MPF pede bloqueio de mais de R$ 46,6 milhões na Maus Caminhos

Publicado em: 16/07/2018 Ă s 14:51 | Atualizado em: 16/07/2018 Ă s 16:34
O MinistĂ©rio PĂºblico Federal (MPF) no Amazonas ingressou com dez novas ações de improbidade administrativa na Justiça Federal contra o mĂ©dico e empresĂ¡rio Mouhamad Moustafa, outras nove pessoas e tambĂ©m seis empresas ligadas a ele, por desvios milionĂ¡rios de recursos da saĂºde no estado do Amazonas, em esquema revelado pela operaĂ§Ă£o Maus Caminhos.
O MPF pede, nas ações, a indisponibilidade de bens dos rĂ©us no valor total de R$ 46.676.274,15, para garantir eventual reparaĂ§Ă£o dos prejuĂzos causados ao patrimĂ´nio pĂºblico caso venham a ser condenados.
Por meio de decisões liminares, a Justiça jĂ¡ determinou o bloqueio de mais de R$ 5,7 milhões, em sete processos.
AlĂ©m de Mouhamad, sĂ£o alvos das novas ações de improbidade Priscila Marcolino Coutinho, Jennifer Naiyara Yochabel Rufino Correa da Silva, Paulo Roberto Bernardi Galacio, Davi de Azevedo Flores, Gilberto de Souza Aguiar, Erhard Lange, Pauline Azevedo SĂ¡ Campos, MĂ¡rcia Alessandra Silva do Nascimento, Pedro Osvaldo da Silva Rebelo e Priscila Marcolino Coutinho.
HĂ¡ ainda seis empresas que, segundo o MPF, foram usadas pelo grupo para praticar os desvios, e do Instituto Novos Caminhos (INC), principal destinatĂ¡rio de recursos pĂºblicos da Ă¡rea de saĂºde do estado no perĂodo investigado, de acordo com a denĂºncia.
Nos pedidos finais, baseados na Lei de Improbidade Administrativa (Lei 8.429/92), o MPF pede a condenaĂ§Ă£o do grupo Ă devoluĂ§Ă£o integral dos recursos desviados, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimĂ´nio, multa civil de atĂ© duas vezes o valor do recurso desviado, perda dos direitos polĂticos, suspensĂ£o dos direitos polĂticos de cinco a oito anos e proibiĂ§Ă£o de contratar com o Poder PĂºblico ou receber benefĂcios ou incentivos fiscais por prazo de cinco anos.
InvestigaĂ§Ă£o conjunta envolvendo o MPF, a Controladoria-Geral da UniĂ£o (CGU) e a PolĂcia Federal (PF) constatou que o grupo se uniu com a finalidade Ăºnica de desviar recursos pĂºblicos federais destinados Ă saĂºde no estado do Amazonas.
Para isso, atuaram como agentes para a contrataĂ§Ă£o das empresas Salvare Serviços MĂ©dicos, Total SaĂºde Serviços MĂ©dicos e Enfermagem, Sociedade Integrada MĂ©dica do Amazonas (Simea), D’ Flores, Ita Serviços e Medimagem, por meio do INC.
Nas ações, o MPF ressalta que, embora a contrataĂ§Ă£o das empresas para o fornecimento de serviços e materiais nĂ£o fosse proibida, o grupo realizou contratações diretas, sem prĂ©vio procedimento de seleĂ§Ă£o, desobedecendo aos critĂ©rios previstos pela Lei de Licitações de forma consciente, a fim de viabilizar que membros da organizaĂ§Ă£o criminosa se passassem por legĂtimos fornecedores e obtivessem para si parte dos valores superfaturados provenientes de pagamentos do estado.
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As ações seguem em tramitaĂ§Ă£o na Justiça Federal (https://pje1g.trf1.jus.br/pje/ConsultaPublica/listView.seam). Os nĂºmeros das ações para consulta processual na Justiça sĂ£o:
1002241-35.2018.4.01.3200 – RĂ©us: Mouhamad Moustafa, Instituto Novos Caminhos, Jennifer Silva, Priscila Coutinho, Davi de Azevedo Flores e D’Flores (D. de Azevedo Flores – ME).
1002243-05.2018.4.01.3200 – RĂ©us: Mouhamad, Instituto Novos Caminhos, Jennifer Silva, Paulo GalĂ¡cio, Erhard Lange e Ita Serviços.
1002246-57.2018.4.01.3200 – RĂ©us: Mouhamad, Instituto Novos Caminhos, Jennifer Silva, Paulo GalĂ¡cio, Erhard Lange e Ita Serviços.
1002245-72.2018.4.01.3200 – RĂ©us: Mouhamad Moustafa, Instituto Novos Caminhos, Paulo GalĂ¡cio, Jennifer Silva, Priscila Coutinho e Gilberto de Souza Aguiar e Medimagem (Gilberto de Almeida Aguiar – EPP).
1002248-27.2018.4.01.3200 – RĂ©us: Mouhamad Moustafa, Instituto Novos Caminhos, Paulo GalĂ¡cio, Jennifer Silva, Priscila Coutinho e Gilberto de Souza Aguiar e Medimagem (Gilberto de Almeida Aguiar – EPP).
1002251-79.2018. 4.01.3200 – RĂ©us: Mouhamad Moustafa, Instituto Novos Caminhos, Jennifer Silva, Paulo GalĂ¡cio, Pauline Campos, Priscila Coutinho e Salvare Serviços MĂ©dicos Ltda.
1002258-71.2018. 4.01.3200 – RĂ©us: Mouhamad Moustafa, Instituto Novos Caminhos, Jennifer Silva, Paulo GalĂ¡cio, Priscila Coutinho e Salvare Serviços MĂ©dicos Ltda.
1002259-56.2018. 4.01.3200 – RĂ©us: Mouhamad Moustafa, Instituto Novos Caminhos, Jennifer Silva, Paulo GalĂ¡cio, MĂ¡rcia Alessandra Silva do Nascimento, Pedro Osvaldo da Silva Rebelo, Priscila Coutinho e Salvare Serviços MĂ©dicos Ltda.
1002260-41.2018.4.01.3200 – RĂ©us: Mouhamad, Instituto Novos Caminhos, Jennifer Silva, Paulo GalĂ¡cio, Priscila Coutinho e Sociedade Integrada MĂ©dica do Amazonas (Simea).
1002247-42.2018.4.01.3200 – RĂ©us: Mouhamad Moustafa, Instituto Novos Caminhos, Jennifer Silva, Paulo GalĂ¡cio, Priscila Coutinho e Total SaĂºde Serviços MĂ©dicos e Enfermagem Ltda.
OrganizaĂ§Ă£o criminosa
A denĂºncia criminal que acusa os envolvidos de integrarem organizaĂ§Ă£o criminosa foi apresentada pelo MPF em novembro de 2016, detalhando a participaĂ§Ă£o dos integrantes do esquema de corrupĂ§Ă£o. O processo principal foi desmembrado pela Justiça, isolando a cĂºpula da organizaĂ§Ă£o em um procedimento Ă parte, que tramita na 4ª Vara Federal do Amazonas, sob o nĂºmero 0004109.20.17.401320-0, em fase de recurso.
Na aĂ§Ă£o, os rĂ©us Mouhamad Moustafa, Priscila Marcolino Coutinho, Jennifer Naiyara Yochabel Rufino Correa da Silva e Alessandro Viriato Pacheco foram condenados a penas de prisĂ£o que, somadas, ultrapassam 36 anos.
AlĂ©m da prisĂ£o, as penas incluem pagamento de multas milionĂ¡rias e a perda de bens de alto valor apreendidos quando a operaĂ§Ă£o foi deflagrada.
Os mesmos acusados tambĂ©m foram alvo – junto a outros participantes do esquema – de dezenas de outras ações penais pelos crimes de contrataĂ§Ă£o direta e peculato e de ações de improbidade administrativa, que tramitam individualmente na Justiça Federal.
Maus Caminhos
Deflagrada em setembro de 2016, a operaĂ§Ă£o Maus Caminhos desarticulou um grupo que possuĂa contratos firmados com o Governo do estado para a gestĂ£o da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Campos Sales, em Manaus; da Maternidade Enfermeira Celina Villacrez Ruiz, em Tabatinga; e do Centro de ReabilitaĂ§Ă£o em DependĂªncia QuĂmica (CRDQ) do estado do Amazonas, em Rio Preto da Eva. A gestĂ£o dessas unidades de saĂºde era feita pelo INC.
Dos quase R$ 900 milhões repassados, entre 2014 e 2015, pelo Fundo Nacional de SaĂºde (FNS) ao Fundo Estadual de SaĂºde (FES), mais de 250 milhões de reais teriam sido destinados unicamente ao Instituto Novos Caminhos.
As irregularidades foram comprovadas por meio de informações bancĂ¡rias e fiscais e conversas telefĂ´nicas, obtidas mediante ordem judicial, relatĂ³rios de Ă³rgĂ£os de fiscalizaĂ§Ă£o como o MinistĂ©rio da TransparĂªncia, Controladoria-Geral da UniĂ£o e Receita Federal, bem como documentos obtidos nas buscas e apreensões, inquĂ©ritos policiais e outros documentos encontrados em fontes abertas.
Os Ă³rgĂ£os de fiscalizaĂ§Ă£o apuraram que os maiores fornecedores do INC eram apenas trĂªs empresas: Salvare Serviços MĂ©dicos, Total SaĂºde Serviços MĂ©dicos e Enfermagem e Sociedade Integrada MĂ©dica do Amazonas (Simea), que faziam parte, na verdade, de um mesmo grupo econĂ´mico, comandado por Mouhamad Moustafa.
Custo PolĂtico
A investigaĂ§Ă£o mostrou ainda a existĂªncia de um forte braço polĂtico do esquema, tambĂ©m denunciado pelo MPF, envolvendo o ex-governador do Amazonas JosĂ© Melo de Oliveira e cinco ex-secretĂ¡rios.
Os gestores pĂºblicos denunciados eram, segundo a denĂºncia do MPF, diretamente beneficiados por meio de distribuiĂ§Ă£o de propina e outras vantagens provenientes dos desvios de verbas pĂºblicas coordenados pelo mĂ©dico Mouhamad Moustafa.
O processo em que os agentes polĂticos sĂ£o acusados de integrar a organizaĂ§Ă£o criminosa estĂ¡ em fase de audiĂªncias de interrogatĂ³rio de testemunhas de acusaĂ§Ă£o e de defesa, e oitiva dos rĂ©us.
Foto: BNC Amazonas