do governo, envolvendo seu sucessor Omar Aziz (PSD) no caso.
Ex-executivo da Andrade Gutierrez Clóvis Primo revelou aos procuradores, em 2016, que pagaram propina para serem os executores da obra Arena da Amazônia ao Governo do Amazonas e que pagar propina ao Governo do Amazonas era rotina. As informações foram publicadas pela primeira vez pelo Jornal Hoje da TV Globo .
Primo, na delação, disse que obteve informações privilegiados do governo e que inclusive ajudou a construir o edital de licitação de forma a ficar mais “fácil” para a construtora vencer a concorrência.
O delator disse que combinações prévias à obra da Arena davam à Andrade Gutierrez vantagens no Estado em função de acordo com o então governador Eduardo Braga de pagamento de propina de 10% para cada obra realizada pela construtora no Estado durante a gestão do ex-governador.
Na ocasião, Primo disse que Braga fazia “ameaças” se houvesse atraso no pagamento da propina e que ele era “jogo duro”. A Andrade Gutierrez foi responsável pela obras do Prosamin em Manaus, marca do Governo Braga, que contaram com recursos de empréstimos internacionais e custaram mais de R$ 400 milhões ao Estado. Outro executivo disse que foram pagos de R$ 20 milhões a R$ 30 milhões ao ex-governador.
Clóvis Primo disse que quando houve a troca de governo tentou “negociar” redução do pagamento da propina com o sucessor de Braga, Omar Aziz. Mas que o mesmo se exaltou, disse ter “compromissos” e depois aceitou. Os delatores indicaram pagamento de R$ 18 milhões a Omar Aziz.
Ambos negam todas as acusações.
Foto: Agência Senado