Candidato do PSOL diz que senadores do AM sĂ£o medĂocres

Publicado em: 31/08/2018 Ă s 17:11 | Atualizado em: 31/08/2018 Ă s 17:14
Da RedaĂ§Ă£o
O candidato ao Senado e professor da Ufam, Luiz Fernando Santos (PSOL), declarou, em entrevista ao BNC, que nunca houve uma bancada “tĂ£o medĂocre” do Amazonas em BrasĂlia.
O cientista social foi entrevistado nesta quinta-feira, dia 30, na rodada de entrevistas com os pretendentes das duas vagas do Amazonas no Senado pelos jornalistas EustĂ¡quio LibĂ³rio e Rosiene Carvalho.
Luiz Fernando Santos fez duras crĂticas aos nomes que tentam voltar ao Senado e que, na opiniĂ£o, dele se vangloriam de “engodos” sobre a defesa da Zona Franca e de geraĂ§Ă£o de emprego e renda na regiĂ£o por serem subservientes ao poder central e incapazes de representar a periferia, os indĂgenas e o caboco do Amazonas.
“O Senado amazonense, e nĂ£o sĂ³ o Senado, o parlamento federal amazonense, Ă© um dos mais medĂocres que a histĂ³ria da polĂtica amazonense jĂ¡ teve. Eu era menino e me lembro de FĂ¡bio Lucena, Jefferson Peres. Tivemos grandes parlamentares, grandes senadores e vivemos realmente um momento da mediocridade”, declarou.
Luiz Fernando disse tambĂ©m que os parlamentares do Amazonas sĂ£o linha de frente do momento mais nefasto da polĂtica brasileira.
“A posiĂ§Ă£o de subserviĂªncia Ă© assustadora, de todos os parlamentares da AmazĂ´nia. A histĂ³ria recente do parlamento brasileiro, por exemplo, no caso do impeachment de Dilma, os parlamentares da AmazĂ´nia assumem a dianteira de dirigir os momentos mais nefastos da polĂtica brasileira. Isso Ă© terrĂvel. Assustador”, analisou.
Luiz Fernando deu sua opiniĂ£o sobre os candidatos que jĂ¡ passaram pelo cargo de senadores e quem novo mandato de oito anos.
“Tem candidato ao Senado que passou a legislatura ajudando na construĂ§Ă£o de um conjunto jurĂdico que desmontou o mundo do trabalho e agora diz que vai defender a Zona Franca para garantir geraĂ§Ă£o de emprego e renda para o Amazonas. Isso Ă© um engodo. VocĂª nĂ£o pode cair nessa”, declarou.
“Portos construĂdos sĂ£o maquiagens (…) SĂ£o quimeras, que precisam ser desmontadas”
Alfredo Nascimento
“Tem um falando do que ele fez: 42 portos construĂdos no interior do Amazonas. E aĂ ele me diz que a saĂda Ă© a BR-319 e que lutou pela BR-319. Portos construĂdos sĂ£o maquiagens. Portos eram para escoamento de produĂ§Ă£o, para desenvolvimento tecnolĂ³gico como tem o Porto de Santos. Esses portos sĂ£o quimeras, que precisam ser desmontadas. É terrĂvel”, declarou.
Vanessa Grazziotin
Luiz Fernado disse reconhecer que polĂticas econĂ´micas do PaĂs melhoraram a vida das pessoas mais pobres, mas afirmou que a polĂtica salarial poderia ter sido melhor e ter diminuĂdo a diferença de renda entre as classes sociais.
“E a senadora (Vanessa Grazziotin) apoiava essa polĂtica. A polĂtica de salĂ¡rio, a polĂtica para a universidade. que veio no desmonte do trabalho docente. A senadora nĂ£o fez a crĂtica disso, ela apoiou esse projeto”, declarou.
O outro que jĂ¡ foi governador e hoje Ă© senador e que promete geraĂ§Ă£o de emprego e renda, a defesa da ZFM esteve Ă frente de um partido que promoveu uma infecĂ§Ă£o profunda na polĂtica brasileira (…) Esse candidato Ă© ponta de lança desse partido que tem desmontado a vida da naĂ§Ă£o
Eduardo Braga
“O outro que jĂ¡ foi governador e hoje Ă© senador e que promete geraĂ§Ă£o de emprego e renda, a defesa da ZFM esteve Ă frente de um partido que promoveu uma infecĂ§Ă£o profunda na polĂtica brasileira. Ainda hoje pela manhĂ£ o presidente do partido dele anuncia uma mudança na lei orgĂ¢nica da assistĂªncia social, que fere de morte o SUS. O SUS deixarĂ¡Â de ser universal. Esse candidato Ă© ponta de lança desse partido que tem desmontado a vida da naĂ§Ă£o”, declarou.
Para Luiz Fernando, Eduardo Braga nĂ£o representa os interesses da populaĂ§Ă£o amazonense: “Ele nĂ£o nos representa do ponto de vista daquilo que a periferia da AmazĂ´nia vive, a massa de trabalhadores, indĂgenas, cabocos do Estado do Amazonas necessitam. Ele nĂ£o nos representa”, disse.
Defender a ZFM, para que efetivamente seja capaz de promover o desenvolvimento local, significa defender no Senado a revogaĂ§Ă£o de um conjunto de reformas que atingiram profundamente os trabalhadores.
Projeto alternativo
Luiz Fernando Ă© professor do curso de CiĂªncias Sociais da Ufam e da UEA e tem estudos sobre a AmazĂ´nia e disse que a candidatura dele representa um coletivo do PSOL que quer discutir alternativas polĂticas para a AmazĂ´nia.
“Minha candidatura nĂ£o Ă© um projeto individual. Nasce a partir de um diĂ¡logo de correntes do interior do PSOL que acreditam que Ă© possĂvel construir um projeto alternativo à  esquerda para a AmazĂ´nia e para o Amazonas”, disse.
Luiz Fernando disse que a sua principal proposta Ă© a inclusĂ£o da populaĂ§Ă£o nas polĂticas pĂºblicas de governo. “Proposta de uma alternativa de modelo econĂ´mico, que as propostas de segurança pĂºblica sejam pensadas nĂ£o pela criminalizaĂ§Ă£o da periferia, que a negritude, LGBTS, mulheres, etc, possam se sentir seguras e humanizadas neste sentido”, disse.
O candidato disse que defende a revogaĂ§Ă£o de reformas que prejudicaram a populaĂ§Ă£o brasileira. “Porque defender a ZFM, para que efetivamente seja capaz de promover o desenvolvimento local, significa defender no Senado, e Ă© isso que nos propomos, defender a revogaĂ§Ă£o de um conjunto de reformas que atingiram profundamente os trabalhadores: reforma trabalhista, reforma do ensino mĂ©dio, a proposta de reforma da previdĂªncia”, disse.
Nos anos 80, 80, a esquerda se identificava com a periferia e a periferia se identificava com a esquerda. Isso desapareceu. NĂ³s perdemos espaço para o discurso conservador
Contradições da esquerda
Luiz Fernando foi questionado sobre as divergĂªncias de opiniões, declarações e posturas entre os candidatos majoritĂ¡rios do PSOL nas Eleições 2018.
“NĂ£o diria um racha, diria diferença de concepĂ§Ă£o de sociedade e das tĂ¡ticas para a construĂ§Ă£o de tĂ¡ticas para uma sociedade que seja diferente do que nĂ³s temos (…) Eu diria que a gente nĂ£o tem convergĂªncia na educaĂ§Ă£o, segurança pĂºblica, projeto de desenvolvimento da AmazĂ´nia”, disse.
As divergĂªncias de discursos, Luiz Fernando atribuiu a uma amadurecimento que ainda nĂ£o ocorreu nem nos partidos de esquerda desde as manifestações de junho de 2013.
“A esquerda ainda estĂ¡Â aprendendo a fazer a leitura da mudança radical que ocorreu na sociedade brasileira. O junho de 2013 nĂ£o acabou, ainda estĂ¡Â tendo rebatimento. E por que digo isso? Porque tivemos em vĂ¡rios pontos do PaĂs, ocupaĂ§Ă£o de escolas, de universidades, a primavera feminista e o PSOL na esteira dessas grandes transformações esteve colado. A candidatura da Luciana Genro era a expressĂ£o dessas lutas (eleiĂ§Ă£o de 2014)”, avaliou.
Luiz Fernando disse que candidaturas que destoam das bandeiras e estatutos dos partidos de esquerda ocorrem em funĂ§Ă£o da falta de discussĂ£o de projetos que sintonizem a polĂtica com a necessidade da populaĂ§Ă£o.
“Falta discutir um projeto que se sintonize com as contradições da vida como de fato ela Ă©, da concretude da vida (…) Se vocĂªÂ lembrar nos anos 80, anos 90, a esquerda tinha um trabalho na base com a periferia. Trabalho de nucleaĂ§Ă£o na periferia. A esquerda se identificava com a periferia e a periferia se identificava com a esquerda. Isso desapareceu. NĂ³s perdemos para o discurso conservador, o espaço e a presença na base, na periferia. Isso precisa ser reconstruĂdo”, declarou.
Senado é um lugar extramente elitizado do ponto de vista politico, do poder econômico e familismo.
Senado
Luiz Fernando afirmou que o Senado nasceu na monarquia, na primeira ConstituiĂ§Ă£o, e sĂ³ quem poderia ocupar o cargo eram os “senhores justos” e “donos das grandes riquezas”.
O sociĂ³logo candidato afirmou que a RepĂºblica e as constituições foram aprimorando essas estruturas, mas muito da tradiĂ§Ă£o permaneceu.
“Muito disso permaneceu do ponto de vista cultural. Existem estudos que mostram que chapas ao Senado, na sua grande maioria, Ă© composta por alguĂ©m que tem tradiĂ§Ă£o na polĂtica. A suplĂªncia é composta por empresĂ¡rios: 35% sĂ£o compostas assim. Senado é um lugar extramente elitizado do ponto de vista politico, do poder econĂ´mico e familismo.”, disse.
Luiz Fernando conclui que a caracterĂstica do Senado brasileira Ă© herança histĂ³rica. “Isso nĂ£o é algo acidental Ă© parte da herança monĂ¡rquica que temos”, disse.
Foto: BNC
Assista na Ăntegra a entrevista do candidato ao Senado do PSOL, Luiz Fernando: